domingo, 3 de fevereiro de 2013

As respostas do amanhã estão sendo inventadas


Aqueles que não reconhecerem as mudanças em processamento no país - e que são muitas! - por certo julgarão o presente pelo passado

O mundo está in fieri. Há uma mudança nas relações de poder entre estados e também um deslocamento do poder dos estados para atores não estatais. Isto é: falo de um duplo fenômeno de deslocamento e de difusão do poder. Mas a mudança que atinge o globo terráqueo e o Brasil, em particular, é para melhor ou para pior? Bem, isso depende do ângulo de observação e da proposta filosófica de cada um. Todavia, de um ou de outro modo, todos nós, brasileiros, temos essa sensação no Brasil de hoje. Talvez, por isso, o vocábulo da moda seja "emergência".

A sensação de mudança não é em si mesma uma novidade. Países mudam e o Brasil, faz bastante tempo, sofre mudanças. A novidade, estou seguro, origina-se da percepção de que estamos vivendo um período de ruptura e de transformação, no qual a mudança ocorre em ritmo tão intenso que configura a emergência de alguma coisa nova que não se sabe bem o que é. Mais: que não repete o que existia antes. Não é assim? Por isso, é inegável que o Brasil trilha novos caminhos. A sociedade brasileira, sabe-se, sempre foi marcada por intensa mobilidade social. E essa mobilidade social acompanhou os processos de integração nacional, crescimento urbano e industrial ocorridos no transcurso do século passado.

O Brasil, como disse, está in fieri. E a mudança atual não repete o que existia antes. O país trilha novos caminhos. E essa sensação de estar vivendo algo novo, como afirmei, traz consigo uma sensação de insegurança. Percebemos que alguma coisa está sucedendo. As coisas estão in fieri. Mas que mudança é essa? Para onde estamos indo?

Diariamente, a mídia nos fala de coisas novas. Fala-se, por exemplo, da emergência de uma nova classe média. Em verdade, as classes médias brasileiras são muitas. De outra feita, as profissões do futuro estão sendo inventadas hoje. E, muitas delas, não são produtos dos bancos universitários, mas sim de novos modos de fazer, de trabalhar, de aglutinar competências. É isso que ocorre. E é, justamente, esse complexo de dinâmicas e oportunidades antes não existente, que gera a sensação de que estamos avançando, embora não se saiba muito bem para onde vamos.

 No passado, cabe dizer, também avançamos, mas tínhamos um norte, sabíamos para onde queríamos seguir e estávamos seguindo. No passado, reitero, o caminho do progresso era repetir o que dera certo lá fora. Por isso, a economia brasileira cresceu - não há dúvida! - mas a sociedade não mudou. Ela apenas estufou: migração favelização, colapso dos serviços públicos etc.

Hoje, caro amigo, não é mais assim. Em razão da globalização, não se consegue fechar nada, absolutamente nada, nem a economia. Nos dias atuais, ninguém propõe a generalização do acesso à antiga sociedade. Mais: a interrogação sobre a sociedade é mais desafiadora do que a questão do mercado. Os temas em debate são outros. Hoje, as grandes interrogações dizem respeito à sociedade. O que está sucedendo na sociedade? Como as pessoas - os brasileiros, no caso - vão reagir diante das novidades que afetam diretamente sua vida?

 É a emergência do novo que move a sociedade. Não estamos mais a repetir o passado nem a seguir modelos de fora. Algo original está sendo gerado. As formas de socialização estão mudando. O importante agora é compartilhar. Comunidades virtuais coexistem com o mundo real.

A sociedade emergente é estranha. Complexa. Ela causa espécie. Mas aqueles que não reconhecerem as mudanças em processamento no país - e que são muitas! - por certo julgarão o presente pelo passado. E julgar o presente pelo passado, caro leitor, é condenar o presente. Toda a mudança, face ao desconhecimento de seus efeitos, é geradora de medo. E o medo nada mais é do que uma reação natural do ser humano diante do desconhecido.

A simples visão de que nada muda quando não há revolução é conservadora. Patética. Os nostálgicos do passado - encastelados na sua nostalgia do ontem! - serão incapazes de compreender o presente. Mais: calarão sobre o futuro. Não têm o que dizer. Ficam sem saber o que é bom e o que é ruim.

A sociedade contemporânea não ferve o tempo todo. Não é assim. Ela aquece. Ferve. Esfria. Mas o debate aparece adiante. Com seus altos e baixos, idas e vindas de temas, o ato de debater é contínuo. E, por veredas imprevistas, o debate converge para ações coletivas.

Não vivemos, na terra revelada por Cabral e abençoada por frei Henrique de Coimbra, um momento em que se tenha recibo. Um momento em que se tenha resposta. Mas, por certo, as respostas de hoje não serão as respostas do passado. As respostas do futuro, leitor amigo, estão sendo inventadas: aqui e agora.


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Um comentário:

  1. Há muito o que fazer para mudar esse país , mas creio que estamo rumando para isso, ou não?!

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