quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

A carreira de professor brasileiro...

Durante a infância não existe uma criança que, ao menos uma vez, não brinque de ser professor. Nesta fase a arte de ensinar parece algo distante, como brincar de ser adulto. Talvez por isso as atraia tanto. Imitando os seus professores em uma sala de aula de mentirinha, no entanto, são elas – e não a famosa “gente grande” - que nos mostram o essencial: o quanto valorizam aqueles que, em muitos momentos, fazem o papel de pais, tios, amigos, além, é claro, de mestres.

Em tempos de desvalorização profissional, onde educadores contam com baixos salários, muitas horas de trabalho e famílias enfurecidas tentando encontrar na escola o que faltou em casa, o mundo deveria se voltar para o que as crianças pensam de seus professores.

Só que isso não acontece. O tempo passa, a desvalorização continua. As crianças crescem, perdem a pureza que lhes é característica, e passam a enxergar a forma com que o educador é tratado em nosso país – que nem precisa ser detalhada aqui, já que é algo que todo mundo lamenta, mesmo que poucos façam algo para mudar a situação. E é neste momento que o quadro se inverte e o que fica distante é o sonho de ser professor.

Uma pesquisa realizada pelo Nube – Estagiários e Aprendizes lançou a seguinte pergunta na internet: “Você tem vontade de ser professor de ensino fundamental ou médio?” A enquete contou com a participação de 6.910 internautas, em 11 dias durante o mês de dezembro, e teve como alternativas “Sim, tenho vocação para ensinar”, “Já tive vontade, mas desisti pelas más condições”, “Não, é uma profissão cada vez menos valorizada” e “Sim, apesar de ter um baixo salário”.

Não é surpresa que as opções negativas tenham sido maioria. Juntas totalizaram 59,77% dos votos. Embora de acordo com dados do Censo Inep/MEC 2012, os alunos dos cursos de licenciatura – que preparam os estudantes durante a graduação para se tornarem professores – representem 19,5% dos 7.037.688 matriculados no Ensino Superior, pesquisas revelam a cada dia o desinteresse pela profissão.

De acordo com o Ministério da Educação (MEC), existe no Brasil um déficit de 170 mil posições, somente nas áreas de Matemática, Física e Química. Outro dado preocupante, apontado pelo Inep, mostra que 53,5% dos docentes do ensino médio público e particular não têm o diploma de licenciatura. 

Levantamentos que, no mínimo, nos fazem refletir sobre um possível sumiço da carreira ao longo dos anos.

Em todo o Rio Grande do Sul, o ano de 2013 comprovou que a situação não é diferente. Em Pelotas, alunos da Escola de Ensino Fundamental Bibiano de Almeida chegaram a fazer um protesto em julho pela falta de professor de Matemática desde março. Na Escola de Educação Infantil Vinícius de Moraes a diretora foi agredida pela prima de um aluno em novembro, entre tantas outras que ocorreram país afora...

Há anos as paralisações dos educadores geram revolta em parte da sociedade, que gostaria que os professores conquistassem um salário melhor desde, é claro, que as reivindicações não atrapalhem o ano letivo dos filhos. E os governantes...bom, das promessas deles envolvendo o piso todos sabem...

Mesmo com baixos salários e vivendo constantemente situações de desrespeito, muitos professores se superam. Investem do próprio dinheiro para uma educação melhor. Trabalham até adoecer – muitos de tristeza. Se envolvem, emocionalmente inclusive, com as famílias dos alunos. E é por eles que a situação deve mudar.

 O ano letivo que inicia no fim de fevereiro precisa ser mais do que nunca o ano da educação, o despertar da sociedade para a recuperação de valores que nos mostram que passar sabedoria adiante é um dom, provavelmente o maior deles, mas não precisa nem deve ser sacrifício.
Senão a gente corre o risco do sinal bater e os alunos estarem em sala de aula, mas o professor não.



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Um comentário:

  1. Mais do mesmo. A realidade triste de uma sociedade decadente, muito bem retratada nessas linhas.

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