quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Reflexões sobre qualidade de vida



O Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA, da sigla em inglês) previu que seríamos 7 bilhões até outubro de 2011. A preocupação em torno do aumento populacional tem sido constante em meus escritos. Como se assegurará a “qualidade de vida” a tantas pessoas se a maioria padece da distorção de algum de seus vértices?

A resposta orienta-se pelo conceito de “qualidade de vida”, que é mutante, subjetivo e distinto de quantidade. Fontes infindáveis de informação atribuem sentidos a este termo, cuja importância se evidencia na canícula das sociedades modernas.

Este destaque deve-se a que se confunde o sentido do conceito com os avanços técnicos, que trazem muitas vezes novos desafios e denigrem a “qualidade de vida”. O automóvel passa de ser facilitador dos transportes para tornar-se agente de contaminação atmosférica, problemas respiratórios e estresse.

Os conceitos de “qualidade de vida” costumam abranger aspectos biológicos (bem-estar, condicionamento físico, propensão a doenças), culturais (hábitos de infância, convívios sociais, vicissitudes, meios de formação e informação), e econômicos (renda, capacidade de consumo).

É leviano remeter ao tema sem considerar ao menos estas três facetas do que atribui qualidade à vida, uma vez que a carência em qualquer uma delas impede o usufruto desta dádiva em sua plenitude.

O Brasil assiste a um momento contraditório de seu desenvolvimento, haja visto que a pujança de sua economia não se tem convertido em rendas bem distribuídas devido ao modelo de exploração de mão-de-obra e recursos naturais. Há um encanto injustificado por atores que não pensam no cívico e o público, como as empresas transnacionais.

Não obstante, o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA) divulgou um estudo que aponta aumento de 146% nos gastos sociais do governo federal de 1995 a 2009. As áreas envolvidas são: educação, trabalho, saúde, habitação, entre outras.

Agrega-se que o Ministério do Trabalho acusa que houve aumento de contratação de estrangeiros no Brasil. O país emitiu, no primeiro semestre de 2011, 26,5 mil autorizações de trabalho, que se concentram nas áreas de infraestrutura, engenharia e tecnologia.

O Brasil possui inserção privilegiada no circuito internacional em comparação com outros países historicamente colonizados e explorados devido à capacidade ingente de produzir riquezas e exportá-las, no entanto indispõe-se internamente com os problemas clássicos do subdesenvolvimento.

Como conciliar a “qualidade de vida” dos brasileiros com a remessa exportadora de nossos melhores alimentos e insumos industriais, enquanto a miséria e o descaso ainda assombram as favelas e nos encarecem os recursos que testificariam – em vez de desmentir – nosso lugar como “país emergente”?

A cooperação internacional – em vez da subserviência – tem sido a opção de ministros e chefes de Estado para melhorar a “qualidade de vida” ao combater a fome, a guerra e a pobreza. É inconcebível que se tenha tantas opções de consumo nas regiões mais avançadas tecnicamente enquanto noutras é preciso caminhar quilômetros com baldes de água na cabeça para saciar a sede da família.

Economistas criaram o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) em 1990, que mede a renda per capita, a expectativa de vida e a educação (índice de analfabetismo e matrícula escolar) dos países. A classificação baseia-se na variação de 0 a 1, sendo mais positiva e medição que se aproxima do 1.

O entendimento de “qualidade de vida” requer desanuviar confusões e dogmas que recheiam o conceito a fim de que a inserção de cada uma das sete bilhões de pessoas seja a mais ativa e saudável possível.

Podemos e devemos ser agentes do processo de desenvolvimento que contempla os aspectos biológicos, culturais e econômicos descritos anteriormente. A alimentação, os meios de convívio, os bons pensamentos e a interação política reduzem a culpa do acaso e nos conferem maior responsabilidade sobre o grau de qualidade com que vivemos.

Clichês são válidos para esta finalidade, como o de agir localmente e pensar globalmente, pois somos mais dependentes de processos de além-mar.

Quem delibera sobre sua “qualidade de vida”: você ou o acaso?


Por: Bruno Peron Loureiro.

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4 comentários:

  1. A primeira coisa que sinto com relação a tudo isso é de impotência. Individualmente, somos tão fracos e em grupo complicamos tanto que no final pouca coisa vai além do ter vontade ..ou de ficar sensibilizado...
    Infelizmente, somos uma sociedade apática ..ficamos esperando pelos outros para dar o primeiro passo. No entanto, se dermos o primeiro passo no sentido de participar com a cota de responsabilidade que nos cabe nesse processo, grande parte dos futuros problemas seriam amenizadas..
    mto legal o texto..
    bjo

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  2. Cada um deve participar, mas primeiro os governantes devem fazer a parte deles, com
    escolas e universidades de qualidade, aliás até que tem, mas para aqueles que tenha condições de pagar preços abusivos, já que a renda da maioria é o salário mínimo, o qual é realmente mínimo.
    Te pergunto como? se os governantes só pensam no bolso deles? neste País são poucos que pensam naqueles que os elegeram.
    Emprego tem, falta pessoal qualificado, o que
    são poucos aqui no Brasil.
    Excelente postagem.

    Feliz Natal e um 2012 de realizações.

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  3. Realmente o Brasil é um pais rico, mas de que adianta esta riqueza se ela não chega a sua população? A verdade é que o rescente crescimento do pais não se deve exclusimente a nossas riqueizas naturais , mas também a uma mão de obra farta e barata fruto do exclusão econômica que eu acabei de mencionar...

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