sábado, 14 de maio de 2011

A nova bolha tecnológica



Novo boom das empresas de internet traz semelhanças e diferenças com relação à explosão e o declínio das pontocom na década passada.

Algum tempo após o boom das pontocom se transformar em um fiasco espetacular em 2000, adesivos de pára-choques começaram a aparecer no Vale do Silício, implorando: “Por favor, Deus, dê-nos outra bolha”. Esse desejo agora foi concedido. Comparado com o resto dos Estados Unidos, o Vale parece a cidade do boom. A demanda por chefes corporativos voltou, os alugueis dos escritórios dispararam, e os salários pagos aos profissionais mais talentosos estão atingindo níveis hollywoodianos, o que não é uma surpresa, considerando os valores atuais das companhias de internet.

O Facebook e o Twitter não estão listados, mas o mercado secundário os avalia em cerca de US$ 76 bilhões (um valor maior que o da Boeing ou da Ford) e US$ 7,7 bilhões, respectivamente. Nessa semana, o LinkedIn, uma rede social para profissionais, disse que espera ser avaliado em até US$ 3,3 bilhões em uma oferta pública inicial (OPI). No dia seguinte, a Microsoft anunciou sua compra do Skype, um serviço de chamadas e vídeo, por impressionantes US$ 8,5 bilhões — dez vezes mais que suas vendas no ano passado e 400 vezes maior que sua renda operacional. E essas são todas companhias de marcas fortes, com clientes em todo o planeta. Os preços parecem ainda mais excessivos para empresas inexperientes no mercado privado (a Color, uma rede social de compartilhamento de fotos, foi recentemente avaliada em US$ 100 milhões, embora ainda seja um serviço não-testado). Ou em qualquer situação envolvendo a China. Houve uma corrida pelas ações do Renren, celebrado como “o Facebook chinês”, e outros gigantes chineses da internet listados no comércio norte-americano.

A mesma coisa outra vez, só que diferente
Então, a história está prestes a se repetir? Aqueles que acreditam que não afirmam que o panorama tecnológico mudou dramaticamente desde o fim dos anos 1990. Na época, poucas pessoas estavam conectadas à internet; hoje existem 2 bilhões de usuários, a maioria deles em novos mercados, como a China. Há doze anos, conexões de banda larga eram raras; hoje elas são onipresentes. E da última vez, muitas novas empresas (como a Webvan e a Pets.com) tinham ambições gigantescas, mas receitas de retorno mínimas; hoje, estrelas da web como o Groupon, que oferece cupons online a seus usuários, e a Zynga, uma empresa de jogos sociais, têm vendas fenomenais e já lucram de maneira admirável.

A brigada do dessa-vez-será-diferente também afirma que a bolha dos anos 1990 se expandiu somente depois que várias empresas de internet flutuaram nos mercados de ações e investidores ingênuos elevaram o preço de suas ações a níveis insanos. Dessa vez as grandes ofertas públicas iniciais para empresas da internet foram poucas, e não há sinais da mania desenfreada no mundo high-tech como da última vez: o índice na bolsa de ações NASDAQ, uma indicativo da indústria tecnológica, tem subido, mas ainda está muito longe do pico de março de 2000.

Em um ponto, os otimistas estão certos. Dessa vez o cenário é, de fato, diferente, mas não porque o ciclo de boom e fiasco tenha desaparecido milagrosamente. É diferente porque a bolha tecnológica em formação está crescendo escondida nos mercados privados e tem uma dimensão global que sua antecessora não tinha.

A bolha está sendo aumentada em parte pelos “investidores-anjos”, muitos deles, homens que fizeram sua fortuna no boom das OPI no fim da década de 1990. Seu poder de fogo financeiro aumentou e eles estão se digladiando por ações em novas empresas de internet. Na hora de investir em companhias mais estabelecidas, como o Facebook e outras grandes companhias de internet, capitalistas tradicionais agora enfrentam a competição de companhias de private-equity e fundos bancários buscando lucros em um sombrio ambiente de investimentos.

Reis das aquisições podem parecer mais sofisticados que as garçonetes que compravam ações das pontocom há uma década, mas muitos dos novatos não sabem muito mais sobre mundo da tecnologia que seus antecessores.

Esse boom também tem horizontes mais amplos que o anterior. Ele foi iniciado por investidores russos. O Skype nasceu na Estônia, a finlandesa Rovio, que produz o popular jogo de smartphone Angry Birds, recentemente acumulou US$ 42 milhões. E na China há o Renren e o Youku, o “YouTube chinês”, que supostamente oferece aos investidores uma chance de lucrar tanto com o extraordinário crescimento do país, quanto com o amplo impacto da internet no comércio e na sociedade. As novas empresas chinesas de internet conseguem avaliações entre US$ 15 e 20 milhões nas rodadas iniciais de financiamento, números bem maiores que o de seus semelhantes norte-americanos.

Essas diferenças terão consequências importantes. A primeira é a de que a bolha se formando no mercado privado pode ser grande demais no momento em que migre para o mercado público. O Facebook pode se transformar no novo Google, e o LinkedIn tem um plano de receitas de retorno bastante sólido. Mas eles serão seguidos por empresas menos robustas — os aspirantes a Facebook e LinkedIn — com preços que foram perigosamente inchados pelo comportamento dos “anjos”.

A animação na indústria da internet na China também pode levar a avaliações pouco realistas no resto do mundo. E a própria China pode fazer com que a bolha estoure eventualmente. Poucos daqueles que correm para comprar ações chinesas consideraram os riscos políticos que essas empresas enfrentam graças à sensibilidade de seu conteúdo. Repressão sobre uma grande empresa de internet poderia agitar os investidores e gerar uma onda desenfreada de vendas, assim como um escândalo financeiro.

E depois que os anjos caírem?
Com sorte, a bolha de internet mais recente causará menos danos que sua antecessora. Nos anos 1990, a euforia da internet causou uma inflação dramática nos preços das telefônicas, que estavam criando infraestrutura para a web. Quando os preços das ações das empresas de internet despencaram, os investidores das telecomunicações também sofreram.

Até agora, não há sinais de efeitos colaterais semelhantes no cenário atual. Mas a globalização da indústria da internet significa que mais pessoas estarão tentadas a se arriscar nas ações do mundo da web, aumentando os riscos no caso de um fiasco.

Quando isso acontecerá? A exuberância irracional raramente dá lugar ao ceticismo racional com velocidade. Logo, algumas apostas nas novas empresas de internet darão certo. Mas os investidores devem ser extremamente cuidadosos na escolha de suas empresas: eles não podem simplesmente depender de alguém que pagará mais no futuro.

E eles talvez queiram colocar outro adesivo em seus carros: “Obrigado, Deus. Agora me dê a sabedoria para vender antes que seja tarde demais”.


Fontes: The Economist - "The new tech bubble"

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Um comentário:

  1. Será que o google vai comprar meu modesto blog por alguns milhões?

    Acho que muita coisa mudou e o impacto de um novo desastre será menos já que existem muitas empresas consolidadas no mercado atualmente.

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