quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Repetições do velho Brasil

Renan Calheiros é alvo de denúncia enviada ao Supremo Tribunal Federal (STF) pela Procuradoria Geral da República e pode assumir como presidente do Senado Federal na sexta-feira
Será uma vergonha para o Brasil se, na sexta-feira, o Senado Federal escolher como seu novo presidente Renan Calheiros (PMDB), considerado favorito na disputa. Vamos relembrar. O candidato declarado é alvo de denúncia enviada ao Supremo Tribunal Federal (STF) pela Procuradoria Geral da República. Denúncia esta, na avaliação do titular do órgão, Roberto Gurgel, "extremamente consistente". O caso refere-se ao período em que o senador foi acusado de não conseguir comprovar a origem de sua renda. Calheiros apresentou notas de vendas de bois para justificar sua situação financeira no pagamento de pensão à jornalista Mônica Veloso, com quem tem uma filha. A situação envolve ainda o pagamento de despesas por um lobista da empreiteira Mendes Júnior.
O episódio remete a 2007 e levou Renan Calheiros a renunciar à presidência do Senado para evitar a cassação. E seis anos depois, o homem que abriu mão do posto para não perder tudo, retornou e tenta voltar ao mesmo posto pelo voto dos colegas.
O novo presidente do Senado Federal será eleito nesta sexta-feira. O eleito precisará obter a maioria dos votos - a votação será secreta - durante reunião preparatória às 10h, quando deverão estar presentes pelo menos 41 senadores, a maioria da Casa. O processo ocorrerá em turno único e a possibilidade de um novo pleito só existe no caso de empate entre dois ou mais candidatos.
Mesmo com toda essa situação incômoda, de voltar a enfrentar denúncias e investigação, o presidente do PMDB, senador Valdir Raupp (RO), declarou no começo da semana que o envio da denúncia ao STF não constrange o partido. Deveria. Assim como deveria se constranger também pelas acusações feitas ao deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ). O principal candidato a líder da bancada do PMDB na Câmara pode ter usado documentos falsos para se livrar de um processo no Tribunal de Contas do Estado (TCE) do Rio de Janeiro. Essa votação ocorre no domingo e o deputado é o favorito para comandar a segunda maior bancada da Câmara dos Deputados, decisiva nas votações a favor do governo. A falsificação de assinaturas de documentos anexadas por ele ao processo que responde foi atestada por laudo do Instituto de Criminalística.
O Brasil tem o costume de surpreender o Brasil. Quando bons exemplos surgem, velhos problemas são resgatados, exemplos de um país que tem enorme dificuldade para se livrar da má política e de todas as suas engrenagens de bastidores. O velho Brasil que, na sexta, poderá alçar Renan Calheiros à presidência do Senado, um cargo que também pode presenteá-lo, temporariamente, com o posto de presidente do país.
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quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Saudade, o mais brasileiro dos sentimentos

No dia 30 de janeiro celebra-se o Dia da Saudade, sentimento que serve para mostrar que estamos vivos e que tudo que vivemos foi válido
“Saudade amor, que saudade
Que me vira pelo avesso, e revira meu avesso
Puseram uma faca no meu peito
Mas quem disse que eu te esqueço
Mas quem disse que eu mereço.” Dona Ivone Lara, sambista.

Saudade, do latim solitate, que na tradução literal significa solidão, existe apenas em uma única língua, a portuguesa. No entanto, a saudade significa mais do que solidão. Saudade é a falta de algo ou alguém, é a nostalgia do passado. Ou, como está definida no dicionário, saudade é a lembrança melancólica e, ao mesmo tempo, suave, de pessoas ou coisas distantes ou extintas.

No dia 30 de janeiro no Brasil é comemorado o Dia da Saudade. Essa expressão tão brasileira está presente na vida de todas as pessoas, de alguma forma. Mas falaremos da saudade de quem está longe das terras brasileiras, como a estudante do curso de teatro da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Monique Carvalho, de 22 anos, intercambista pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) em Coimbra, Portugal, há cinco meses.

Longe de casa
Monique, como a maioria dos brasileiros que estão longe de suas casas, relata sobre o sentimento ao estar longe de sua terra. “Sinto falta de tanta coisa, mas principalmente a saudade dos amigos e da família. Sinto falta da rotina que eu tinha aí, onde eu fazia tudo que eu mais gostava de fazer, pois aqui, querendo ou não, é diferente. Sinto saudade do feijão e dos peixes que minha mãe fazia. Sinto vontade de comer açaí com paçoca, que não tem aqui. Sinto falta das festas brasileiras, com músicas brasileiras.”

E para driblar a saudade de casa, Monique acrescenta: “primeiramente, eu evito ficar sozinha e os amigos me ajudam muito nisso. Tenho tentado fazer muitas coisas ao mesmo tempo, pois tento deixar minha mente ocupada, para que o assunto não me venha à cabeça, pois quando vem... vem! Muitas vezes é na hora de dormir que os pensamentos têm liberdade, que geralmente o Brasil me vem à mente”. O jeito é aceitar que a saudade existe e quando ela vem, ou curtimos a nostalgia, ou tentamos achar um jeito de nos esconder dela por alguns instantes.

A companheira
Na música, a saudade é um belo instrumento para compositores, não faz mal algum, e eles esbanjam melodias onde a protagonista é a nossa “companheira” saudade. Mestres como Vinicius de Moraes e Tom Jobim compuseram um hino à lembrança em Chega de saudade, onde cantam: “Chega de saudade/A realidade é que sem ela não há paz/Não há beleza/É só tristeza e melancolia/Que não sai de mim, não sai de mim, não sai”.

