terça-feira, 28 de maio de 2013

O que o dinheiro não compra

O Iluminismo foi em geral favorável ao homem de negócios independente, o empresário. E não houve ninguém mais a favor do que Adam Smith, cujo livro Riqueza das Nações chegou a ser uma espécie de bíblia para os que consideravam a atividade capitalista como totalmente meritória, não devendo sofrer restrições de qualquer regulamentação. Entretanto, nem Adam Smith imaginaria a que ponto chegaria a liberdade de mercado no século 21.
No livro O que o dinheiro não compra, o filósofo americano Michael Sandel, demonstra que hoje o dinheiro compra quase tudo nos Estados Unidos e no mundo, em função da globalização do capitalismo. A mercantilização chegou a tal ponto que está corrompendo a moral e os relacionamentos entre as pessoas. Tudo, hoje, tem seu preço. Este pode ser explícito, como no caso dos carros, das torradeiras e da carne de gado.

Ou será implícito, como no caso do sexo, do casamento, dos filhos, da educação das atividades criminosas ,da discriminação racial,da participação política,da proteção ambiental e até da vida humana.Enfim, a lei da oferta e da procura reina soberana sobre todas essas coisas. Sandel traz exemplos concretos para provar a sua tese.
 Na Califórnia,os infratores não violentos podem pagar por acomodações melhores – uma cela limpa e tranqüila na prisão, longe das celas dos prisioneiros não pagantes.
Para tentar diminuir o congestionamento do trânsito, Minneapolis e outras cidades estão permitindo que motoristas desacompanhados usem as pistas reservadas ao transporte solidário, a taxas que variam de acordo com a intensidade do tráfico.
Na Índia, casais ocidentais, em busca de uma mãe de aluguel recorrem cada vez mais à terceirização , onde a prática é legal e o preço corresponde a menos de um terço das taxas em vigor nos Estados Unidos.Embora o preço não seja divulgado, funcionários de certas universidades de primeira linha disseram ao Wall Street Journal que aceitam alunos não propriamente brilhantes cujos pais sejam ricos e suscetíveis de fazer doações financeiras substanciais.
Alugar espaço na testa ( ou em outra parte do corpo) para publicidade comercial.Perder seis quilos em quatro meses, no caso de um obeso.

Empresas seguradoras oferecem incentivos financeiros à perda de peso e outros tipos de comportamento saudável, o prêmio é de US$ 378.Comprar a apólice de seguro de uma pessoa idosa ou doente, pagar os prêmios anuais enquanto ela está viva e receber a indenização quando morrer: potencialmente, milhões de dólares (dependendo da apólice).Esse tipo de aposta na vida de estranhos transformou-se numa indústria de US$ 30 bilhões.Quando mais cedo o estranho morrer, mais o investidor ganhará (!).
Médicos, denominados de “butique”, oferecem acesso ao seu telefone celular e consultas para o mesmo dia a pacientes dispostos a pagar taxas anuais que variam de US$ 1.500 a US$ 2.500.Portanto, os valores de mercado desempenham um papel cada vez maior na vida social. Tudo está submetido às leis do mercado.
 Outro exemplo da ação do mercado é no sistema escolar. Sandel conta que em várias partes dos Estados Unidos, escolas passaram a tentar melhorar o desempenho acadêmico com a remuneração das crianças para estimulá-las a tirar boas notas ou obter boa pontuação em testes de avaliação. A ideia, segundo ele, de que os incentivos em dinheiro podem resolver os problemas de nossas escolas surge como um pano de fundo do movimento pela reforma educacional.

Cada vez mais, os incentivos financeiros são considerados um elemento-chave do melhor desempenho educacional, especialmente no caso de alunos de escolas em centros urbanos com resultados medíocres.
A revista Time, segundo o livro de Sandel, realizou uma reportagem de capa, perguntando: “Cabe às escolas subornar as crianças?”.Para os defensores da idéia, o suborno é justificável desde que aumente o aprendizado. E o limite moral, onde fica? Na verdade, nesta sociedade de mercado, as diferenças tendem a se tornar maiores.
 Tudo é marquetizado, tudo é passível de ser comercializado. Em meados do século 18,os teóricos esclarecidos de toda a Europa haviam decidido que o interesse pessoal era a base de todas as ações humanas e que o governo deveria,sob todos os aspectos, ajudar as pessoas a expressar seus interesses e, com isso, a encontrar a verdadeira felicidade.
 Está na hora de o Estado promover o encontro e a convivência de pessoas de posições sociais diferentes, e, assim, incentivar o respeito às diferenças e cuidar do bem comum. Existem bens cívicos e morais que jamais poderão ser comprados.
 O mercado ironiza o Estado colocando por toda a parte os impostômetros, mas, segundo o professor da PUC-SP, Ladislau Dowbor, autor de mais de 40 livros, não vemos em nenhum lugar um lucômetro.

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Um comentário:

  1. É verdade nem tudo pode ser convertido em dinheiro, mas é preciso saber gerir as finaças pessoais muito bem, vou passar lhe um blog que pode ajudar.

    http://pouparblog.com

    Cumprimentos

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