terça-feira, 26 de novembro de 2013

As metas e a vida

É preciso ter metas nesta vida (haverá outra?). Não dá para ficar à deriva. Às vezes, especialmente aos olhos alheios, fixamos metas insensatas. Mas a insensatez, em alguma medida, é ingrediente fundamental. Uma necessidade. Pensar e fazer algo que muitos não fizeram e nem cogitaram. Isso me agrada. É divertido maquinar sobre o assunto. Fazer planos, mas, enquanto isso, viver da melhor forma possível.

Em 2008, por exemplo, aquela notícia ficou retumbando na minha cabeça: 2ª Meia Maratona do Servidor Público. Certamente não era para mim, não tinha preparo físico para esse tipo de prova. Mas encasquetei que, por uma questão de honra (?), precisava vencer aquele desafio. Então, busquei informações nas revistas especializadas sobre como me preparar para a prova. 

Sim, porque lesão é a última coisa que os corredores de rua podem se dar ao luxo de adquirir. Quem pratica esse esporte sabe que a prudência manda evitar cachorros e ortopedistas. Cachorros, porque durante o trajeto podem resolver nos perseguir e morder nossas canelas. Já os ortopedistas podem nos dar más notícias que impeçam, temporária ou definitivamente, a prática do esporte. Como gostam de receitar hidroginástica ou pilates! A questão é: quem corre, em geral, ama a corrida e o bem-estar que ela nos proporciona.

Então... Preparei-me como pude. Abreviei o treino indicado pelas revistas. Não havia tempo. Nenhuma lesão. O colega Ubaldo, já mais experiente com longos percursos, me incentivou na empreitada e corremos juntos até o final. Poderia ter deixado passar a vontade de concretizar esse sonho. Felizmente não desisti: atingi minha pouco sensata meta. Guardo as fotografias e a medalha com carinho.

Também gosto de observar os objetivos dos outros, principalmente das pessoas mais velhas do que eu. Isso me anima a projetar anos à frente. O que pretendo fazer? O que poderei fazer? Isso depende, em parte, do hoje. Há o imponderável. Sempre há. Quanto a isso, nada a fazer. A não ser torcer pelo melhor.

Uma colega do Ministério Público, com alguns anos a mais do que eu, anunciou que tinha o sonho de fazer uma reforma na casa, closet amplo e outros itens de puro conforto. Exclusivamente para deleite pessoal. Ela é elegante, inteligente, interessante, antenada e tem planos! Belo exemplo. Ponderaram que, àquela altura da vida, não valia a pena reformar a casa. Para que se incomodar com obras? Enumeraram os muitos óbices. Estava bom assim. Que se conformasse. Ela, sabiamente, concluiu que não estava. Tal como Winston Churchil, ela se contenta facilmente com o melhor.

Outro exemplo. Um médico conhecido vai completar 70 anos no próximo mês. Comprou um terreno na nossa rua, passa aqui em frente, seguido, de bicicleta. Sim, pedala bastante. A meta é comemorar a mudança de idade já na casa nova. Torço para que ele realize também esse sonho. Está feliz da vida! Esses dias estava jantando com o filho, outro respeitável senhor, na nossa churrascaria predileta, a velha e boa Portoalegrense – o melhor vazio de Porto Alegre. Que bonito ver pai e filho assim, já com uma certa idade, no restaurante. Companheiros, papeando descontraidamente. Quem sabe falavam na casa nova?

Raul Seixas estava certo. Não dá para sentar no trono de um apartamento com a boca escancarada cheia de dentes esperando a morte chegar. Com igual razão, quem disse que a vida é o que acontece enquanto a gente faz planos. É preciso conciliar o viver o dia a dia e o planejamento dos sonhos. Ainda que muitos deles não se concretizem. Insensato? Com razão.  


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