quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

A globalização da "esperança".



Países emergentes enxergam um futuro melhor, enquanto mundo rico sofre com pessimismo.

“Esperança” é um dos termos mais saturados na vida pública, juntamente com “mudança”. Apesar disso, é algo que faz toda a diferença. Políticos prestam bastante atenção aos indicadores que determinam os caminhos certos e errados. A confiança determina se os consumidores gastam ou não e se as companhias investem ou não. O “poder do pensamento positivo” é enorme, como notou Norman Vincent Peale.
Nos últimos 400 anos, o Ocidente gozou de uma vantagem sobre o resto do mundo no campo do otimismo. Seus intelectuais sonharam com ideias de iluminação e progresso, e seus homens práticos desenvolveram a tecnologia para impor sua vontade ao resto do mundo. Os Pais Fundadores dos Estados Unidos, que acreditavam firmemente que o país que criaram seria melhor que qualquer outro até então, ofereceram aos cidadãos não somente vida e liberdade, mas também a busca pela felicidade.
Isso não quer dizer que o Ocidente estivesse livre da brutalidade. Na verdade, a busca pela Utopia pode trazer à tona o melhor e o pior da humanidade. Mas a noção de que a condição humana era suscetível a melhoras contínuas encontrou maior espaço no mundo do materialismo científico ocidental do que, por exemplo, no sistema de castas indiano, ou no regime de servidão da Rússia.
Agora, a esperança está crescendo. De acordo com o Pew Research Centre, 87% dos chineses, 50% dos brasileiros, e 45% dos indianos, acreditam que seus países estão caminhando na direção correta, números muitos maiores do que os registrados no Reino Unido (31%), Estados Unidos (30%) e França (26%). As companhias, nesse meio-tempo, apostam em “mercados emergentes” e deixam de lado o mundo desenvolvido. “Vá para o Oriente, meu jovem” deve se tornar o grito de guerra do século XXI.
O crescente pessimismo do Ocidente está reconfigurando a vida política. Dois anos após a posse repleta de esperança de Barack Obama, o clima em Washington continua tão depressivo como vem sendo desde que Jimmy Carter afirmou que os Estado Unidos sofriam de um “mal-estar”. O sonho dos democratas, de que o país estava às vésperas de um renascimento liberal no estilo dos anos 1960, foi por água abaixo nas eleições de novembro. Mas os republicanos tampouco estão esperançosos: sua crença os direciona à raiva e ao ressentimento, e não ao otimismo da era Reagan.
A Europa, por sua vez, viu protestos, muitos deles violentos, nas ruas de Atenas, Dublin, Londres, Madri, Paris e Roma. Com os países na periferia da União Europeia passando por crises econômicas, esse cenário não chega a ser uma surpresa, mas o pessimismo também ataca a parte mais bem-sucedida da Europa. O livro mais vendido na Alemanha é “Deutschland schafft sich ab” (“A Alemanha se auto-sabota”), um longo discurso sobre o “fato” de que mulheres menos capazes (particularmente muçulmanas) estão tendo mais filhos do que aquelas mais brilhantes. Intelectuais franceses logo terão “La France est-elle finie?” (“A França acabou?”), de Jean-Pierre Chevènement, em suas prateleiras, ao lado de “Mélancolie française” (“Melancolia francesa”), de Éric Zemmour.
A explicação imediata para essa assimetria é a crise econômica, que não somente abalou a confiança dos ocidentais no sistema que construíram, mas também aumentou a disparidade de crescimento entre as economias maduras e emergentes. China e Índia têm um crescimento anual de 10% e 9%, enquanto os Estados Unidos e a Europa registram índices de crescimento de 3% e 2%, respectivamente. Os índices de desemprego em muitos países europeus são considerados uma catástrofe, até mesmo para seus padrões: 41% dos jovens espanhóis estão desempregados, e a grande máquina norte-americana de empregos parece que está emperrada: uma em cada dez pessoas está desempregada, e mais de um milhão de pessoas podem ter desistido de procurar emprego. Mas a mudança é mais profunda que isso — ela atinge os sonhos que impulsionaram o Ocidente.
Na maior parte de sua história, os Estados Unidos mantiveram a promessa de dar ao seus cidadãos uma boa chance de levar uma vida melhor que a de seus pais. Mas, atualmente, menos da metade dos norte-americanos credita que os padrões de vida de seus filhos serão melhores que os seus. A experiência os deixou sorumbáticos: a renda do trabalhador médio se manteve, de certa forma, estagnada desde os anos 1970, e, graças a uma combinação de escolas decadentes e escassez de trabalhos medianos, a mobilidade social nos Estados Unidos agora está entre as menores do planeta.
