sexta-feira, 5 de novembro de 2010

“Todo ponto de vista é a vista de um ponto”



Antes de formularmos e manifestarmos quaisquer pensamentos, conceitos ou preconceitos a respeito de algo ou alguém, é interessante atentarmos para a célebre frase de Leonardo Boff que intitula o presente artigo, a qual faz parte de seu livro A Águia e a Galinha.
Isto porque todos enxergam o mundo e elaboram seus pontos de vistas (conceitos) de acordo com o ponto em que estão, seja este ponto real e concreto ou imaginário e psicológico. Como Leonardo mesmo disse no citado livro, a cabeça pensa de acordo com o lugar onde pisam os pés e, por isso, nós que somos pais e professores precisamos fazer de nossos lares e escolas um lugar justo a todos, com igualdade de condições.
A escola e a casa devem ser lugares em que a criança aprenda desde cedo a pluralidade do mundo, no qual situações e circunstâncias podem contribuir para determinado condicionamento de pessoas. As nossas escolas precisam ser lugares que permitam a criança ler e interpretar a realidade com um olhar amplo, sem fazer preconceitos que podem afloram atitudes de violências de diversas ordens.
Como são e estão os nossos olhos? Estão fechados apenas em nosso mundo? São e estão abertos para compreender e respeitar a realidade do outro, assim como suas experiências e inexperiências?
Torna-se cada vez mais importante ampliarmos nossa visão de mundo diante daquilo que já nos é comum, ou seja, para aquilo que já nos acostumamos a ver e a viver, tais como situações de injustiças, violências, dores e muitas lágrimas que escorrem em rostos que, muitas vezes, são alheios a nós, deixando-nos indiferentes, pois estamos trancafiados dentro da nossa confortável realidade.
Ao treinarmos nosso olhar para promover a ampliação de nossa visão de mundo, precisamos ser cautelosos para não subjugarmos ainda mais as pessoas que estão, momentaneamente ou não, sendo alvos de nossas posições (sociais, físicas...) ou pontos de vistas. Do lugar onde estão, muitos são aqueles que olham para as pessoas que estão em pontos diferentes dos dele e a julgam inferiores, tendência que muitas pessoas da sociedade têm de transformar a vítima em culpada.
É preciso respeito ao que se apresenta de maneira diferente daquilo que estamos acostumados dentro do nosso universo particular, pois as diferenças são riquezas que nos completam e nos fazem cada vez mais próximos da plenitude da vida e do amor. Na sala de aula, uma das possíveis causas de tantos dissabores possivelmente seja o fato de que as diferenças entre a realidade do professor e do aluno não estão sendo respeitadas e compreendidas pelos envolvidos no processo em que se está vivendo num determinado momento ou lugar.

Para se ter um bom relacionamento com o aluno, o professor não precisa ser igual a ele e anular o que julga ou não correto e aceitável. Não, de forma nenhuma. Da mesma maneira, é preciso fazermos chegar ao conhecimento do aluno que ele não precisa ser como o professor ou seus pais, ainda que estes precisem adotar um comportamento de exemplo do que ensina e transmite em sala de aula e em casa. Ambos, tanto professores quanto alunos podem viver em harmonia mesmo sendo tão diferentes uns dos outros.

Desta maneira, é fundamental compreendermos que, assim como acontece conosco, os pontos de vistas do nosso aluno advêm do lugar onde ele está inserido e da situação que ele está vivendo ou que, por algum motivo, acredita que está ou não vivendo. Às vezes os problemas que o aluno apresenta como causas de seu mau relacionamento com o outro e consigo mesmo são pequenos e insignificantes para seus pais e professores, mas nem por isso devem ser desconsiderados, pois é a maneira como o mundo está sendo lido e interpretado por ele, uma vez que “cada um lê com os olhos que têm”.
Nossa missão e ampliar a capacidade de leitura de mundo de cada um de nossos filhos e alunos, contribuindo para a construção coletiva de um mundo mais justo e igualitário para todos, diminuindo, desta forma, a rivalidade e o preconceito que só nos impedem de melhorar nosso papel de pais e professores de jovens tão ávidos por ser compreendidos e exercer a compreensão.


Por Erika de Souza Bueno.

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Um comentário:

  1. Olá William,
    Excelente postagem. Creio que tudo se resume na frase que "cada um lê com os olhos que tem".
    O importante é alimentar a capacidade de conhecimento dos nossos "olhos" para que possamos aumentar nosso campo de visão da realidade.
    Obrigada por compartilhar.
    Abraços.
    Sonia Costa

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