Para quem está fora do país, longe da família e dos amigos, a certeza de que a saudade tem data para acabar é algo que ajuda muito as pessoas a aguentar esse sentimento tão belo e ao mesmo tempo dolorido, que nos mostra através da famosa “sensação de vazio no peito” o que realmente importa e o que mais nos faz falta no cotidiano. “A perspectiva da volta ajuda bastante, só de saber que vamos ver a família e os amigos em breve, a saudade já diminui e nos acostumamos com ela”, desabafa Lucas Galho, de 25 anos, colega de Monique.

A saudade está aí para quem tem sentimentos. Mesmo que seja a pessoa mais racional do mundo, ela também sente ou já sentiu saudades. É um sentimento que não livra ninguém. Simplesmente acontece. Ela serve, na maioria das vezes, para mostrar que estamos vivos e que tudo que vivemos foi válido. Como diz o escritor espanhol Carlos Ruiz Záfon, “só existimos enquanto alguém nos recorda”.
Por: Mayara Fernandes.
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terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Os que devem morrer

A ciência prolonga a vida dos homens; a economia liberal recomenda que morram a tempo de salvar os orçamentos.

 O Ministro das Finanças do Japão, Taso Aro, deu um conselho aos idosos: tratem logo de morrer, a fim de resolver o problema da previdência social. Este é um dos paradoxos da vida moderna.

Estamos vivendo mais, e, é claro, com menos saúde nos anos finais da existência. Mas, nem por isso, temos que ser levados à morte. Para resolver esse e outros desajustes da vida moderna, teríamos que partir para outra forma de sociedade, e substituir a razão do “êxito” e da riqueza pela ética da solidariedade.

Ocorre, que nem era necessário que esse senhor Taso Aro – que, em outra ocasião, ofereceu o Japão como território seguro para os judeus ricos do mundo inteiro – expusesse essa apologia da morte.

A civilização de nosso tempo, baseada no egoísmo, com a economia servidora dos lucros e dos ricos, e, sobretudo, dos banqueiros, é, em si mesma, suicida. É claro que, ao convidar os velhos japoneses a que morram, Aro não se refere aos milionários e multimilionários de seu país.

 Esses dispensam, no dispendioso custeio de sua longevidade, os recursos da Previdência Social e dos serviços oficiais de saúde de seu país. Todos eles têm a sua velhice assegurada pelos infindáveis rendimentos de seu patrimônio.

Os que devem morrer são os outros, os que passaram a vida inteira trabalhando para o enriquecimento das grandes empresas japonesas e multinacionais. Na mentalidade dos poderosos e dos políticos ao seu serviço, os homens não passam de máquinas, que só devem ser mantidos enquanto produzem, de acordo com os manuais de desempenho ótimo.

Aso, em outra ocasião, disse que os idosos são senis, e que devem, eles mesmos, de cuidar de sua saúde. Não podemos, no entanto, ver esse desatino apenas no comportamento do ministro japonês, nem em alguns de seus colegas, que têm espantado o mundo com declarações estapafúrdias. O nível intelectual e ético dos dirigentes do mundo moderno vem decaindo, velozmente, nas últimas décadas. Não há mistério nisso.

 Os verdadeiros donos do mundo sabem escolher seus serviçais e colocá-los no comando dos estados nacionais. São eles, que, mediante o Clube de Bielderbeg e outros centros internacionais desse mesmo poder, decidem como estabelecer suas feitorias em todos os continentes, promovendo a ascensão dos melhores vassalos, aos quais premiam, não só com o governo, mas, também, com as sobras de seu banquete, em que são servidos, além do caviar e do champanhe, o petróleo e os minérios, as concessões ferroviárias e nos modernos e mais rentosos negócios, como os das telecomunicações.

A civilização que conhecemos tem seus dias contados, se não escapar desses cem tiranos que se revezam no domínio do mundo.

Mauro Santayana.

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Sobreviventes: Crônica de um médico



Tenho teorias, sim, tenho algumas, como todos. Uma delas diz que a gente tem três fases na vida. A primeira vai até nascerem os filhos; a segunda vai até a gente encaminhá-los e a terceira fase começa ou recomeça a dois, só que mais velhos.
 
Grande parte de nós sucumbe antes de se completar a segunda fase.
 
 Uma inhaca bateu na gente, no meio médico, neste final de ano quando um grande número de médicos e familiares foi acometido de doenças gravíssimas, algumas rapidamente fatais. A gente, que cuida de gente, evidentemente não está imune a nada. Pelo contrário, visceralmente iguais padecemos das mesmas dores.
 
Na verdade cinquentões ou sessentões, apenas engrossamos as frias estatísticas que mostram que, como gado, seremos embretados, cedo ou tarde, aleatoriamente. Não temos cartões de benefícios e nem poderíamos ter, nem queremos ter porque quando nossos amigos se vão, a gente entende que nossa viagem já está marcada e a passagem também foi comprada.
 
Até os quarenta anos a principal razão de morrer é trauma. Entre os quarenta-sessenta são as causas cardiovasculares. Depois, aos sessenta, as causas de morrer incluem os tumores. Eu, aos cinquenta e cinco, sou uma bomba ambulante que explodirá em um momento qualquer. Alguma coisa vai acontecer e sem previsão.
 
 Não tenho ilusões, meu momento vai chegar, como a todos. Mas, não irei assim, sem vingança. Ela, minha vingança, já começou. Sim, estudei a morte e estudei a vida. Ela, a morte, solerte, não me pegará de pernas curtas. Sorrirei e direi: demorou, hein! Não me verá chorando e nem arrancando os cabelos. Verá um cara jocoso, debochado e irônico. Isso porque minha vingança inclui férias todos os dias de minha existência. Férias quando escrevo, leio, assisto ao futebol, quando corro ali no quartel, quando trabalho, quando jogo conversa fora, quando tomo minha cervejinha.
 
