sexta-feira, 14 de março de 2014

O efêmero e a eternidade



No meio de tantas outras matérias interessantes, aquela teve pouco tempo de duração, mas uma intensidade que deixou no ar o famoso gostinho de "quero mais": um artista americano se especializou em fazer desenhos na areia da praia de mar, num espaço relativamente pequeno, mas, onde, durante o dia, as próprias águas permitiam que as mais diferentes formas fossem moldadas e, dos mais diferentes ângulos, despertassem a admiração pelo refinamento e a graciosidade do traçado.

No final do dia, no entanto, a maré subia e, gradativamente, lambia a areia, até consumir todas as formas, devolvendo ao artista uma tela em branco pronta para ser novamente trabalhada, desafio para saber que não haveria repetição, mas, dia após dia, nem que fosse apenas por um detalhe, o tributo à beleza e à harmonia estaria sendo feito da forma mais corriqueira que a natureza nos apresenta: diante do efêmero, aquilo que faz sentido, porque guardamos em nossas lembranças ou no dizer do artista: 

"Mesmo que fiquemos tristes por aquilo que se foi, também agradecemos pela chance que tivemos de fazê-lo pulsar ao menos uma vez, durante um dia".

Estar diante da doença é mais ou menos assim: perdemos qualidade de vida quando olhamos para o que já passou e ficamos fazendo conta das "perdas" que a natureza nos fez sentir em nossos corpos. Ou mesmo quando olhamos para o futuro e nos angustiamos com as possibilidades que ainda estão por vir

 - as inúmeras alternativas, sendo que, na nossa balança, sempre há um peso desproporcional para aquilo que pode dar errado. Como o mar que nos concede a praia limpa para o desenho deste dia, esquecemos que, também, temos "o hoje" para viver e saborear avidamente, como o caldo da fruta que escorre por entre nossos lábios, brinca em nossos dedos formando momentos únicos, inegociáveis com a eternidade!

Que importa o nome da doença com a qual a natureza nos brindou? Que importa se a máquina do tempo nos provoca pois pode apressar a vinda da maré? O que importa se ainda não entendemos aquilo que consideramos "desígnios de Deus"? No escrever da história, o que importa é apenas que durmamos com o sentido de encontrar uma nova "praia em branco". 

A provocação vai ser a nossa capacidade de reescrever, sempre de novo, os traços que renovam nossas relações, acalmam nossas almas e, ao final, nos dizem que valeu a pena pois, o espírito leve e solto, diz que demos sentido pleno a mais um dia das nossas existências!


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2 comentários:

  1. "O que importa se ainda não entendemos aquilo
    que consideramos "desígnios de Deus"?"

    Com certeza para nós apenas importa sabermos
    que estamos seguindo o caminho certo.

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  2. Bom dia,
    Somos muito apegados ao que vemos, ao que podemos tocar. Acredito que em tudo, até mesmo nas mais terríveis aflições existe um propósito de Ensinamento para nosso crescimento espiritual.
    Muito bom o texto, parabéns.
    Bjs
    Lúcia

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