sexta-feira, 16 de agosto de 2013

A minimização dos problemas brasileiros


As justas manifestações de inconformismo do povo brasileiro, do norte ao sul do País, por refletirem um mal-estar  intuitivo e não um objetivamente elaborado elenco de problemas e soluções necessárias, gerou dois tipos de preocupação: um, dos cidadãos de bem, dos formadores de opinião e, sobretudo, dos acadêmicos relacionados à política; outro, dos políticos, postos no epicentro do furacão, identificados corretamente como os vilões de todas nossas mazelas. 

Os primeiros se debruçaram honestamente, ainda que com pontos de vista diferentes, sobre as causas do desconforto coletivo; os segundos trataram de formular um reducionismo barato, ao apontar causas que jamais levariam milhões de pessoas, não só jovens, mas famílias inteiras, a deixar seus indescartáveis automóveis em casa e lançar-se a um pedestrianismo de longas jornadas peripatéticas que abalaram o continente Brasil. Em outros termos, as coisas não se resumem a centavos nas tarifas de ônibus e à corrupção. Embora sejam problemas sérios, principalmente no que se refere à apropriação indébita do dinheiro público, há muito mais. 

Lamentavelmente, borrascas contornam nossos horizontes em todos os pontos cardeais;  para alguns analistas internacionais menos pessimistas, por seis meses; para outros, no mínimo por dois anos. A um povo que sempre viveu em crise, a dor, agora, é maior, porquanto nos venderam, de modo leviano, uma decolagem que se converteu numa derrapagem e a aeronave se danificou. 

Rafael Dix-Carneiro, professor assistente de economia da Universidade de Mariland observa: "O país (Brasil) tem problemas que vão mais a fundo do que os muito alardeados protestos contra a corrupção e o aumento de tarifas de ônibus. Inflação alta, preço das commodities em baixa e erros de um governo intervencionista estão pesando sobre o crescimento. O Brasil ainda tem sérios problemas estruturais, que geram dúvidas sobre seu desempenho econômico a curto e médio prazo." 

Rich Harper, analista do Wisdon Tree, em notas aos investidores, pontuou que "A combinação de dois fatores - inflação acima da zona de conforto do Banco Central e as projeções de crescimento recentemente revisadas para baixo - trouxe nuvens negras sobre o mercado brasileiro."  

Um dos maiores fãs dos mercados emergentes, Win Thin, diretor global de mercados emergentes na Brow Brothers Harriman & Co tem alertado seus clientes para ficarem longe do Brasil pelos menos de três a seis meses e concluiu: "Há um sentimento crescente de que a fábula de Cinderela do Brasil saiu dos trilhos". 

Os dados negativos de nosso mercado de fato impressionam e preocupam: Ibovespa e real em relação ao dólar em seu nível mais baixo em 4 anos; queda de 17,1% do Ibovespa desde 22/5, quando Ben Bernanke deixou os investidores preocupados com o possível fim do afrouxamento monetário (pelo mesmo motivo, as bolsas da Índia e do Peru caíram 7,1% e 8,3%, respectivamente); hemorragia de US$ 179 milhões em média, mensal, dos fundos de ações brasileiras sediados nos EUA, no último ano e meio, período em que os demais emergentes cresceram mensalmente em US$ 3,5 milhões (Thomson Reuters); as ofertas públicas de ações brasileiras tiveram um início recorde neste ano e davam indício de recuperação, mas desabaram nas últimas semanas, a ponto de a Votorantin Cimentos e a empresa aérea Azul já terem batido em retirada. 

Michael Fitzgerald, do escritório de advocacia Paul Hastings, não vislumbra rápida recuperação: "Estou falando de pelo menos dois anos. O Brasil foi apanhado numa tempestade perfeita, provavelmente com cinco ventos contrários." 

A iminência do rebaixamento de nossa classificação de crédito pela Agência Standard & Poors é uma probabilidade. 

Sangra esse nosso discurso de velório, depois de tantas esperanças despertadas por irresponsáveis na consciência do povo brasileiro. Confiram-se as assertivas "in" "Mercados do Brasil sofrem mais que os de outros países emergentes", de Melvin Beckman, do Wall Street Journal, traduzidas para o Jornal Valor Econômico. 


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