A vida é um presente, não é mesmo? E fui ensinado que quando a gente ganha um presente o melhor que se tem a fazer é aproveitá-lo. É o que faço. Quando a morte chegar perguntarei: tá na hora? Direi: sabe o que eu penso de ti, dona morte, penso que tu és muito infeliz ou, pelo menos, sádica e ensandecida, fria e despudorada assim como as gurias que a gente conheceu na zona. Sim, zona, houve um tempo em que havia isso.
 
Quando será que a morte vai encontrar a morte? Minha nova teoria diz que somos sobreviventes após os cinquenta e poucos anos. Todos os dias tenho teorias, na maioria, idiotas. Mas são minhas, pertencem a minha existência. Sonho em matar a morte... claro, pura estupidez; é só mais uma teoria de um médico que carrega uma bomba, sem data exata para explodir.
 
A vida é boa, mas tem que ser vivida todos os dias, assim como férias que também tem de ser aproveitadas diariamente. É a única maneira de encarar a morte, ou seja, a boa vida. Dar à morte a certeza de que tudo o que poderia ter sido, foi e foi plenamente.
 

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Viver com as diferenças

O assunto é recorrente e faz parte do cotidiano.
Fala-se e escreve-se muito sobre as diferenças no que se refere à raça, religião, opção sexual, entre outras. É sempre uma questão de relacionamento, nem sempre harmonioso.

 Como seres humanos, nós somos semelhantes no que em relação à espécie, mas diferentes individualmente, pois cada um é único, com características próprias, portanto, inigualável.

Este ponto de vista não se opõe à idéia de que o diferente seja tratado como tal, mesmo porque, em se referindo à instrução há casos de alunos que precisam de atenção distinta em sala de aula. A discussão que aflora nesse contexto é a inclusão, um assunto sempre polêmico porque não se trata de simplesmente inserir uma pessoa com alguma característica diferenciada em uma sala de aula normal.

Isso, por si só, não quer dizer inclusão de fato. Há poucos dias uma notícia televisiva chamava atenção porque um prefeito estaria extinguindo uma escola de atendimento especial e os profissionais que lá trabalhavam seriam transferidos para outros estabelecimentos de ensino padrão.

 Obviamente a iniciativa sofreu críticas de pais dos alunos, dos profissionais e da comunidade. Estaria o prefeito baseado na idéia da inclusão no entendimento acima referido?

O sistema de cotas raciais e outros instrumentos de seleção instituídos pelas autoridades educacionais têm na sua essência o pressuposto de diminuir as diferenças entre os concorrentes ao acesso à Universidade. Obviamente que quando medidas dessas são tomadas, geram controvérsias, inclusive entre os próprios beneficiados.

Viver as diferenças também tem a ver em aceitar algumas convenções estabelecidas pela sociedade como uniões conjugais de sexos iguais, de configurações e formatações familiares outras do que a tradicional.

Viver com as diferenças é ter que engolir tantas barbaridades como só ia acontecer no campo da política partidária.

Coligações entre, ontem inimigos, hoje são comuns sempre tendo em vista chegar ao pódio - poder. Nessas circunstâncias vale tudo, até mesmo se preciso for, “incluir o pai e a mãe no negócio”.

Os envolvidos se esquecem das diferenças, de ontem, das inimizades do passado e tudo o mais, apenas por interesses afins.

Viver com as diferenças, agora que estamos passando por um momento sui generis de eleições extemporâneas na cidade, é aceitar os candidatos concorrentes ao executivo mesmo que eles não nos sejam plenamente do nosso agrado. Foram legitimadas, pelas suas coligações, duas duplas cada uma querendo ascender às escadas do Paço Municipal.

 Já ouvi de pessoas dizendo que não votarão em nenhuma delas, porque, ou não simpatizam com o candidato a prefeito da chapa A e, nem com o do vice da B, ou vice versa. E, como votar ou não é uma opção pessoal os que pensam assim merecem respeito.

São interpretações diferentes de outras e por causa das diferenças, não apenas as acima referidas, mas as de opiniões, de empatia, ou não, cada qual tem o livre arbítrio de escolher – um direito inalienável de liberdade individual.

Para finalizar, é possível viver feliz tomando ciência de notícias do tipo: Parlamentares gastam mais de um milhão de reais (dinheiro público, óbvio) na instalação de banheiras de hidromassagem enquanto falta dinheiro para suprir tantas outras necessidades.

Este acinte, por si só é tema para outro texto. É possível aceitar tanta diferença, ou melhor, diferenças, injustiça, deboche, escárnio de quem deveria dar o exemplo?

 Por: Neivo Zago.

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domingo, 27 de janeiro de 2013

Alienação Parental, um mal silencioso

 
 
 
Segundo os estudiosos, a alienação parental constitui-se em programar a criança para odiar o outro genitor Um assunto tem chamado cada vez mais a atenção de advogados, juízes, promotores, psicólogos, psiquiatras e assistentes sociais. Trata-se da alienação parental.

O conceito é recente, mas, essa forma comportamental está inserida na sociedade há muito tempo. E, justamente, pela novidade em relação à conceituação deste comportamento, muitas pessoas não conseguem compreender no que consiste a alienação parental. Em 1985, a alienação parental foi diagnosticada como uma síndrome (Síndrome da Alienação Parental - SAP), conforme descrição feita pelo psiquiatra norte-americano Richard Alan Gardner, como “um transtorno caracterizado pelo conjunto de sintomas que resultam do processo pelo qual um genitor transforma a consciência de seus filhos, mediante distintas estratégias, com o objetivo de impedir, obstaculizar ou destruir seus vínculos com o outro genitor“.

