sábado, 11 de dezembro de 2010

O MEDO DO NOVO




Rotinas tecnicistas que consomem cada vez mais as pessoas em afazeres do cotidiano. Acúmulo de atividades que não permitem simples reflexões sobre a existência. Náusea. Melancolia profunda. Apatia. Ansiedade. Sensação de compor uma pequena peça numa grande engrenagem.
Eis alguns dos sintomas atuais desta sociedade em transformação, que descortina novas e novas descobertas científicas a cada dia, da nanotecnologia à neurociência. Que assiste o desabrochar de novas e interativas mídias que colocam em contato pessoas de todos os quadrantes do mundo em tempo real. Que instiga desejos aos inúmeros desejos não satisfeitos do homo sapiens contemporâneo. Trata-se de um paradoxo? Talvez. Ao menos, tratam-se das incertezas de uma contemporaneidade envolta em areia movediça.
Não obstante as crescentes novidades deste mundo em ebulição, grande parte das pessoas mantém rotinas inalteradas, que se repetem no dia-a-dia. Os mesmos afazeres. As mesmas escolhas. Os mesmos gostos e opiniões. Os mesmos agires e olhares. É muito fácil criar um quadro de alienação, deixando-se envolver mecanicamente com as atividades do dia-a-dia. Heidegger já alertou, no início do séc. XX, destes riscos. Enquanto isso, o mundo se complexiza e engole os incautos nesta complexidade crescente e indomável.
E então, qual a razão deste prolegômeno? Este intróito possibilita que se reflita sobre inovação. Eis uma das chaves para o rompimento com o marasmo, cuja expansão traduz o fenecimento e a ocultação do ser. Mais do que isso, o marasmo amorna relações, deixando em preto e branco as cores da existência. É o tanto faz. O dito pelo não dito. É aceitar a vida levar ao invés de levar a vida.
A inovação é crucial para o enfrentamento dos problemas do dia-a-dia (também mais complexos) e para permitir novos olhares e novas posturas para atuais e antigas situações e relações. É preciso se deixar desafiar pelo cotidiano a fim de enfrentá-lo e superá-lo. Fazer as mesmas coisas do mesmo jeito é fácil, porém, aonde se chega?
Não se deve esquecer que o ser humano muda, a todo o instante. Nunca se é o mesmo. Cada fração do tempo induz à morte e ao surgimento de uma nova parcela do ser, às vezes imperceptível. É por isso que cada leitura de um texto conduz a uma interpretação diferenciada. Eis a hermenêutica, que remete ao novo que exsurge permanentemente em cada pessoa.
Entretanto, não se inova somente com idéias. É preciso ousadia e autenticidade, em outras palavras, é preciso mais de Nietzsche e do seu inabalável impulso ao super-homem. A inovação decorre de novas idéias aplicadas no mundo da vida, com a valoração dos outros. É fruto de mentes pró-ativas, que se incomodam com o comodismo e que sabem (mesmo que intuitivamente) que há mais, muitos mais além do horizonte e que o bom o suficiente nunca deve ser suficientemente bom!
O lusitano Miguel Torga, com sua poesia Guerra Civil, pode ajudar: “É contra mim que luto. Não tenho outro inimigo. O que penso. O que sinto. O que digo. E o que faço. É que pede castigo. E desespera a lança no meu braço. Absurda aliança. De criança. E de adulto. O que sou é um insulto. Ao que não sou. E combato esse vulto. Que à traição invadiu e me ocupou. Infeliz com loucura e sem loucura. Peço à vida outra vida, outra aventura. Outro incerto destino. Não me dou por vencido. E agrido em mim o homem e o menino.”
Pois é. Reflexões conturbadas para tempos de efervescência. De qualquer forma, ficam as dicas. Inove. Não tenha medo do fracasso. Só não erra quem nada faz. A pior derrota é aquela que se perde para si. O empedernimento em estátua é o prelúdio da morte. É neste contexto que fica a pergunta:
qual foi a última vez que você fez algo diferente e melhor?

Por Giovani Corralo.

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Um comentário:

  1. Amigo
    A ultima vez que fiz algo diferente e melhor, foi quando fui pai pela segunda vez. ahahah.
    Falando sério. O ser humano é sempre insatisfeito. busca mudanças e se adapta perfeitamente ao novo. Não importa se for aqui ou em outro planeta.

    abs

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