segunda-feira, 6 de junho de 2011

Empurra o Australopithecus que ele anda...



"Até agora todos os seres criaram alguma coisa que os ultrapassou; quereis ser o refluxo dessa grande maré e retornar ao animal, em vez de superar o homem? Que é o símio para o homem? Uma irrisão ou uma dolorosa vergonha. Pois tal deve ser o homem para o Além-Homem: uma irrisão ou uma vergonha. Percorrestes o caminho que vai do verme ao homem, tendes ainda em vós muito do verme. Outrora fostes símios e até hoje o homem ainda é o mais símio de todos os símios. Até o mais sábio entre vós é um ser indeciso e híbrido entre planta e fantasma."
NIETZSCHE


“Empurra o Australopithecus que ele anda...”

Olá, humanos invisíveis. Decidi que não faço mais parte de nossa espécie. E nem vocês.

A frase que dá título a este texto não é minha, ela me foi dita por um amigo músico, o Juli Manzi, e diz respeito a uma das grandes feridas narcísicas da humanidade, que começaram a sangrar a partir do século XIX através de três grandes pensadores: Albert Einstein, Sigmund Freud e Charles Darwin.

Com Einstein, descobrimos que essa máquina que usamos no pulso, no cantinho da tela do computador, nos parques e praças e em outros lugares, chamada relógio, é, na verdade um dispositivo ilusório. Sigmund Freud popularizou escandalosamente o fato de que nossa consciência funciona da mesma forma que o relógio. Charles Darwin apresentou a mesma contribuição: neste exato momento, quem escreve estas palavras já andou com as patas no chão, viveu em árvores colhendo frutos, rosnou e urrou quando teve dor, matou, estuprou e enlouqueceu com fêmeas no cio.

Afinal, pensem comigo: quem mais nos chama de humanos além de nós mesmos?

Seguindo a linha Darwiniana, é interessante visitar duas obras importantes da antropologia comparada: “O macho demoníaco” dos americanos Richard Whranghan e Dale Paterson e “Eu, primata” do holandês Franz de Waal. Tais obras apresentam descrições impressionantes e desconcertantes de evidências comportamentais evolutivas que demonstram que nós, os “humanos”, somos, na verdade, uma das cinco classes de grandes primatas juntamente com orangotangos, gorilas, chimpanzés e bonobos. A obra dos norte-americanos tem como foco os comportamentos agressivos: infanticídio, estupro, formação de grupos organizados de extermínio, relações de dominância de machos e fêmeas e entre machos.

O pesquisador holandês dá conta dos comportamentos gregários, ou seja, a solidariedade, a grupalidade e as estratégias de cooperação.
A intersecção entre tais pesquisas está no fato de que os demais grandes primatas são mais “humanos” do que imaginávamos e nós, pobres cabeçudos sem pêlo somos quase gêmeos genéticos de chimpanzés e bonobos, uma corda esticada entre o primeiro, um assassino estuprador cruel que resolve questões de sexo com poder e o segundo, um sátiro das florestas, uma criatura dócil, sensual que resolve questões de poder com sexo.

Os chimpanzés são machistas, violentos e ciumentos (a palavra ciúme vem de cio, quando machos enlouquecem com feromônios a ponto de lutar e estuprar). Já os bonobos conseguiram eliminar a tensão do cio, as fêmeas estão sempre disponíveis e suas comunidades são imensos suingues em plena floresta, além de as fêmeas desenvolverem um sistema de cooperação e cuidado intenso dos filhotes que elimina a dominação masculina.

De Hitler a Ghandi, de Átila, o Huno, a Buda...
Alguns dias, duas notícias curiosas percorreram o mesmo telejornal: em uma cidade do interior, quatro recrutas do exército são acusados de violentar um colega. Em outra cidade, outros seis meninos de 18 anos recém alistados são condenados publicamente por dançarem alegremente nosso hino nacional. A segunda notícia provocou mais escândalo que a primeira...
O que escolhemos nós, afinal?


Por Fábio Dal Molin.

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