Segundo os estudiosos, a alienação parental constitui-se em programar a criança para odiar o outro genitor, de forma que, com o passar do tempo e com a repetição deste comportamento, o sentimento de ódio e repúdio acaba inserido no inconsciente infantil de tal forma, que a criança o sente e o vivencia como se o ódio, ao pai ou mãe, fosse dela. Por isso, ela representa uma campanha velada (às vezes, nem tanto) de desconstituição do sujeito, por parte do alienador, obrigando o alienado a conviver com a mentira e com a manipulação da verdade.

Vários são os relatos de casos em que nenhuma das partes envolvidas ou mesmo especialistas davam-se conta de sua existência. Entretanto, silenciosamente, a alienação parental espalhava seus nefastos efeitos pelas famílias, desestruturando-as e acabando com as relações familiares.

Inomináveis são os danos emocionais e psíquicos causados nas crianças e nos adolescentes, pois, os filhos tornam-se instrumento na mão do genitor alienante, para a destruição do outro. Fica o alerta, pois consegue alienar quem tem ascendência sobre a criança, não sendo, necessariamente, alienador apenas o genitor que tem a guarda dos filhos.

Alguns estudos comprovam como alienador o genitor que não residia com a criança. A lei 12.318, de 2010, foi inovadora, conceituando e reconhecendo a Alienação Parental e a Síndrome da Alienação Parental, inserindo-as no Direito brasileiro e inclusive prevendo punições para seus praticantes.

O problema da alienação parental começa a receber a devida atenção do Poder Judiciário, mas não pode ser visto pelos advogados como uma questão de menor importância, eis que não trata, apenas, de fato jurídico, mas também, de fato social relevante e gravíssimo, pois acaba distorcendo o verdadeiro papel dos pais e causando danos ao psicológico das crianças, que podem ser muito difíceis de serem revertidos.

Por: Márcio Sequeira da Silva.

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sábado, 26 de janeiro de 2013

O trânsito precisa ser um assunto discutido


É visível: nos últimos quinze anos, o trânsito mudou. Nesse período, a frota gaúcha mais do que dobrou. Hoje, são mais de cinco milhões de veículos circulando e mais de quatro milhões de condutores. O trânsito tornou-se mais do que complexo: ganhou status de ciência e vários de seus ramos tornaram-se especializações universitárias. Em seu aspecto mais violento, o trânsito tornou-se também uma calamidade pública, reconhecida pela Organização das Nações Unidas como epidemia mundial.  
Espelho da sociedade em que está inserido, o trânsito de hoje reflete toda a complexidade da sociedade moderna e das relações entre as pessoas. Em diversos aspectos, o Código de Trânsito Brasileiro antecipou-se às mudanças sociais que se refletiram no espaço de convívio a que chamamos trânsito. Na terça-feira, 22, completou-se 15 anos de sua vigência, trazendo vários debates e algumas certezas.        

Dentre as certezas, a principal é a de que, nesse período, o trânsito ganhou espaço de discussão, saiu das sombras e está sendo dissecado à luz do dia, mostrando suas fragilidades e seus problemas, mas também suas potencialidades e possibilidades de recuperação. As questões de trânsito são pauta obrigatória de qualquer órgão de imprensa responsável, de qualquer governo sério, de qualquer educador comprometido. Tema de nível planetário - do ponto de vista ecológico, sociológico, econômico - o trânsito bebe das fontes de diversas áreas do conhecimento.        

O etnólogo francês Marc Augé, por exemplo, introduz o importante conceito de não-lugar, espaço que se opõe ao lar, ao espaço personalizado, privado. O não-lugar é por definição um espaço público de passagem, de contatos breves e epidérmicos, tal como shoppings e estações, em que o ser humano se sente ainda mais só, por se perceber um ninguém junto a muitos outros seres humanos igualmente indiferenciados. Ele sente necessidade, em espaços assim, de impor sua individualidade, valorizando símbolos como cartões de crédito ou a carteira de motorista. Daí podemos intuir que, quanto mais impessoal e anódino for o espaço público, mais os seres humanos que nele circulam tenderão a comportamentos fora do padrão - seja pichando uma parede, seja desrespeitando leis de trânsito.        

Conhecimentos como esse nos autorizam a avançar mudanças. Se o nascimento do CTB, há 15 anos, abriu espaço para questionamentos e muitos debates, hoje vivemos a época da consolidação das normas, estas consideradas como o social resolvido, a problemática já solucionada e cristalizada. O desafio está, porém, em aplicá-las da forma mais adequada aos seres humanos que somos - caso contrário, elas serão letra morta ou, pior, instrumentos de domínio, a exigir constante controle dos corações e das mentes. Precisamos trabalhar o trânsito com a amplitude que lhe é própria, humanizando-o, tornando-o inclusivo, possibilitando protagonismo e expansão humana de todos e de cada um. No dia em que o conseguirmos, infrações e os consequentes acidentes não serão mais do que histórias de um passado que ninguém gostará de recordar.          


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sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

País rico e cobiçado


Um país africano, Mali, está ocupando espaços nas editorias internacionais, em função da intervenção militar francesa, no país que já foi sua colônia. O governo socialista (?) de François Hollande tem apoio de outros integrantes da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).        

O secretário da Defesa dos EUA, Leon Panetta, confirmou o que se sabia, ou seja, que os EUA colocaram à disposição dos franceses o setor de inteligência. Já o Canadá, a Bélgica, a Dinamarca e a Alemanha também apoiaram, publicamente, a incursão francesa, prometendo apoio logístico no esmagamento dos rebeldes.        

