terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Trinta anos sem Elis Regina

No próximo dia 19 serão lembrados os 30 anos da morte de Elis Regina, considerada por muitos críticos e outros músicos como a melhor cantora brasileira de todos os tempos.

Como muitos outros artistas no Brasil, Elis surgiu nos festivais de música popular na década de 1960, mas foi em Porto Alegre, que ela iniciou a carreira como cantora aos 11 anos de idade, em um programa de rádio para crianças, chamado o Clube do Guri, na rádio Farroupilha. Em 1960 foi contratada pela radio Gaúcha e, em 1961, viajou para o Rio de Janeiro, onde gravou o primeiro disco “Viva a Brotolândia”. 

Seu primeiro grande sucesso foi “Arrastão”, de Vinicius de Moraes e Edu Lobo, canção vencedora do Festival de MPB da TV Excelsior de São Paulo. A antológica interpretação de Elis, escreveu um novo capitulo na história da música brasileira, inaugurando a MPB. Este feito lhe conferiu o título de primeira estrela da canção popular brasileira na era da TV.A esta época Elis conheceu a turma da bossa nova, no Beco das Garrafas, e participou do espetáculo o Fino da Bossa, organizado pelo Centro Acadêmico da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo. 

O sucesso foi tal que deu origem a um programa com o mesmo nome, ao lado de Jair Rodrigues, na TV Record e ainda três discos de grande sucesso: um deles, Dois na Bossa, foi o primeiro disco brasileiro a vender um milhão de cópias. No final dos anos 1960 Elis realizou uma série de shows pela Europa, conquistando grande sucesso, notadamente no Olympia de Paris. Ela foi também a responsável pelo lançamento de grande parte de compositores até então desconhecidos, como Renato Teixeira, Belchior, Tim Maia, Gilberto Gil, João Bosco e Aldir Blanc, Sueli Costa, Milton Nascimento, entre outros. 

Este último, a elegeu musa inspiradora e a ela dedicou inúmeras composições. Dona de uma personalidade marcante, Elis Regina não teve dúvidas em assumir uma posição de critica ao regime militar, nos terríveis Anos de Chumbo, quando muitos artistas foram perseguidos e exilados. A crítica era feita de forma pública em meio às declarações ou nas canções que interpretava. Seu engajamento político a fez participar ativamente de uma série de movimentos de renovação política e cultural brasileira. Foi uma das grandes batalhadoras na campanha pela Anistia de exilados brasileiros.

Ela fez de sua arte uma forma de manifestação política. A partir, principalmente, do disco “Falso Brilhante” tornou-se a maior repórter daqueles tempos bicudos da ditadura.Com seu repertório magistral ela documentou tudo o que ocorria de ostensivo e de escondido em nosso país. O engajamento repercutiu de forma positiva na carreira de Elis e a caracterizaria até a sua prematura morte em 1982.Seu repertório passou a ser composto de canções políticas de profundo significado e marcadas por interpretações inesquecíveis como o caso de “O Bêbado e a Equilibrista”, de João Bosco e Aldir Blanc, que transformou-se no verdadeiro hino da anistia e que ainda hoje emociona. 

A canção foi a verdadeira trilha sonora da volta de personalidades brasileiras no exílio, a partir de 1979.Um deles, citado na canção, era o “irmão do Henfil”, o Betinho, destacado sociólogo brasileiro que, entre tantos outros, fora obrigado a deixar o país, como diz a canção “num rabo de foguete”.

Em 1981, Elis se filiou ao PT. Também foi uma grande defensora dos direitos dos músicos brasileiros e dos direitos das mulheres e seu papel na sociedade brasileira. Notabilizou-se pela uniformidade vocal, primazia técnica e uma afinação a toda prova. Qualquer canção na sua voz ganhava uma nova dimensão. 

Elis foi, sem dúvida, a voz mais perfeita, a que conheceu melhor o ritmo e a divisão, a que elevou e abaixou o tom nos momentos certos, a que melhor utilizou, para ampliar a voz, de técnica comparável às melhores do mundo. Quando Elis começava a cantar baixava uma espécie de magia, um feitiço, efeito combinado de trabalho e inspiração, tudo o que fazia dela uma artista iluminada, uma artista que levou a sério o dom que recebeu e que experimentou, tentou, ousou, foi além. Seu último show foi “O Trem Azul”.

Foi grande a comoção quando de sua prematura morte em 19 de janeiro de 1982, devido a complicações decorrentes de uma overdose de cocaína e bebida alcoólica. Na época uma agência de publicidade estampou esta mensagem: “Choram Marias e Clarices...Chora a nossa pátria mãe gentil. Em busca de um sol maior, Elis Regina embarcou num brilhante trem azul, deixando conosco a eternidade de seu canto pelas coisas e pela gente de nossa terra. E uma imensa saudade”.

por José Ernani de Almeida. 

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Um comentário:

  1. Oi amigo que bom relembrar Elis Regina eu tenho o prazer de te dizer que acompanhei tudo.obrigado pela lembrança.

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