quinta-feira, 1 de maio de 2014

A máquina dos milagres



A fila chegava a cinco quadras a partir da porta de entrada da lojinha de xerox. 

Os primeiros estavam no local desde a madrugada. Todos com o mesmo propósito: pagar por uma consulta com a máquina de fotocópias que passou a prever o futuro. A notícia se espalhou rapidamente pela cidade depois que uma mulher foi até o local solicitar um serviço simples mas recebeu da copiadora, de forma inexplicável, a frase: “Hoje é o seu dia”. 

E atribuiu aquilo a um milagre. Depois disso, o equipamento continuou nessa rotina, imprimindo apenas mensagens a quem apertasse o botão.

Os olhos do dono da lojinha de xerox brilharam com o inusitado. Ele viu a oportunidade de ficar rico vendendo a consulta e elevou o preço da cópia de R$ 0,50 para R$ 50,00. O público soube da façanha pelo boca a boca e passou o final de semana nas calçadas, à espera de uma mensagem de felicidade, sorte, paz. Cada um com o seu desejo na ponta a língua.

– Quero saber quando vai sair o dinheiro da minha ação na Justiça.
– Se o meu filho vai arrumar emprego.
– Não quero ficar solteira. Vou perguntar quando chegará minha vez de subir ao altar.
– Um título para o meu time. Quando vamos ganhar alguma coisa.
Enfim, os pedidos se multiplicaram, de vários tipos, para todos os gostos. O proprietário da lojinha olhava o relógio e não via a hora de abrir a porta, às 8h, e começar a faturar. Seus cálculos apontavam lucro diário de R$ 50 mil. Por isso, cercou a máquina com caixas e mais caixas de papel, enquanto os seguranças contratados tentavam acalmar a multidão, já bastante nervosa.

E no meio de tanta gente surgiu o estagiário da lojinha da xerox, responsável por fazer as fotocópias, completamente alheio ao que estava acontecendo. Sua cabeça ainda adolescente estava em outro mundo e ao ver tantas pessoas pensou apenas que aquele seria um dia de muito trabalho. Não sabia do milagre nem dos planos do patrão.

O estagiário levou vários empurrões até conseguir entrar. Dentro da loja cumprimentou os colegas, o chefe e se dirigiu até a máquina. Com fones no ouvido, desligou e ligou o equipamento. Era um hábito, sempre fazia isso quando chegava. E o equipamento deixou de emitir mensagens para voltar a ser uma simples fotocopiadora.

Essa história tem dois finais.

No primeiro, o estagiário acorda dois dias depois em uma cama de hospital, onde é informado da destruição da loja pelos clientes.

No segundo final, o estagiário corre perseguido pela multidão, que quer xerocar cada parte do seu corpo, e a máquina emite uma nova mensagem:
- Essa gente acredita em qualquer coisa hoje em dia.


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