terça-feira, 1 de maio de 2012

Sinaleiras da vida



As sinaleiras nossas de todos os dias podem ter uma boa função além de ordenar o trânsito. Elas nos obrigam a parar e esperar. Algo que quase não aceitamos mais fazer hoje em dia. Sim, porque paramos, só quando somos obrigados. Caso contrário, os atropelamentos cotidianos acontecem não somente pela necessidade de se deslocar de um lugar para o outro dentro de um veículo, mas também quando passamos por cima das opiniões, ideias e sentimentos porque não aceitamos, não toleramos o tempo e o jeito do outro.

Apesar do cuidado necessário para não ficar demasiadamente distraído na rua, atrapalhar o tráfego ou levar um buzinaço do carro de trás, as sinaleiras acabam permitindo e até provocando um tempo para pensar.

Os períodos de espera na sinaleira nas andanças da vida, permitem observar o que se passa ao redor mesmo que seja naquela pequena amplitude de visão comum nas cidades que crescem velozmente, mas pode ser suficiente para pensar a vida intensa que ali acontece.

Olhando para os lados, sem ficar como o cavalo de viseiras que só consegue ter uma visão bem restrita do seu percurso, pode-se ampliar alguns pensamentos que passam como se fossem o pedestre que acabou de atravessar ali na frente ou aquele veículo que costurou entre os outros carros passando de um lado para o outro de maneira bem intrusa e determinado a deixar seu rastro.

Assim o meu pensar circula, de sinaleira a sinaleira entre as idas e vindas, tarefas, horários, momentos, sentimentos quando consigo praticar uma direção defensiva (leia-se como a maneira de dirigir com atenção e cuidados que previnam e reduzem as possibilidades de acidentes no trânsito).


A sinaleira pode permitir um exercício mental que transita pelos mais diferentes caminhos, já que não deixam de ser solitários os inúmeros momentos que passamos sozinhos ao volante.

Solidão, esta que sugere que uma boa conversa consigo mesmo ressoe com mais força. Tem ficado escassas as oportunidades na corrida da vida para fazer o balanço do dia ou de outras experiências que, cada vez mais raras e reduzidas na sua quantidade e qualidade, permitem o exercício de ser convocado a pensar.
São nas estradas cotidianas da vida que escolhemos fazer um trajeto que pode seguir uma sinalização que vai de encontro àquilo que nos escapa quase que o tempo todo que é o pensar enquanto experiência criativa do viver...


Por Patrícia Spindler.

Deseja comentar, aproveite e deixe sua opinião...

Um comentário: