sábado, 21 de setembro de 2013

História de pulgas e de gente


Duas pulgas estavam conversando e uma disse para a outra:

- Sabe qual é o nosso problema? Nós não voamos, só sabemos saltar. Daí, nossa chance de sobrevivência quando somos percebidas é zero. É por isso que existem muito mais moscas do que pulgas no mundo: moscas voam.

E elas tomaram a decisão de aprender a voar. Contrataram os serviços de uma mosca, entraram num curso intensivo e saíram voando. Passado algum tempo, a primeira pulga falou para a outra:

- Voar não é o suficiente porque ficamos grudadas ao corpo do cachorro, e o nosso tempo de reação é menor do que a velocidade da coçada dele. Temos de aprender a fazer como as abelhas, que sugam e levantam voo rapidamente.

E elas contrataram os serviços de uma abelha, que lhes ensinou a técnica do chega-suga-voa. Funcionou, mas não resolveu. Porque como a primeira pulga explicou, a bolsa delas para armazenar sangue é muito pequena e por isso, tinham que ficar sugando por muito tempo. Conseguiam escapar, mas não estavam se alimentando adequadamente. Achavam que tinham que aprender com os pernilongos o como é que eles conseguiam se alimentar com mais rapidez.

E então, um pernilongo lhes ensinou como incrementar o tamanho do abdômen. E as duas pulgas foram felizes. Por poucos minutos. Como tinham ficado muito maiores, sua aproximação era facilmente percebida pelo cachorro. E elas começaram a ser espantadas antes mesmo de conseguirem pousar. Foi aí que encontraram uma saltitante pulguinha dos velhos tempos:

- Ué, o que aconteceu com vocês? Vocês estão enormes! Fizeram plástica?

- Pois é, nós agora somos pulgas adaptadas aos grandes desafios do século XXI. Voamos ao invés de saltar, picamos rapidamente e podemos armazenar muito mais alimento.

- E por que é que vocês estão com essa cara de subnutridas?

- Isso é temporário. Já nos consultamos com um morcego, que vai nos ensinar a técnica de radar. E você?

- Ah, eu vou bem, obrigada. Forte e sacudida.

Era verdade. A pulguinha estava viçosa e bem alimentada. Mas as duas pulgonas não quiseram dar a pata a torcer:
- Mas você não está preocupada com o futuro? Não pensou numa consultoria?

- E quem disse que eu não tenho uma? Contratei uma lesma como consultora.

- Hã? O que lesmas têm a ver com pulgas?

- Tudo. Eu tinha o mesmo problema de vocês. Mas ao invés de dizer para a lesma o que eu queria, deixei que ela avaliasse bem a situação e me sugerisse a melhor solução. E ela ficou ali três dias, quietinha, só observando o cachorro, tomando notas e pensando. E então a lesma me deu o diagnóstico: “Você não precisa fazer nada radical para ser mais eficiente. Sente-se no cocuruto do cachorro. É o único lugar que ele não consegue alcançar com a pata”.

Essa história foi contada por Max Geringher e narra muito de nossas dificuldades no mundo atual. Nossa dificuldade de fazer mudanças. Às vezes tão somente o que temos que fazer é parar e analisar a vida, os caminhos. Quantas coisas teríamos feito diferente?

 Por que não paramos? Por que não pedimos ajuda aos outros? Talvez porque nos achamos autossuficientes para decidir, afinal somos donos de nossas próprias vidas.

 Mas nem sempre foi assim, podemos parar a correria diária e apenas observar, refletir, analisar, mas isso requer tempo. Talvez já não o tenhamos mais. Assim passamos pela vida desnutridos e famintos de tantas coisas.

Mas seguimos até a morte nos encontrar numa esquina qualquer da vida corrida e enlouquecida que vivemos. Bem, então teremos todo o tempo do mundo, mas já não é permitido nada fazer. Pense nisto.


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