sábado, 2 de julho de 2011

Chico Buarque e o ódio on-line




Na esteira de seu novo disco, à venda num site para o qual as pessoas podem escrever o que quiserem, Chico Buarque fez uma grave constatação. 'Eu achava que era amado, porque as pessoas iam ao show, me aplaudiam, e, na rua, me cumprimentavam', ele disse. 'Descobri, na internet, que sou odiado. As pessoas falam o que lhes vem à cabeça. Agora entendi as regras do jogo.'

Sim, são as novas regras. Chico Buarque, possivelmente, nunca foi a unanimidade que se pensava _ao lado das multidões que lhe são gratas pela beleza que espalha em letra e música há quase 50 anos, sempre devem ter existido os inconformados com seu sucesso, com seu talento, com suas rimas, talvez até com seus olhos claros.

A diferença é que os que não gostavam dele não se dariam ao trabalho de ir a seus shows para hostilizá-lo e, se passassem por ele na rua, não se disporiam a desfeiteá-lo. A vida real tem seus códigos de convívio _nela, para melhor andamento dos trabalhos, somos mais tolerantes e evitamos dizer o que pensamos uns dos outros. Mas a internet está fora desses códigos.

Nesta, ao sermos convidados a 'interagir' e a 'postar' nossos comentários, podemos despejar tudo que pensamos contra ou a favor de quem quer que seja. Quase sempre, contra. Uma sequência de comentários _que, em poucas horas, são milhares_ a respeito de qualquer coisa nas páginas on-line é uma saraivada de ódios, despeitos, rancores, recalques e ressentimentos. E, não raro, num português de quinta. Pode-se ofender, ameaçar e agredir sem receio, como numa covarde carta anônima coletiva.

Alguns dirão que isso tem um lado bom _com a internet, acabou a hipocrisia e, agora, as pessoas podem se revelar como realmente são. Que ótimo. Resta perguntar quando elas passarão à prática _do ódio on-line contra X ou Y para sua manifestação concreta na rua.


Por Ruy Castro.

Comente essa atitude, será isso mesmo? Participe!

14 comentários:

  1. É a tal história, na internet todo mundo fica corajoso, terra de ninguém. Mas ainda penso em educação e gentileza. Não é porque uma pessoa não gosta que ela precisa destilar seu ódio contra uma pessoa, música, religião, país, etc...
    Vamos combinar, que isso fica valendo para políticos corruptos, bandidos, etc.
    Ter raiva de uma pessoa e apedreja-la desta forma, me parece algo bem retrógrado, mas verdade seja dita, acho que essa é a atual essência de muitos.

    ótima postagem

    abraços

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  2. Também acho Carla. Não há necessidade de manifestações de ódio contra quem quer que seja.

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  3. Na minha opinião essa dinâmica da internet pode e deve mudar. As pessoas devem se sentir responsáveis pelos seus comentários como se os estivessem fazendo na vida real.

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  4. Colegas só lembrando aqui pertinho onde moro teve blogueiro que pagou idenização cara por ofença e calúnia, pois é, comentário no anonimato é difícil descobrir mas a culpa é sem dúvida do blogueiro que aceita, nada haver o cara espalhar o ódio, é só moderar e não aceitar.

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  5. Posso afirmar que o Chico e o Ruy Castro são do tempo em que, quando você não gostava de alguém ou de algo, podia tomar algumas atitudes. 1ª)- encontrar o cara e falar tudo na cara dele e partir pro pau, se fosse o caso. 2ª)- não falar nada, ficar na sua - mesmo a contragosto. 3ª)- falar mal do cara perante a turma e ser enxotado, banido - pelo menos por uns tempos. Verdade: se fizesse isso era banido da turma, pois não se aceitava esse tipo de comportamento tido como falta de caráter, além de covardia pura.
    Era praxe o ofendido estar presente pra poder se defender. Agora, hoje...
    É uma baixaria - pobreza de espírito - sem noção nem limites.
    Eu, p. ex., não gostava da voz do Chico. Porém, adorava - e continuo adorando suas músicas. Com o tempo, aprendi a gostar de sua voz, também.
    Por ser mais jovem que eles, peguei o final do comportamento ético e civilizado que prevalecia, então.

