quinta-feira, 21 de julho de 2011

O ser humano e as razões do riso



Rimos por que há coisas engraçadas, mas não rimos só do que tem graça; aliás, há pessoas que não acham graça quase em nada, e outras que acham ou veem o cômico em quase todas as situações do cotidiano.

O homem é um animal que ri. Mais ainda, nossa sociedade valoriza quem ri e quem faz rir; basta ver o sucesso das stand up comedies e de comediantes, ou humoristas, que temos em horário nobre da televisão e das casas de espetáculos lotadas em seus shows. Mas ri de quê, ou ainda, por que ri o homem? O escritor irlandês George Bernard Shaw, certa vez, perguntado sobre o que mais admirava numa mulher, disse: se ela ri, como ri e do que ri. Pois sim, rimos por que há coisas engraçadas, mas não rimos só do que tem graça; aliás, há pessoas que não acham graça quase em nada, e outras que acham ou veem o cômico em quase todas as situações do cotidiano.

Rimos por que de alguma maneira interpretamos os fatos ou as falas das pessoas, as narrativas, de uma forma diferenciada. É sobre essa forma que desejo falar. Mas antes, precisamos lembrar que há como que "níveis de graça" e que há diferentes risos, desde os irônicos, os sádicos, os risos de felicidade, de satisfação até as gargalhadas frouxas e destrambelhadas. Rimos dos outros e com os outros; rir sozinho é triste. Quando eu era menino havia um "saco de risada", era um saquinho de pano com um aparelho que, acionado às escondidas, por um botão, disparava uma gargalhada gostosa que contagiava todos os que estavam à volta. A graça era que acionávamos o saco perto de pessoas com ar sério, de meninas tímidas e em lugares e ocasiões onde a seriedade era imperativa. Ficávamos esperando as pessoas se contagiarem com o riso largado do saquinho e ríamos muito do constrangimento daqueles que não queriam rir, cair na nossa brincadeira.

O riso é cultural e relacionado às posições de classe. Às vezes fica difícil rir em algumas comédias americanas e se não fosse aquele playback de riso que ouvimos após as gags, talvez não tivéssemos certeza de que estávamos mesmo assistindo a uma comédia. Já que envolvi a mídia na conversa, não posso deixar de comentar sobre o papel do rádio no riso.

A Rádio Nacional, tinha o Balança mas não Cai, com Paulo Gracindo, Brandão Filho e os irmãos Ema e Walter D"Ávila e o hilariante PRK 30, de Lauro Borges e Castro Barbosa. Nas rádios, teatros e nos discos, ria-se com as paródias do Zé Fidelis, com os broncos Vitório e Marieta, com o caipira Barnabé e com de José Vasconcelos e sua mirabolante ideia falida de criar a Vasconcelândia! E como vendiam discos esses comediantes! Não vamos deixar de lado os músicos humoristas, como Jararaca e Ratinho e Alvarenga e Ranchinho. Hoje, no rádio, fazem enorme sucesso os Sobrinhos do Athayde, o Café com Bobagem, Doutor Pimpolho, Homem Cueca, Mução, e tantos outros.

Com o surgimento da televisão, alguns programas e comediantes tentaram se adaptar ao novo meio; alguns com bastante sucesso, outros, porém, parecem ter sofrido do mesmo mal de alguns comediantes do cinema mudo, como Ben Turpin e Buster Keaton e perderam a graça. Sim, tem muita gente que perde a graça; ou perde a piada. Na televisão, surgiram novos comediantes e programas. A Família Trapo, com Ronald Golias, Otelo Zelloni, Jô Soares e Renata Fronzi foi o primeiro sitcom da TV nacional; depois vieram Faça Humor não Faça a Guerra, com Jô Soares e Renato Corte Real, Chico City e a Escolhinha do Professor Raimundo. No cinema rimos com Zé Trindade e Mazzaropi, Oscarito e Grande Otelo.

O jornal impresso preserva o humor crítico, na coluna do impagável José Simão; no futebol do veterano Risos da Galera, do Doraci Sola Galera, que transformou em folclore gente do futebol aqui da cidade, como Muca, o Homem de Pedra, Miroldo, Miudinho e outros tantos. Hoje temos ainda o reforço da internet, com sites humorísticos e a circulação de "piadistas militantes" como dizia Odorico Paraguaçu, em piadas no formato mp3. É de dar "frouxos de riso", como dizia o Primo Rico ao Primo Pobre, ouvir humoristas como Zé Lezin, da Paraíba, Tonho dos Couros e Cibalena, de Fortaleza e Paulinho Mixaria, do Taquari (RS). Muito engraçadas são também algumas "tirinhas" de jornal, como o Zé do Boné e o Calvin, por exemplo. Então estamos falando que há humor feito com palavras, com imagens estáticas ou em movimento, humor que se lê e humor que se ouve. E, em alguns casos, vem quase tudo isso junto. Pois eu ia comentar do porque rimos e, como linguista, diria que há boas pesquisas sobre o tema e pode-se dizer que o texto de humor é o único tipo em que a alteração da sequência, algo imprevisto e fora das alternativas sequenciais possíveis, dentro das convenções sociais, alivia a tensão emocional e provoca o riso.

Do ponto de vista semântico, há uma teoria que diz que entendemos os textos através de esquemas ou scripts, que são acionados para a compreensão de orações subsequentes do mesmo texto, de forma que uma palavra evoca um script e este determina seu significado. Assim, quando alguém anuncia que irá contar uma piada, imediatamente acionamos nosso script e ficamos atentos às sutilezas da narrativa, pois a graça estará em perceber que nossa previsão, nosso script foi, ao final, contrariado, e isso nos fará rir (rsrsrsrsrs).


Por Luiz Fernando Gomes.

Se desejar comentar fique a vontade...

Um comentário:

  1. O humor está para o pensamento assim como o aditivo está para a gasolina, desgrudando das engrenagens dos cérebros as sujeiras encalacradas.

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