quinta-feira, 17 de novembro de 2011

A tv te consome???



Nova pesquisa realizada na Austrália afirma que tempo demais em frente à telinha está relacionado à diminuição da expectativa de vida dos telespectadores e ao surgimento de problemas como obesidade e doenças cardiovasculares.

Pelo visto, televisão em excesso não faz mal apenas à saúde mental, mas afeta todo o corpo de maneira negativa. De acordo com estudo publicado por pesquisadores da Universidade de Queensland, na Austrália, e repercutido pelo jornal britânico The Guardian e pelo site brasileiro Tecmundo, do portal Globo, uma pessoa com mais de 25 anos diminui 22 minutos da expectativa de vida a cada hora gasta em frente à TV. A causa, de acordo com o estudo, é simples: quanto mais tempo sentado, menos exercícios físicos são feitos, aumentando assim as chances de doenças cardiovasculares.

O relatório foi elaborado com base em dados coletados durante vários anos e divulgado na semana passada. Participaram mais de 11 mil voluntários, com idade de 25 anos ou mais. E como muita gente assiste a TV enquanto realiza outras atividades, como cozinhar ou passar roupa, foram consideradas para o estudo apenas as horas em que a televisão era a atividade principal do pesquisado. O resultado: os australianos passam cerca de duas horas diárias assistindo a televisão e, de acordo com a pesquisa, isso é o suficiente para diminuir a expectativa de vida dos homens em 1,8 ano e a das mulheres em 1,5 ano. Pessoas que passam seis horas por dia em frente à telinha perderiam 4,8 anos da expectativa de vida.

Em entrevista para o The Guardian, um dos autores do projeto, dr. Lennert Veerman, explicou que esses números deveriam receber tanta atenção quanto as estatísticas sobre obesidade ou tabagismo. Apesar da conclusão polêmica, esse não foi o primeiro artigo científico sobre o assunto. No ano passado, outro estudo, também australiano, chegou à conclusão de que uma hora de televisão por dia aumenta em 8% os riscos de morte prematura – um número ainda mais chocante.

Profissão: Telespectador
O publicitário Tiago Gonçalves dos Santos, 29, faz parte do grupo de brasileiros que passa mais de seis horas diárias em frente à telinha. “Assisto a todos os jornais, de todas as emissoras, de manhã, na hora do almoço e de noite, além das telenovelas. Às vezes sigo em frente à TV até de madrugada”, revela. Quando informado sobre os números da pesquisa, Tiago não se disse impressionado. “Essas pesquisas não me impressionam. Não questiono a seriedade da pesquisa, mas se a gente for dar valor a essas coisas, ninguém vive, a gente fica estacionado”, replica.
Tiago justifica as várias horas diárias assistindo à programação televisiva como uma necessidade de sua profissão. “É importante para um publicitário estar sempre um passo à frente da informação. Trabalho para uma agência do Rio de Janeiro e sou o único que atende por ela aqui no estado. Assim, trabalho muito em casa, a não ser quando a agência entra em contato e eu tenha que encontrar com o cliente”. Ele afirma que trabalha com a TV e o computador sempre ligados, e que divide a atenção entre os dois meios de comunicação de massas, de olho em informações que podem ser um diferencial. “Passo o dia todo confirmando informações com amigos on-line. Muitas vezes fico sabendo das coisas antes mesmo de os grandes meios de comunicação divulgarem”, explica.

Mas a profissão não exige tamanha exposição segundo o também publicitário Rogério Barbosa de Andrade, 30. “Realmente estar bem informado é uma necessidade da profissão. Eu mesmo assisto entre duas e três horas de TV todos os dias, mas por razões profissionais, senão assistiria menos”. Ele afirma que noticiários da TV fechada e as transmissões de futebol são os únicos programas que ele faz questão de assistir sempre e não se lembra de qualquer fase de sua vida em que assistir TV era sua principal atividade cotidiana. “Na infância assistia mais TV, porque ficava sozinho em casa, mas não era muito mais, por volta de três horas e meia a quatro horas. Ainda assim, houve uma época em que troquei a TV pelos gibis. Comecei a escrever poesias e melhorei as notas”, revela.

Oriundo de um sistema de ensino já não utilizado nas faculdades brasileiras atualmente, Rogério estudou as teorias da comunicação de massas e arrisca uma explicação sobre o hábito descontrolado de assistir TV: “As pessoas assistem tanta TV primeiramente por uma questão cultural, depois porque há tramas muito bem escritas e formatos industriais de entretenimento pensados para isso.

Há ótimos conteúdos, é verdade, mas algumas pessoas perdem na própria televisão a oportunidade de escolher programas com informação de qualidade, boas músicas, cena cultural etc. Fora da TV perdem a oportunidade de interagirem diretamente com a família, amigos etc. e muitas vezes perdem a possibilidade de conviver com outras mídias como os livros, as artes gráficas, visuais etc.”

Degradação consciente
Tiago dos Santos reconhece que o hábito de assistir TV demais é prejudicial em alguns sentidos. “Eu, por exemplo, tenho problema de vista – astigmatismo e hipermetropia – e assistir à TV e ficar no computador é prejudicial para minha visão. Mas nem por isso vou deixar de fazer essas coisas”. Contudo, o publicitário afirma não se deixar levar pela indolência típica do público analisado pela pesquisa: “O que acontece é que a pessoa se acomoda e passa a fazer tudo diante da TV, sentado ou deitado no sofá, comendo, bebendo. Grande parte dos obesos se enquadra nesse cenário”.

Tiago conta que possui uma esteira e a utiliza para se exercitar sempre que pode. “Faço caminhadas na esteira. Em frente à TV, que é para não perder nada. Aliás, a TV até me motiva a fazer o exercício”. Além disso, o publicitário ressalta que pratica natação três vezes por semana, um cuidado com a saúde que pode servir de exemplo para os “viciados” em televisão e balancear o índice negativo exposto pela pesquisa.

Vida no sofá
Em uma visão mais popular, o público pesquisado é muito bem definido pelo termo inglês couch potato – “batata de sofá”, em uma tradução livre –, utilizado para representar pessoas que passam a maior parte do tempo sentadas em frente à telinha e se entupindo de junk food – outro termo inglês, este velho conhecido do público brasileiro, e que define comidas nada saudáveis como enlatados, saquinhos de salgadinhos industrializados, doces e refrigerantes.

Esses casos extremos se tornam cada vez mais comuns mundo afora e são preocupantes, constituindo um novo desafio para a classe médica e também para os governantes.

É preciso reforçar que o hábito de assistir televisão em si não é a causa do aumento do risco de morte precoce – o conteúdo veiculado, apesar de ser bastante criticado por muitos especialistas e telespectadores, provavelmente não causa danos ao corpo. Mas substituir as ruas, os parques, os amigos e a família pelo sofá inevitavelmente diminui a qualidade de vida do indivíduo. Se você não vive sem a novela ou as notícias do dia, lembre-se de compensar as horas de “batata de sofá” com exercícios físicos regulares. Conforme o estudo australiano, assim você pode viver mais.


Por: Humberto Wilson.

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