Em suma, tudo como em outros momentos históricos de intervenções do Ocidente, em países do chamado Terceiro Mundo, com o apoio de governos que não primam pela defesa da soberania.        

Há pouco tempo, também, a pretexto de intervenção humanitária, a Otan interveio na Líbia e hoje este país africano recuou no tempo, retornando ao nível dos anos 50, quando um preposto do Ocidente, o corrupto rei Idris, detinha o poder.         Os tempos hoje são outros, mas o esquema colonial, guardando-se as devidas proporções de tempo e especificidades locais, para não falar da cobertura da mídia de mercado, utiliza métodos da época em que o mundo era outro mundo e nem todas as colônias já estavam, formalmente, independentes.        

No caso de Mali, a pretexto de combater forças terríveis, entre as quais grupos terroristas muçulmanos, o governo francês mandou para lá, inicialmente, 750 soldados, mas já admitiu o envio próximo, de mais 2.500 para dar conta do recado.

 Hollande estava mal nas pesquisas de opinião pública, mas agora os percentuais lhe são favoráveis. De um modo geral, os franceses estão sendo apresentados como heróis, da mesma forma que outras forças militares invadindo ou bombardeando países.        

Desta vez, a França teve apoios, sem vetos, do Conselho de Segurança da ONU. Rússia e China, ao contrário do que acontece na Síria, simplesmente, lavaram as mãos, ou seja, deram o aval para a intervenção, como fizeram com a Líbia ao se absterem na aceitação da proposta de criação de uma zona de exclusão aérea.        

Para os analistas, pesa na balança o fato de Rússia e China não terem tantos interesses em jogo como na Líbia, embora Mali seja uma nação rica. No cobiçado Mali, tem ouro abundante, inclusive com sete minas em operação, sendo a terceira reserva do continente africano. E ouro é ouro. Tem, também, urânio e diamantes, para não falar do manganês e da bauxita, entre outras riquezas do gênero e mesmo, alguma reserva de petróleo. Por muito menos, ex-colônias de países europeus que, hoje, atravessam dificuldades, sofreram intervenções militares sob os mais variados pretextos.        

Mas para a mídia de mercado, nada disso conta, prevalecendo para o setor apenas a visão do gênero pensamento único, isto é, que a França decidiu intervir a pedido do governo local e com o objetivo humanitário. Pode até, eventualmente, alguém aceitar o argumento, mas o que não se deve ignorar são as riquezas encontradas em Mali. E não se deve esquecer da cobiça internacional.        

Seja qual for o desfecho da incursão francesa, é preciso que a opinião pública seja informada e com as sutilezas que estão sendo mais uma vez postas de lado.        
 


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quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

"Fazer de conta"...


Será bom viver no mundo “faz de conta”? Sabemos que existe uma realidade, mas fazemos de conta que não é com a gente, nos refugiamos no nosso mundo “faz de conta” e tudo bem. Durante minhas férias não deixei de ler o jornal, é um vício que não consigo evitar. Apesar dos jornais também terem seu próprio mundo “faz de conta”, pelo menos há notícias que devem publicar.

Quando leio que os médicos plantonistas faltam, pergunto-me: Qual é a novidade? Desde sempre isso acontece e está acontecendo neste momento. Vivemos no mundo do faz de conta que temos um sistema de saúde. Ao ver uma manchete (uma de tantas) sobre assassinato e as declarações dos secretários de segurança que os assassinos serão capturados e punidos percebo nosso mundo “faz de conta”. Quando o secretário de segurança não consegue mais manter essa estória da segurança “faz de conta”, a solução é rápida, troca-se o secretário de segurança. Desta forma o que é importante se mantém. O mundo “faz de conta” continua.

Também li que alguns dos condenados pelo mensalão afirmam sua inocência e continuam ocupando e assumindo cargos no mundo “faz de conta”. E o que é mais incrível são os jantares de coleta de dinheiro para que os condenados possam pagar as multas que a justiça lhes impôs.

Os prefeitos e vereadores eleitos aumentam seus salários nas prefeituras “faz de conta” que há dinheiro, mas os habitantes ficam sem educação, sem saúde, sem esgoto, sem coleta de lixo, sem transportes decentes e/ou proteção de encostas ou pontes que foram destruídos.

No mundo de “faz de conta” o governo federal manda dinheiro todos os anos para resolver os problemas causados pelas inundações e enxurradas no Rio de Janeiro. No mundo real nada muda porque se resolvemos esses problemas em 2014 não teremos a ajuda de Brasília. No mundo real algumas pessoas morrem, casas são destruídas, milhares ficam desabrigados. No mundo “faz de conta” mais trabalho para as empreiteiras, mais minutos na televisão mostrando a preocupação dos políticos em resolver os problemas.

Entendo a necessidade do “faz de conta”, porque imaginem o que aconteceria se resolvêssemos os problemas de uma vez, que seria das pessoas que se preocupam com nosso bem-estar, nossa educação, nossa saúde. Quem tomaria conta de nós no mundo real? Nós mesmos. É o que a gente faz todos os dias. A menos, lógico, que também vivamos no mundo do “faz de conta”, nesse caso necessitaremos sempre de alguém que tome conta de nós.

E você meu amigo leitor vive no mundo real ou no “faz de conta”?