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  6. A internet é só uma válvula de escape de um ódio que existe dentro das pessoas e que é reprimido durante nossa socialização. Ele sempre existiu só que anonimamente você extravasa esse ódio e ninguém vê que foi você. Porém, não podemos perder de vista que as pessoas estão com mais ódio porque muitos estão conseguindo se libertar de sua opressão, o mundo de hoje é dos oprimidos seculares e a internet nos concede essa liberdade.

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  7. Vou confessar:Chico Buarque é ótimo como letrista,"marromeno" como escritor de romances e péssimo nas suas "orientações políticas"!Eu acho!Agora,que em tempos de internet,um artista tem muita mais possibilidade de ser "a Geni do Chico",tem...inclusive ele!
    Pai,afasta de mim esse cálice!rsrsrsrsr

    abraços!

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    1. Não se esqueça que sua avaliação sobre as "orientações políticas" do Chico é particularmente sua e de uma minoria formada pelos mauricinhos que tiveram o cérebro lavado pela grande mídia entreguista e prostituída desde as escrituras da Bíblia.
      A sorte dos brasileiros é que a imensa maioria de nosso povo, se não pensa, pelo menos sente o contrário de você.

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  8. Esses babacas, que abusam do direito de liberdade de expressão, vão dar o argumento de que os outros babacas, que querem censurar a Internet, precisam para convencer todo mundo de que leis devem ser criadas para formatar a rede de acordo com a conveniência deles.
    A rede tem que cuidar da rede.
    Quem tá na rede levando a coisa a sério tem que dar um jeito nesses manés.
    Pode crer que tem um "Feliciano" louco pra passar um projeto na calada da noite, que vai por o cabresto em todo mundo aqui.
    A pergunta que todo mundo deve tentar responder é: o que a rede pode fazer de efetivo para resolver esse problema?...

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    1. Concordo com você, Regis, mas não acredito que somente "a rede" possa resolver o problema, porque ela é muito dispersa. Ela pode sim, contribuir em defesa dos interesses coletivos, mas diante da voracidade da ditadura midiática sobre a Internet, manipulando, distorcendo os fatos, publicando material do interesse elitista para compartilhamento entre ingênuos, mal informados e cérebros lavados, o melhor remédio pode ser justamente a pressão por um marco regulatório que rastreie e responsabilize a injúria, a calúnia e a difamação, conforme os antigos e experimentados princípios do mundo real.

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  9. Vivemos numa sociedade na qual a maioria da população é analfabeta (inclusive com os analfabetos funcionais, com diploma universitário), que é bestializada diuturnamente pela mídia, que não tem noção dos seus direitos de cidadania, que aceita naturalmente os absurdos. Evidentemente que a "rede" vai refletir essa sociedade.
    O fato de Chico Buarque (e tantos outros) ser hostilizado, não tem nada a ver com a sua obra, que está muito acima do que é produzido no país.

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  10. As pessoas não entendem que, independente das posturas políticas e da sua vida particular, Chico Buarque é o maior compositor que o país produziu. É aquele cidadão (cada vez mais raro) que, em vida, já faz parte (merecidamente) da história da arte em geral e da historiografia pátria.
    Antonio Guedes

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  11. Em qualquer rincão do país, entro num barzinho e tem lá um cara cantando canções. Canta músicas de Chico Buarque de quarenta anos atrás. Por que será que não cantam as musiquinhas de hoje em dia, os sucessos instantâneos que duram apenas uma semana? Quantos cantores/compositores surgiram nestes últimos 20 anos que nem lembramos o nome? Triste país em que a mídia estala os dedos e a plateia baba (e rebola).
    Antonio Guedes

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  12. MAS UMA TRISTE MODA,O ÓDIO DESSE TÃO INCOERENTE PAÍS

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