Os sonhos europeus são diferentes dos norte-americanos, mas são igualmente importantes no que diz respeito à esperança de um futuro pacífico e próspero. Eles surgem em duas variações: um aprofundamento da Uniao Europeia (banindo o nacionalismo), e Estados de bem-estar social cada vez mais generosos (oferecendo segurança). Com a possibilidade da dissolução do euro, e governos afundando com os fardos de obrigações legais além de suas possibilidades econômicas à medida em que sua população envelhece, e do número de contratos de trabalhos, as ideias de felicidade estão evaporando.
No mundo emergente, enquanto isso, o povo não está discutindo pensões, mas sim construindo universidades. A população universitária da China quadruplicou nos últimos 20 anos. A UNESCO afirma que a proporção de pesquisadores científicos no mundo emergente aumentou de 30% em 2002 para 38% em 2007. Companhias de alto nível, como a indiana Infosys e a chinesa Huawei estão derrotando rivais do mundo desenvolvido.
O aumento do pensamento positivo no mundo emergente é algo a ser celebrado — pois desafia o status quo. Nandan Nilekani, da Infosys, afirma que o grande feito de sua companhia não está na produção tecnológica, mas em redefinir os limites do possível. Se pessoas em outros países levarem essas ideias a sério, tornarão a vida desconfortável para os gerontocratas da China e da Arábia.
Mas há outros perigos. O otimismo pode se transformar em exuberância irracional: preços de bens em alguns mercados emergentes podem ter aumentado demais. E há o perigo da retaliação ocidental. A menos que países em desenvolvimento comecem a levar suas responsabilidades pela segurança global a sério, norte-americanos e europeus podem começar a se perguntar por que estão policiando o mundo para manter os mercados abertos para o enriquecimento dos outros.
Além disso, a depressão ocidental tem sua utilidade. Há uma noção crescente que o velho mundo rico não pode deixar de valorizar sua prosperidade, e que ele será superado por poderes mais famintos se não souber lidar com seus problemas estruturais. Norte-americanos estão começando a aceitar o fato de que seu país não pode gastar dinheiro indiscriminadamente. Europeus estão percebendo que precisam tornar suas economias mais ágeis e inovadoras. Ambos começam a tratar a crise como a oportunidade que ela é.
Os ocidentais não devem exagerar no desespero, pois a ascensão dos novos grandes poderes também os beneficiará. É verdade que seus governos terão maior dificuldade em mandar no resto do mundo; cada vez mais, suas valiosas propriedades estarão nas mãos de estrangeiros; seus filhos terão que se esforçar mais para conseguir bons empregos numa economia cada vez mais globalizada. Mas o aumento no número de indianos, chineses e brasileiros que podem pagar por seus serviços e produtos ajudarão suas companhias a prosperar. Os países que por muito tempo lhes forneceram trabalhadores, agora também cada vez mais lhes fornecerão consumidores.
Embora não pareça, esse é — em muitos aspectos — o melhor dos momentos para o Ocidente. Centenas de milhões de pessoas estão saindo da pobreza. A internet dá a pessoas comuns informações que nem mesmo o mais privilegiado dos eruditos poderia ter sonhado, anos atrás. Avanços médicos estão derrotando doenças e estendendo a expectativa de vida. Na maior parte da história humana, apenas uns poucos privilegiados foram capazes de esperar que o futuro fosse melhor que o presente. Hoje, as massas em toda parte podem fazê-lo. Essa é decididamente uma razão para manter-se otimista.


Opinião e Notícia.

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2 comentários:

  1. Concluo e sendo um palpite que você concorda que o Governo Lula fez muito por nós, né?!
    Há 8 anos que o País não se via uma situação de calmaria como a que estamos vivendo hj.
    E indo mais além, pesquisando História do Brasil, posso te dizer que faz muito mais de 8 anos que o nosso País não é tão bem visto como hoje, como vem sendo especulado lá fora.
    -
    Belo texto, muito bem redigido. Parabéns. Um presente a todos nós.

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  2. Sabe quem descobriu o Brasil?
    Sabe mesmo ?....


    Pois eu digo para você:


    Foi LULA DA SILVA !!!!

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