quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Auto(des)promoção

Preenchemos páginas e mais páginas de celulose até não poder mais...
Escrever. Reescrever e escrever de novo. Mas pra que tudo isso? Quem se importa com linhas e mais linhas dessa tolice toda? Equívocos tortos por linhas retas. O Eclesiastes estava certo. Não há limite para fazer livros e o estudar demais é enfado à carne. Capítulo 12, versículo 12. Preenchemos páginas e mais páginas de celulose até não poder mais. Jatos de tinta em papel reciclado. Depois seguimos escrevendo em telas. E se juntássemos toda a escrita do mundo, de todos os tempos em um único livro? Ou melhor, em única página... Digo, em uma frase que sintetizasse todo o conhecimento humano. Alexandria na casca de noz. Uma palavra apenas. Uma letra. Certamente não seria o aleph. E essa partícula de informação contendo todas as coisas seria vã. Patética. Vazia. Porque nada sabemos. Vendemos ideias póstumas, pagas à prestação.
Enquanto isso, por que contribuir para o jornal? Para a revista? Para o livro? Não por dinheiro, certamente. Nunca foi. E isso precisa ser dito bem claramente. Crianças, não se iludam, na sua maioria, os escritores nada ganham. Paulo Coelho não vale. Tudo de bom pra ele. Tá rico e é lido na Europa. Eduardo Bueno não vale. Massa os livrinhos dele. Refiro-me aos escrevinhadores artesanais que às pencas, gastam horas e horas em busca do melhor texto em que realmente poderiam dizer alguma coisa, que significasse algo a esse outro eu, chamado leitor. Tantos que investem do bolso pra deixar seus pensamentos impressos numa edição barata de luxo. Oferta de viúva pobre. E burra!
Não estou depressivo, nem bêbado. Tampouco desiludido. Minhas constatações de obviedades não me abalam mais. Todo mundo escreve e escreve e nada a ver. Vivemos um império sem sentidos. O.k., não estou ajudando. Azar. Autopromoção nunca foi meu forte e, ademais, as pessoas acabam se enchendo. Nesse ponto a literatura perde feio para as outras artes. Não adianta ler poesia no rádio. Rádio é outdoor de música. O cinema tem seus trailers. As mercadorias, o fetiche. Viajo bonito. Peguei o tempo da verdadeira maionese. Embalagem de vidro e tampa de lata. Mas como fazer um livro vender? Eu sei lá? Não sou mercador de Veneza. Como divulgar? Alguns autores deixam capítulos para baixar na internet. E como se divulgam os sites?
Propaganda é a alma do negócio. Foi a brilhante frase de um grande publicitário. Ou não. O circo agora usa avião de som. Nunca tinha visto essa. Vi um anjo voando no meio do céu e ele tinha uma mensagem para os quatro cantos da cidade. Queria achar, feito Nietzsche, que escrevo bons livros. Ter certeza que a certeza é que enlouquece e não a dúvida. A literatura é um circo voador. Seis leitores no globo da morte. É tudo que tenho. Capítulos bem escritos são melhores que os grand finales. Falta-me a autoconfiança. Preciso de agente literário. Cadê minha Gertrude Stein?
Tenho três livros em andamento. Tudo para este ano. Pra que isso? Digamos que consiga? Divulgarei como? Que loucura! Sou o Salieri de mim mesmo. Encomendo-me o próprio réquiem e depois morro de inveja do que poderia fazer se menos tempo tivesse e muito mais a dizer.
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Um comentário:

  1. Oi William, penso que o Márcio não escreve por prazer de estar fazendo algo que gosta...quando fazemos o que gostamos não nos preocupamos com esse tipo de questionamento....abçs

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