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terça-feira, 22 de janeiro de 2013

A Crueldade: Razões e motivações


Nem tudo que nos assusta ou foge do comum é crime. Porém nossa sociedade, que tanto prega a liberdade de manifestação, ainda surpreende com demonstrações de falta de entendimento do que é liberdade. Há poucos dias um caso de animais encontrados mortos nos leitos dos Rios  causaram estranheza e grupos de pessoas se mobilizaram nas redes sociais pedindo a identificação e punição dos responsáveis.
Apesar da polícia estar investigando o caso, para identificar se houve crime ambiental – seja por maus tratos aos animais mortos, seja por poluição do meio
ambiente pela contaminação do rio – a situação parece ter ganhado proporções maiores do que a legislação dá a casos como esse. A demora na comunicação do fato à polícia atrapalha a identificação dos autores e análises que pudessem identificar crime ambiental, porém acredito que a polícia tenha casos mais urgentes para se ocupar.


Noto que muitas pessoas consideram o fato de animais serem sacrificados como um crime hediondo. Ocorre que nosso Estado é laico, logo nossa legislação também. Ou seja, mesmo que se tratasse de magia negra, a questão religiosa e o objetivo espiritual de tal atitude não são caso de polícia. Uma vez que a Constituição Brasileira, no seu artigo 5º, assegura o livre exercício dos cultos religiosos. Então o fato só se configura crime se a cerimônia for considerada de maus-tratos aos animais ou poluir o meio ambiente.

Animais mortos em um rio tem mais a ver com higiene do que com poluição. Afinal a água recebe tratamento antes de ser disponibilizada nas nossas torneiras  que eliminam agentes biológicos que possam causar dano à saúde. Caso a carne desses animais fosse destinada ao consumo humano, o autor poderia ser multado pela Vigilância Sanitária, por abate sem inspeção. É algo semelhante a alguém invocar a perturbação do sossego pelas badaladas de um sino.
Algumas pessoas parecem mais motivadas em que os autores da provável cerimônia sejam conhecidos e punidos por alguém ter levantado a possibilidade de que haveria motivação política. Hora se alguém recorre a um ritual religioso para tentar garantir uma vitória nas urnas, ou para agradecer por uma vitória, do ponto de vista de nossa legislação há pouca diferença entre quem sacrifica animais na cerimônia ou quem procura uma bacia com água benta para fazer uma cruz na testa. Concordo que poderiam ter tido o cuidado de dar uma destinação mais adequada às carcaças dos animais sacrificados, mas transformar o inadequado em crime pode ser exagero.
Somos a sociedade da era das comunicações, e a internet, através das redes sociais, tem um papel muito importante na disseminação da informação. Qualquer pessoa pode se manifestar, é a expressão máxima da liberdade de opinião, porém enquanto nossos computadores trabalham com gibabites, as pessoas que os usam ainda têm dogmas, crenças, preconceitos e intolerâncias da idade da pedra, que aprecem integrados ao nosso DNA. Já vi nas redes sociais pessoas se mobilizando para evitar que cães sejam abatidos na China. Os chineses comem cães no almoço, é a cultura deles. Gostaria de saber o que essas mesmas pessoas achariam se indianos viesse ao Brasil tentar impedir o abate de vacas (sagradas naquela cultura) perseguindo caminhões boiadeiros e usando faixas e cartazes em frente a nossos frigoríficos.
Infelizmente os avanços tecnológicos ainda não nos fizeram evoluir como seres humanos no sentido de compreender as motivações do próximo e respeitar as liberdades e direitos individuais. Precisamos aprender a separa o que é imoral a nossos olhos, do que é ilegal.  


 

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segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Onde está a verdade?

Estamos perdendo a noção do real e do fictício, o inventado, o figurado

Estamos perdendo a noção do real e do fictício, o inventado, o figurado. Onde a verdade tem estrutura de ficção e o real é o possível. Assistimos diariamente a abusos sexuais, estupros, latrocínios, policiais marcados para morrer, filhos com os pais assaltando e roubando, sendo que deveriam estar na escola, praticando esportes e brincando. Suspeitos saindo das delegacias de polícia praticamente junto com as vítimas. Cada vez mais grades, cercas elétricas, câmeras, muros altos em nossas residências, para proteção contra tudo e contra todos, pessoas com lágrimas contidas, com vontade de chorar e o poder nas mãos de poucos e incompetentes.
Presídios superlotados, depósitos de gente. Isso tudo é o real. O fictício, o inventado, são as leis, as regras, para que todos possam viver em igualdade e sejam harmoniosamente cumpridas. O inventado é o voto, o trabalho, a poesia etc. Precisamos reinventar a relação humana em nosso século, pois o homem é contraditório, não sabe de onde vem nem aonde vai. Cada vez mais a ponte entre o real e o fictício está aumentando, ficando extensa. Ainda que as ideias conduzam o mundo, creio que as palavras estão em desalinho e as ações descompassadas, apesar de Lacan afirmar que a lei do homem é a lei da linguagem.
Epícteto, na Roma antiga, dizia: “O que perturba os homens não são as coisas, e sim as opiniões que eles têm em relação às coisas”. Há pessoas que veem as coisas como elas são e perguntam a si mesmas “por quê”? Outras sonham com as coisas como jamais foram. Entretanto, é importante ressaltar que estamos construindo um abismo entre estes dois temas, causando-nos uma falsa certeza, estando quase fora do nosso alcance, pois não podemos ficar nas janelas da vida esperando aquela chuva, aquele vento, aquele sol.
Por fim, você não pode impedir que os pássaros das preocupações voem ao redor de sua cabeça, mas pode impedir que façam ninhos sobre ela. (provérbio chinês).
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domingo, 20 de janeiro de 2013

Caminhamos para o fim?


