quarta-feira, 14 de setembro de 2011

O ser humano e o medo



Dizem que só conhecemos verdadeiramente o homem quando exposto num brutal confronto com o próprio medo. Encantoado, o corajoso torna-se manso, o vil: estéril; o risonho: chorão. Mas nem sempre as discrepâncias são realmente inversas. O temor pela própria vida pode fazer com que a pessoa adquira tremenda força, lutando pela sobrevivência, onde o corajoso se transforma em herói supremo.

Não há quem nunca temeu ou tremeu na escuridão de suas brechas, fazendo ruir suas máscaras, encontrando-se com o bicho lá de dentro, sem as lapidações da educação social, sem a inteligência comedida de suas calmarias. Vendo o homem na iminência de perder suas primazias, é capaz de lutar incansavelmente contra seus próprios princípios, salvo os de maior confiança em fé.

O medo tem asseverado batalhas ao longo dos séculos, percorrido governos, instigado revoltas, dominado Estados, modificado filosofias, percorrido religiões e recuado muitas sociedades. O temor parece uma conjugação de medo e respeito, talvez uma obediência diante da impossibilidade de confronto ou admiração diante da alguma grandeza.

Carlos Drummond, no poema “Congresso internacional do medo” diz: “provisoriamente não cantaremos o amor, que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos. Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços... existe apenas o medo”.

Se há má sorte, vem o medo da morte – sua velha imagem –, com capuz e foice de bom corte. A certeza máxima da vida é a sua morte carnal. A cada ente querido já perdido, esvai-se um fio da vida, ficando um lapso de saudade em que a esperança e fé poderiam preencher.

O tempo já nasce morto, a cada segundo que passa. Trajetórias e perigos. Acidentes fatais, balas perdidas, guerras, assaltos, brigas em bares, baladas em overdose, tumores, ataques cardíacos, tudo conspirando em desfavor vital das existências momentâneas.

Geralmente se esquece de que há perdas irreparáveis para continuar a própria vida, sem lembrar por um tempo de suas mortes e de suas solidões. Até que vem alguma notícia, uma tragédia ou alguma sensação. Tudo se volta, pelo medo de suas engrenagens. O medo faz caminhar, esquecendo-se dos perigos e afrontando os desatinos. Um paradoxo, por sinal.

Se a morte afronta, a solidão silencia. O espelho revela as marcas que o tempo vão cravando em formas corrosivas. Se houver o cansaço e o descrédito aparece, quando se descamba para algum vício, visando refúgio, o esquecimento ou fuga, tal como a bebida alcoólica ou ainda para camuflar a ansiedade, como o cigarro, tudo é pura ilusão, tão somente expressão do medo de enfrentar ou mudar as situações.

Sentir-se sozinho em meio ao tumulto é reflexo da sociedade moderna. O antídoto seria um bom mergulho de qualidade ao conhecimento próprio, um sobressalto de ânimo encontrado somente nos de maior crença, autoconfiança e fé. Se o medo apaga a razão, sendo facilmente sentido, a fé também progride pela emoção, e somente o raciocínio em sã consciência pode programar o intercâmbio entre os dois lados deste mesmo mundo.

por Leonardo Teixeira

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