terça-feira, 29 de março de 2011

Vereador desabafa: Somos saco de pancada



Político virou saco de pancada. Certo ou errado, justo ou injusto, honesto ou desonesto, tanto faz, todos batem. Terremotos, tsunamis, vendavais, acidentes automobilísticos, aéreos, marítimos, roubos, latrocínios, drogas, enfim, todas as mazelas da humanidade são tributadas aos políticos. É mais cômodo e democrático culpá-los.
Todos dizem e quase ninguém contesta que a origem desses males são os políticos. Difamá-los tornou-se a preferência nacional. Em qualquer esquina, bar, jornal e televisão, a sentença é sempre a mesma: é culpa dos políticos. Não é um ato democrático contrapor-se a esse julgamento, afinal, o povo sempre tem razão.
Na Medicina, quando não se pode diagnosticar com precisão, diz-se que o paciente tem uma virose. No sistema republicano, é igual. Prefere-se a condenação genérica e sistemática dos políticos à repartição das responsabilidades entre todos os cidadãos. Todos são exemplares, não roubam, não matam, não sonegam impostos, cuidam de suas famílias e amam o seu semelhante, exceto, é claro, os políticos.
Todo o indivíduo ativo na vida de um grupo social, com influência na maneira como a sociedade é governada, é um político. É irrelevante para a definição o fato de deter ou não mandato eletivo. Contudo, para a esmagadora maioria, só são políticos os investidos de mandatos. É contra estes que se volta a ira popular.
É insofismável o fato de que há entre nós muita corrupção e muitos políticos envolvidos. Porém, não é menos verdade que não há corrupto sem corruptor. Esse silogismo leva à conclusão de que há muitos republicanos “honestos” metidos nessas falcatruas. Poderíamos, ainda, extrair uma segunda conclusão: todos somos iguais. Contudo, não se trata de uma premissa verdadeira. A maioria dos cidadãos, políticos ou não, são honestos.
A pecha genérica de desonesto que recai sobre a classe política, sem embargos a outras origens, decorre do amortecimento da consciência do povo em geral que perdeu a capacidade de discernimento, tornado-se massa de manobra dos grandes financiadores da corrupção. Repetem inconscientemente os bordões que lhes foram introjetados. Some-se a isto, o fato de que as pessoas, de um modo geral, têm aversão a tudo o que representa uma restrição ao seu modo de pensar e agir. Os políticos, no seu mister de governar, confrontam interesses e, por consequência, despertam esse fenômeno sociológico, tão bem sintetizado pelo adágio castelhano: “se hay gobierno, yo soy contra”.
Não desejo fazer uma declaração de inocência da classe política. Pretendo apenas que reflitamos sobre esse comportamento generalista, que ofende as pessoas de bem e afasta os cidadãos honestos do governo.
Para concluir, conto-lhes um episódio recentemente ocorrido comigo. Logo após as 19h, o motorista de um caminhão Mercedes Benz, Trucado, com carroceria tipo baú, esmerava-se em uma manobra complicada. Tentava estacionar defronte à Rádio Nativa, pela República do Líbano. Uma senhora, moradora daquela rua, assim que percebeu a movimentação, veio à porta da casa, quando, então, vendo-me ali parado, disse: vereador, o senhor precisa fazer alguma coisa, não é admissível que se permita que caminhões desse porte transitem no centro da cidade, arrebentando os fios de energia elétrica, TV a cabo e telefones.
Na sequência, dirigiu-se ao motorista e repetiu a reclamação, ponderando sobre a minha presença e a demanda que me havia feito. O motorista, de forma hábil e gentil, beijou a mão da senhora, dizendo-lhe que, se não estacionasse ali, ela ficaria sem flores (estava abastecendo uma floricultura), com o que se acalmou. Ato contínuo, dirigiu-se a mim, a quem culpou pelo episódio. Segundo o condutor, os políticos criaram o estacionamento rotativo para ganhar dinheiro e, por essa razão, ele não tinha outra escolha para estacionar. Impressionante, os conflitantes, após uma troca de gentilezas, harmonizaram-se, enquanto eu, antes mesmo de emitir qualquer opinião, consegui a façanha de ser contestado por ambos e por razões diversas.
A propósito do sucedido, eu gostaria de saber a sua opinião. Quem tem razão? Um momento, por favor. Devo lembrar-lhe que, assim que tomar uma posição, independente de qual seja, terá se transformado em um político, posto que este, por definição, é todo o indivíduo ativo na vida de um grupo social, com influência na maneira como a sociedade é governada.
Prepare-se, daí para frente será um ex-honesto. Terá de suportar democraticamente ofensas de toda a ordem, justas ou injustas, tanto faz, você é um político.


Por Delamar Corrêa Mirapalheta.

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2 comentários:

  1. Pois é, o mal maior é que somos uma sociedade politicamente analfabeta, e ninguém admite erros pessoais, ademais as pessoas são contraditórias, ufanistas pensando em termos de oportunidades, conforto físico e conveniências. Logo, culpam os políticos por quase tudo, tenham eles ou não culpas comprovadas. Outrossim, os políticos que arquem com este fardo, uma vez que contribuem para que ele cresça, sendo que a percepção negativa da população tem raízes fundamentadas

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  2. "O pior analfabeto que tem, é o analfabeto político." Quem disse isso mesmo, hem? Pois é, o brasileiro é mestre em cobranças e doutor em reclamações. Sofre de um incrível complexo de inferioridade, sem perder a pose. Acredita piamente na imprensa, que lhe vende a falsa imagem de defensora dos interesses do povo e deconfia de todo e qualquer político. E assim, sem saber fazer a menor distinção entre seus amigos e seus inimigos, aqui ou acolá, segue sua vidinha fútil, com muita cerveja, carnaval, futebol e BBB. Adora reclamar dos políticos que lhe concederam o vale transporte, ignorando o fato de que eles não são os responsáveis por fiscalizar as condições dos ônibus superlotados que lhe farão chegar cansado ao trabalho durante toda a semana. Colocando a culpa de tudo no político é mais fácil se abster de pensar, estudar e se informar sobre nossos representantes. Afinal, manter-se informado dá muito trabalho e brasileiro não tem tempo! Melhor sentar em frente à televisão e ver o resumo das notícias daquele jornal tendencioso que passa antes da novela. Ah novela! Agora sim estamos falando de algo que brasileiro entende!

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