A Inglaterra, através da chamada "Câmara dos Lordes" elaborou relatório onde entende que a descriminalização das drogas poderá levar o consumo a níveis mais baixos, entre os adolescentes ingleses. Esse relatório fala em drogas livres, comercializadas em casas legalizadas, sendo que, os produtos considerados "mais pesados" continuarão proibidos. Na contraposição, um pedido feito por deputados, para a formação de uma comissão de avaliação sobre a descriminalização de drogas foi rejeitada pelo Primeiro Ministro inglês, que considerou que os números dão conta de que, tanto na Inglaterra como no País de Gales, está acontecendo uma redução no que diz respeito ao consumo de entorpecentes, através de ações de programas, colocados em execução.

Nos parece, com todo respeito aos estudiosos do tema, que querem seguir o ditado simplificador: "se não podemos enfrentar os inimigos, melhor nos aliarmos a eles". Quer dizer, a força do crime organizado está tão alta que é melhor abrir espaço para o domínio total. Abrir uma porta para liberar o que se pode chamar de droga leve, entendemos, estaremos preparando o caminho para a liberação total e, com isso, criando gerações de zumbis, como se pode ver, especialmente, nas ruas das grandes cidades e que, inapelavelmente, serão os formadores das politicas do amanhã. 

Ora, se os atuais "senhores do mundo", com mentes sadias e operativas, estão encontrando dificuldades para conduzir o planeta a bons caminhos, o que se poderá esperar do futuro se não combatermos, hoje, a proliferação de drogas cada vez mais destrutivas, distribuídas por elementos que, apenas, visam interesses pessoais e usam tudo o que está disponível para alimentar a ânsia de poder que, certamente será facilitada pela falta de resistência da sociedade?

Vale, também, perguntar: quem terá maior vantagem com a liberação de drogas? O governo, que arrecadará mais impostos e economizará na busca de ferramentas para o combate a esse crime? Ou os viciados, que terão à disposição o "veneno diário", em cada farmácia de esquina? 
Não custa lembrar que, cada chefe de Estado, nos países mais desenvolvidos, tecnologicamente, tem ao seu alcance, o famoso "botão vermelho", capaz de disparar ogivas atômicas a grandes distâncias, mas não o fazem porque ainda usam o bom senso e o temor da reação. O poder de um país nas mãos de um grupo afetado pelas drogas e ânsia de expandir poder, sem medir consequências, será que teria o mesmo bom senso?


A tese da Câmara dos Lordes ingleses, certamente, não deve servir de exemplo, dentro da certeza que, desorganizado, o Mundo poderá estar marchando, ao encontro dos cavalheiros do Apocalipse.


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sábado, 19 de janeiro de 2013

O “crime” pode virar crime: O abandono dos filhos pelos pais ou responsáveis pode em breve ser caracterizado como crime


 O   abandono dos filhos pelos pais ou responsáveis pode em breve ser caracterizado como crime Um dos problemas mais graves da sociedade moderna, o abandono dos filhos pelos pais ou responsáveis, pode em breve ser caracterizado como crime.

O Projeto de Lei do Senado que modifica o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) para caracterizar o abandono moral dos filhos como ilícito civil e penal voltará a ser analisado, ainda neste semestre, em decisão terminativa, na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH).

O texto já passou pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) e ingressou na pauta da CDH em 11 de dezembro do ano passado, mas a discussão e a votação foram adiadas para este ano. De acordo com informações do Parlamento, o PLS (700/2007), do senador licenciado Marcelo Crivella (PRB-RJ), propõe a prevenção e solução de casos “intoleráveis” de negligência dos pais para com os filhos. E estabelece que o artigo 3º do Estatuto da Criança e do Adolescente passa a vigorar acrescido do artigo 232-A. Ele prevê pena de detenção de um a seis meses a “quem deixar, sem justa causa, de prestar assistência moral ao filho menor de 18 anos, prejudicando-lhe o desenvolvimento psicológico e social”.

Em sua justificativa, Crivella lembra que a pensão alimentícia não esgota os deveres dos pais em relação a seus filhos. Há muito mais a ser dado aos menores, como atenção, presença e orientação. Para o senador, reduzir essa tarefa à assistência financeira é “fazer uma leitura muito pobre” da legislação.

O texto também aponta o artigo 227 da Constituição, que estabelece também como dever da família resguardar a criança e o adolescente “de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão”.

Já o Código Civil é citado nos artigos em que determina que novo casamento, separação judicial e divórcio não alteram as relações entre pais e filhos, garantindo a estes o direito à companhia dos primeiros. O Senado lembrou casos importantes, de repercussão nacional, para tratar do assunto. Um deles, o julgado em 2006, na 1ª Vara Cível de São Gonçalo, região metropolitana do Rio de Janeiro.

Naquele ano um pai foi condenado a indenizar seu filho de 13 anos por abandono moral. Mais atual, de maio de 2012, em decisão inédita a Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) também obrigou um pai a pagar R$ 200 mil à filha por abandono afetivo. Para a ministra Nancy Andrighi, responsável pela decisão, “amar é faculdade, cuidar é dever”. A proposta é de interesse público e deve ser acompanhada por todos.

Representa um avanço contra ato que, de tão praticado, tornou-se banal aos olhos de muitos. E comprometer para sempre a vida e o futuro de uma criança não é uma situação que deva ser aceita de braços cruzados.

Por: DDP

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sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

O grande negócio da saúde


Não há melhor negócio no mundo do que a saúde. Não há maior prova de humanismo do que o exercício honrado da medicina.

São duas visões conflitantes da mesma ideia, a que une a vontade de viver e o medo permanente da morte. O negócio da saúde envolve a indústria do ensino, a atividade médica, as pesquisas biológicas e bioquímicas, o desenvolvimento técnico e científico, a produção e a venda dos medicamentos, os hospitais e as empresas de seguro médico, as chamadas operadoras.

