domingo, 24 de julho de 2011

Satisfazer todas as vontades dos filhos é um erro



Muitos pais hesitam em impor castigos e limites aos filhos, por medo de perderem a sua estima e mesmo a guarda deles, se um dia o casal vier a se separar.

Precisamos pensar seriamente em como estamos educando as crianças, já que é na infância que se estabelecem os processos psíquicos que irão nos acompanhar pelo resto da vida. Parece estar havendo, hoje, uma grave inversão de valores: os pais passaram a ter mais medo de perder o amor dos filhos do que os filhos, o dos pais. Como o pavor de perder o afeto e a admiração dos pais sempre foi o grande incentivo para as crianças aprenderem a se comportar de acordo com os padrões do seu meio cultural, hoje a maior parte dos adultos se vê sem meios para educar e agir com firmeza.

Essa situação pode ser muito agradável para as crianças, mas só em curto prazo. Elas não têm que enfrentar muitas situações de frustração - aliás, é incrível como se confunde frustrar com traumatizar -, e o que acaba acontecendo? Tornam-se absolutamente despreparadas para lidar com esse tipo de dor psíquica.

Todos nós sabemos que a vida contém uma boa dose de frustrações; os que crescem despreparados para absorver esse sofrimento serão os mais fracos. Terão de fugir de situações novas e de desafios, pois nunca se sabe quando haverá o sucesso e quando o fracasso. Não terão docilidade para enfrentar suas amarguras: serão pessoas que gritam e esperneiam de tudo o que as desagrada. Terão que agir como tiranos, tentando sempre dobrar a realidade à sua vontade. Tentarão controlar tudo, inclusive as pessoas com as quais convivem e das quais dependem.

Além disso, a pouca firmeza e falta de autoridade dos pais fazem a criança sentir-se insegura e desamparada. Perceber que existem limites, que os adultos sabem o que é bom para ela, deixa-a com a sensação de proteção. Muitas vezes a criança comete deliberadamente um ato absurdo, apenas para se certificar de que existem represálias, e, portanto que há adultos fortes e firmes nos quais ela pode confiar e se sentir, através dessa reação, aconchegada.

Se for tão óbvio o prejuízo de uma educação desse tipo, por que, então, tantos pais preferem não frustrar seus filhos, tornando-se permissivos para com pequenos e grandes caprichos? As razões são várias, mas vou apontar apenas uma, que ganhou importância nos últimos 15 anos. Ela está ligada ao risco do divórcio.

Hoje, ao contrário do que acontecia até faz poucas décadas, as pessoas já se casam pensando na hipótese de um dia virem a se separar. Isso faz com que sintam uma enorme necessidade de ser uma mãe - ou um pai - muito especial, para que as crianças o prefiram na hipótese da separação. E faz também os pais se ligarem mais intensamente aos filhos do que ao cônjuge, pois esse tipo de vínculo parece mais sólido e estável.

A maior parte dos casais disputa e rivaliza entre si. Ser o preferido dos filhos passou a ser um novo item nessa competição tola que existe entre os sexos. Como costuma ocorrer quando emoções negativas se tornam mais importantes que reflexões ponderadas, a vontade de vencer a disputa se torna mais significativa do que educar os filhos com propriedade, preparando-os para a vida que terão de enfrentar. E são esses casais os que acabam se divorciando; nesse caso, então, ser o preferido dos filhos é a suprema vitória; é um tipo de humilhação e vingança contra o ex-cônjuge.

Com a atual instabilidade dos casamentos, podemos aprender coisas importantíssimas sobre a situação emocional dos adultos. A principal delas é que a forma como vivenciamos nossos elos amorosos é totalmente imatura, infantil. Do ponto de vista sentimental, a maioria de nós reage exatamente como as crianças, como os nossos filhos. Não lhes impomos coisas porque tememos pôr em risco nossa relação com eles; eles poderiam não nos amar do mesmo modo que antes! Sem estabilidade conjugal, sem poder confiar no amor do marido, ou da mulher, acabamos por nos garantir paparicando e sendo escravos dos filhos. Acreditamos que eles não nos abandonarão - pelo menos não em curto prazo.

Por Flávio Gikovate.

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