sábado, 9 de abril de 2011

Intolerância religiosa gera violência



Ao queimar um exemplar do Corão no último mês de março, na Flórida, o pastor protestante Wayne Sapp, provocou a ira dos muçulmanos que no Afeganistão atacaram a representação da ONU e mataram vários funcionários da organização, alguns decapitados, numa atitude revoltante. Em 2005 a fúria muçulmana foi originada pelo episódio das charges,com caricaturas do profeta Maomé,publicadas num pequeno jornal dinamarquês.O mundo muçulmano entrou em clima de guerra e o redator-chefe do jornal foi ameaçado de morte.

Há dez anos atrás o 11 de setembro foi motivado pela mesmo motivo,isto é, o fanatismo religioso.Ele vem sendo o grande responsável pelas mais violentas atrocidades cometidas nos últimos anos em diferentes regiões do mundo. No inicio dos anos 90 Samuel Huntington, professor de Harvard, em um artigo denominado Choque do Futuro, afirmava que “a fonte de conflito desse novo mundo não será essencialmente ideológica, nem econômica.

As grandes divisões da humanidade e a fonte predominante de conflito serão de ordem cultural. As nações-estados continuarão a ser os agentes mais poderosos nos acontecimentos globais, mas os principais conflitos ocorrerão entre nações e grupos de diferentes civilizações. O choque de civilizações dominará a política global. As linhas de cisão entre as civilizações serão as linhas de batalha do futuro”. Os episódios relatados na abertura deste texto mostram,com muita clareza,a existência de dois mundos crescentemente hostis,confirmando a previsão de Huntington,segundo a qual as grandes divisões da humanidade e a fonte predominante de conflito serão neste século eminentemente culturais,passando pelas religiosas.Esta postura é paradoxal diante de um mundo marcado pela globalização econômica e das comunicações.Então qual é a razão?É preciso lembrar que civilizações diferentes têm concepções diferentes das relações entre Deus e os homens, os cidadãos e o Estado, pais e filhos, liberdade e autoridade, igualdade e hierarquia.

Essas diferenças foram produzidas ao longo de séculos.Não desaparecerão em pouco tempo.São muito mais elementares do que as diferenças entre ideologias e regimes políticos.Não podemos esquecer que ao longo dos séculos,foram as diferenças entre civilizações que geraram os conflitos mais violentos e prolongados.Também as mudanças econômicas e sociais estão separando as pessoas das identidades locais formadas há muito tempo.

Em boa parte do mundo, a religião tomou a si a tarefa de preencher esse hiato,com freqüência na forma de movimentos denominados fundamentalistas.Estes movimentos são encontrados no cristianismo ocidental,judaísmo,budismo,hinduísmo e islamismo.No caso dos países islâmicos o fundamentalismo varreu todas as liberdades que no Ocidente consideramos inalienáveis como o direito de liberdade de expressão.

Valores que nos parecem óbvios,são estranhos para o mundo muçulmano,historicamente subordinado – com raras exceções – a regimes absolutistas e aos ditames do Alcorão.Agora mesmo há uma grande expectativa sobre como ficará o Oriente diante da onda avassaladora de rebeliões que acontecem em vários países da região.Teme-se o avanço do radicalismo islâmico, substituindo governos laicos.Os conceitos do Ocidente diferem muito dos que prevalecem em outras civilizações.

As idéias ocidentais de individualismo,direitos humanos,constitucionalismo,igualdade,liberdade de expressão,separação de Igreja e Estado têm,com freqüência,pouca repercussão nas culturas islâmica,confuciana, japonesa,hindu,budista ou ortodoxa. É bem verdade que volta e meia, entre nós, deparamos com episódios vergonhosos marcados por preconceito e intolerância.

É o caso, por exemplo, da entrevista homofóbica,racista e preconceituosa dada pelo deputado Bolsonaro a um programa de televisão.O parlamentar,remanescente da ditadura militar, demonstrou toda a sua estupidez,aliás, o seu único “predicado”.A verdade é que o caminho está na aceitação do outro, da sua cultura.

No caso do Ocidente-Oriente é preciso desenvolver uma compreensão muito mais profunda dos pressupostos religiosos e filosóficos que formam o alicerce destas civilizações e uma entender a forma de agir da outra.A intolerância só gera violência.

por José Ernani de Almeida.

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Um comentário:

  1. O pastor errou ao desrespeitar a crença do outro, queimando o Corão. Mas matar e ainda de forma cruel para VINGAR? Isso está muito distante de DEUS. A intolerância existe, está cada vez mais presente e forma bem clara - é uma coisa declarada. Deus prega o amor, então devemos seguir isso e não matar e ainda dizer que foi em nome de Dele. É um absurdo. Eu também penso que essas crenças estão muito mais ligadas a fatores culturais do que à prórpia causa espiritual. A polítia também é inserida nesse contexto.

    Abração, William.

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