quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Observações sobre o cotidiano feminino...



Há componentes de transcendência na mulher? Estou inclinado a admitir que sim. Não tenho certeza, apenas intrigante desconfiança.
Em minhas reflexões com meus botões às vezes acho que ela deve ser regida, movida, impulsionada, também, por leis da física e da química cuja compreensão não está ao nosso alcance – não está ao meu alcance, pelo menos.

Não enfoco aqui questões subalternas do tipo superiodade ou inferioridade entre macho e fêmea. Essa é discussão gasta, superada, arcaica. Se fosse fazer comparação, usando um edifício como exemplo, as mulheres seriam as fundações, os homens o restante; um não existe sem o outro embora a diferença do papel de cada um.

Enveredo pela senda que me intriga desde há muito e que diz respeito a sutil diferença entre os machos e fêmeas da nossa espécie. E que tem raízes em observações singelas no cotidiano da mulher da roça. Foi a partir da figura da nona(vovó) e de sucessivas gerações de mulheres roceiras até chegar à cidade, que nasceram as interrogações que cutucam minha cabeça. Não que tal trajetória tenha sido fácil para um ou para outro, pelo contrário, a luta pela sobrevivência tem exigido enormes sacríficos dos homens e das mulheres.

A nona jamais cansava, era a primeira a levantar e a última a deitar. A nona comandava a casa (num tempo sem energia elétrica, sem água encanada, sem fogão a gás, sem mercado, sem padaria, sem geladeira), cuidava do bem estar dos filhos e do marido. Providenciava o café da manhã, a janta e o almoço, lavava a louça e a roupa, assava o pão, a cuca, a bolacha, fazia o queijo, a marmelada e as compotas, fabricava da massa ao sabão, costurava a remendava roupas. Quanto tempo e esforço despendia para pegar o frango no galinheiro, torcer o pescoço, depená-lo, limpá-lo adequadamente até leva-lo ao forno? Não raro encontrava tempo para ir para a lavoura.

O dia, para grande parte das mulheres da roça, parecia ter 36 horas. Mais que isso, a nona jamais conseguia se desligar, esse é um detalhe interessante. Ela estava permanente conectada em suas responsabilidades. O trabalho dentro de casa tem essa característica de nunca estar concluído...

Hoje, na cidade, essa carga, para boa parte das mulheres (falo de mulher, não de dondoca), aparenta não ser muito diferente daquela que fazia a rotina da nona embora toda a tecnologia que veio para ficar.

Manter-se atenta para a casa estar sempre em ordem, não descuidar do marido, não negligenciar nas necessidades dos filhos (criar os rebentos hoje é mais complicado do que no passado) e permanecer de atalaia quanto às exigências do emprego (inclusive ganhando menos pelo mesmo trabalho) não é tarefa que se cumpra sem determinação especial e energia extra. Isso que nem falamos de preconceitos que aqui e ali ainda pipocam com sua presença.

A exemplo da nona, a mulher da cidade raramente consegue desligar-se, pois em seus momentos de folga precisa pensar nela mesma para poder melhor desempenhar suas responsabilidades com a casa, com o marido, com os filhos, com o seu trabalho, e com a sociedade.
Na verdade o que gostaria de saber com todas essas observações, é se há componentes de transcendência na mulher?


Por: Ivaldino Tasca.

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2 comentários:

  1. É verdade a vida da mulher moderna é muito difícil, ela tem jornada dupla e vive na correria. A revolução feminina talvez tenha um lado ruim.

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  2. Nossa, que texto maravilhoso, lembrei da minha avó da roça. Era assim mesmo. Hoje a rotina da mulher da cidade pode ter mais componentes que a ajudam no dia a dia. Nós mulheres que cuidamos do lar, sabemos disso. Acordamos cedo,café, roupa, limpar a área do cachorro, acordar os filhos, ajudar nos deveres, ser mãe, psicóloga, lavadeira(hoje temos máquina), passadeira, cozinheira, professoras, somos as fadas e as bruxas ao mesmo tempo. Sim, a mulher transcende. Ela ultrapassa todo o entendimento, nós mesmas pensamos como conseguimos no final de uma jornada. E ainda, ter VONTADE e CUIDADOS com nós mesmas. Reconhecer ao final do dia, que devemos nos amar, que temos valor(pq muitas vezes para os companheiros não temos). Aprendemos na força bruta do dia a dia, a não esperar aplausos, mesmo lindas e cheirosas!Sabemos que temos nosso importante papel e sabe a mulher de verdade não espera, ela sabe do seu valor, sabe tmb que muitos são "cegos". Ela transcende, quando é mulher guerreira, não importando sua função, sabendo que o dia seguinte será quase igual, talvez com alguma surpresa, ela vai sorrir e seguir nos seus afazeres.Ela sim ultrapassa mesmo os limites,lutando,apaziguando,analisando,aprendendo a cada dia e ainda ter consciência que todos os "seus" passarinhos podem voar.
    abraços!!!!

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