sábado, 24 de novembro de 2012

Digam o que disserem

Há um discurso retrógrado e cansativo, que imagino seja comum a outras cidades. Um ranço de criticar o passado, em vez de construir o futuro. Mania persistente de diminuir o que outros fizeram, sem valorizar as obras existentes, sinal comprovado do seu trabalho.


Insistência em procurar erros, malfeitos, cavoucando em jornais amarelados pelo tempo, atrás de notícias que provem que aquela gente não prestou, era vil e mercenária, só pensava em si e nos seus, embora suas obras aí permaneçam, confirmando o oposto.

E em quanto do que se lê, tanto nos jornais como nos livros publicados, é possível crer? Quanto se esconde nas entrelinhas? Quanto veneno precisa destilar o autor do texto, para se sentir melhor em sua pequenez ou pretensa sabedoria? Qual a isenção e liberdade de pensamento daquele que externa suas ideias, julgando-se dono da verdade? Por outro lado, quantos acontecimentos jamais chegam ao conhecimento do público, para não suscitar melindres ou atrapalhar projetos futuros?

Quando até a história mundial começa a ser reescrita e o que se soube ontem hoje se descobre que não foi bem assim, é natural colocar ressalvas em muito do que nos querem passar como certo.

"Quem conta um conto, aumenta um ponto", aprende-se em criança. Naquele tempo, sentados lado a lado, um passava para o outro, - em voz baixa, de forma que ninguém mais ouvisse - uma frase qualquer. E a frase, repetida, passava de boca em boca, até chegar ao final da fila e ser dita em voz alta, despertando risadas, por estar completamente modificada.

Muitas notícias alardeadas agora parecem repetir a brincadeira infantil. Fatos dos quais participamos ou temos pleno conhecimento ganham novas versões, conforme paixões, despeitos e desavenças de quem os relata. Cada um tem o seu ponto de vista, a maneira de ver o fato e a verdade, muitas vezes, vale menos que a versão, dependendo de quem a defende. Ou assume viés de certeza, logo de cara, se combina com a nossa maneira de pensar. "Ele escreve tão bem", falamos, quando o cronista diz tudo que desejávamos ouvir.

A história é contada pelos vencedores; muda, inclusive, conforme quem está no poder. Ou é sonegada ao público, quando a divulgação não atende os interesses de quem deveria divulgá-la.

E a história precisa ser compreendida em seu contexto, na época, no local em que aconteceu, de acordo com a mentalidade das pessoas daquele período; não pode ser julgada por quem não estava lá.

Agora, porém, com a facilidade de acesso a publicações, ela é contada por qualquer um que se disponha a se manifestar, aproveitando o espaço concedido e muitas vezes usufruindo do anonimato ou citando fatos sem citar nomes, de forma a não dar a ninguém o direito de se defender, se não quiser enfiar a carapuça. E se defender para quê, se o que importa é o que cada um sabe de si?

Mas, acima das palavras proferidas ou escritas, da história forjada, atendendo a interesses, permanecem as obras, o que de palpável e visível alguém deixou, para o bem dos que vieram depois. E essa é a história que fica.

Por: Marta Fernandes de Sousa Costa.

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