domingo, 28 de outubro de 2012

Homem em crise dos 40 anos

O fato de eu ter chegado aos 40 anos e não ter entrado em crise causou tantos problemas em minha vida que não tive escolha. Entrei em crise. A correria no trabalho, a educação das crianças, os afazeres domésticos e o eterno problema na lateral esquerda do Internacional ocupam minha vida de tal forma que não consigo reservar na agenda um horário para aquilo que a sociedade exige de mim: ser um homem com quatro décadas de vida e parte da personalidade sequelada.


Uma amiga próxima até ficou chateada por eu não estar em processo de convulsão provocada pela meia-idade. Para ela, ir no caminho contrário ao da psiquatria de consultório do doutor Google era uma situação quase inadmissível. Minha rotina, a mesma de quando tinha 30 anos, a incomodava muito e na sua cabeça eu deveria sinalizar.

Até pesquisei como eu, agora um quarentão, deveria reagir. Surpreender a família e abrir uma loja de vinis, tornar-me um lobo metrossexual, torrar a poupança das crianças com uma moto, substituir a esposa por uma ninfeta. Confesso que a terceira opção - a da moto - foi a que mais despertou meu interesse, mas e tempo para pegar a estrada sobre duas rodas e desbravar as curvas até o castelo de Pedras Altas? Minha coluna também não aguentaria. Já a ninfeta, seríamos incompatíveis. Tentaria me convencer que Katy Perry é melhor que The Beach Boys, um “grupinho” do passado, motivo suficiente para eu sentir saudade de meu mundo.

Como eu estava disposto a não decepcionar minha amiga, decidi presenteá-la simbolicamente com gotas psicológicas de alguém na crise dos 40. Nada exagerado, mas o suficiente para ela ficar satisfeita e me deixar em paz. E aconteceu quando nos encontramos na rua, em uma bela manhã de sol, daquelas que ninguém consegue ficar dentro de casa, a não ser os homens deprimidos pela idade.

- Que dia maravilhoso, hein?

- Pois é.

- O que foi? Parece desanimado?

- Não sei. Minha cabeça não tá boa. Tô pensando muito na vida, nas preocupações. Nada me deixa alegre.

- Ah, mas isso é normal. É da idade. Não dá bola que passa. Uma questão de se aceitar. Olha, se precisar conversar me procura.

Foi desse jeito, rápido e eficaz. Minha amiga foi embora toda feliz porque finalmente a ordem do mundo estava restaurada e eu, um impuro, recuperado. Pelos padrões, em plena desordem psíquica e hormonal. Só esperei ela dobrar a esquina para continuar a caminhada antes do futebol da tarde, da limpeza da garagem, do passeio de bicicleta, do banho do cachorro, do texto que precisava escrever para o jornal, de levar as crianças ao cinema e do jantar a dois com minha esposa. E numa crise daquelas.

Por: Jarbas Tomaschewski.

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Um comentário:

  1. Adorei...
    Sua amiga está ultrapassada, os 40 de hoje são os novos 30 ...rsrs

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