Desde o governo militar a proliferação de universidades privadas no Brasil tem sido grande negócio político-empresarial. Muitas das licenças para o seu funcionamento foram concedidas aos políticos ou a parceiros de políticos. Essas licenças são renovadas, ainda que a qualidade do ensino seja cada vez mais deplorável.

 Sem laboratórios, sem lições práticas de anatomia e patologia, sem professores capacitados, surgiu o sistema em que médicos incompetentes ensinam alunos despreparados a se tornarem também médicos incompetentes e novos mestres de médicos ainda mais incompetentes.

Contrastando com esse quadro desolador, temos alguns dos melhores hospitais do mundo, estatais e privados, que servem de referência internacional. Mas, esses, embora muitos deles reservem leitos para o atendimento universal, pelo SUS, são de difícil acesso aos pobres.

A classe média se vale dos planos de saúde, que se têm revelado dos maiores e mais lucrativos negócios do Brasil, cobiçados pelos consórcios internacionais. A Amil, conforme se noticiou, está sendo adquirida por capitais norte-americanos. Essas instituições foram, em seu início, cooperativas de médicos e se transformaram em empresas mercantis comuns.

No passado, tínhamos menos recursos técnicos, mas os médicos, de modo geral, possuíam melhor formação. A maioria dos médicos brasileiros, felizmente, é constituída de homens e mulheres dedicados, com alta qualificação e profundo sentimento humanista. Muitos deles conseguiram superar as falhas do ensino, empenhando-se no aprimoramento constante.

As operadoras dos planos de saúde poderiam deixar de existir, se os recursos que arrecadam – grande parte deles destinados só a remunerar seus controladores – fossem administrados diretamente pelo Estado. Talvez o governo pudesse enfrentar a ganância dos donos dos planos de saúde de forma corajosa e radical, e não só suspendendo a ampliação do número de segurados, como decidiu agora a Anvisa.

É preciso todo o rigor contra os que violam a lei e, na alteração unilateral dos contratos, lesam os segurados – sobretudo os mais idosos – depois de os terem escalpelado ao longo dos anos.

Por: Mauro Santayana.

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quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Auto(des)promoção

Preenchemos páginas e mais páginas de celulose até não poder mais...
Escrever. Reescrever e escrever de novo. Mas pra que tudo isso? Quem se importa com linhas e mais linhas dessa tolice toda? Equívocos tortos por linhas retas. O Eclesiastes estava certo. Não há limite para fazer livros e o estudar demais é enfado à carne. Capítulo 12, versículo 12. Preenchemos páginas e mais páginas de celulose até não poder mais. Jatos de tinta em papel reciclado. Depois seguimos escrevendo em telas. E se juntássemos toda a escrita do mundo, de todos os tempos em um único livro? Ou melhor, em única página... Digo, em uma frase que sintetizasse todo o conhecimento humano. Alexandria na casca de noz. Uma palavra apenas. Uma letra. Certamente não seria o aleph. E essa partícula de informação contendo todas as coisas seria vã. Patética. Vazia. Porque nada sabemos. Vendemos ideias póstumas, pagas à prestação.
Enquanto isso, por que contribuir para o jornal? Para a revista? Para o livro? Não por dinheiro, certamente. Nunca foi. E isso precisa ser dito bem claramente. Crianças, não se iludam, na sua maioria, os escritores nada ganham. Paulo Coelho não vale. Tudo de bom pra ele. Tá rico e é lido na Europa. Eduardo Bueno não vale. Massa os livrinhos dele. Refiro-me aos escrevinhadores artesanais que às pencas, gastam horas e horas em busca do melhor texto em que realmente poderiam dizer alguma coisa, que significasse algo a esse outro eu, chamado leitor. Tantos que investem do bolso pra deixar seus pensamentos impressos numa edição barata de luxo. Oferta de viúva pobre. E burra!
Não estou depressivo, nem bêbado. Tampouco desiludido. Minhas constatações de obviedades não me abalam mais. Todo mundo escreve e escreve e nada a ver. Vivemos um império sem sentidos. O.k., não estou ajudando. Azar. Autopromoção nunca foi meu forte e, ademais, as pessoas acabam se enchendo. Nesse ponto a literatura perde feio para as outras artes. Não adianta ler poesia no rádio. Rádio é outdoor de música. O cinema tem seus trailers. As mercadorias, o fetiche. Viajo bonito. Peguei o tempo da verdadeira maionese. Embalagem de vidro e tampa de lata. Mas como fazer um livro vender? Eu sei lá? Não sou mercador de Veneza. Como divulgar? Alguns autores deixam capítulos para baixar na internet. E como se divulgam os sites?
Propaganda é a alma do negócio. Foi a brilhante frase de um grande publicitário. Ou não. O circo agora usa avião de som. Nunca tinha visto essa. Vi um anjo voando no meio do céu e ele tinha uma mensagem para os quatro cantos da cidade. Queria achar, feito Nietzsche, que escrevo bons livros. Ter certeza que a certeza é que enlouquece e não a dúvida. A literatura é um circo voador. Seis leitores no globo da morte. É tudo que tenho. Capítulos bem escritos são melhores que os grand finales. Falta-me a autoconfiança. Preciso de agente literário. Cadê minha Gertrude Stein?
Tenho três livros em andamento. Tudo para este ano. Pra que isso? Digamos que consiga? Divulgarei como? Que loucura! Sou o Salieri de mim mesmo. Encomendo-me o próprio réquiem e depois morro de inveja do que poderia fazer se menos tempo tivesse e muito mais a dizer.
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