quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Plantbottle, a garrafa ecológica



A nova garrafa é considerada ecológica pelo fato do etilenoglicol advir de uma fonte natural renovável, ou seja, de plantas.
A maior fabricante de refrigerantes do mundo, a Coca-Cola, anunciou desde o ano passado a fabricação de uma garrafa de plástico que agride menos o meio ambiente do que a garrafa tradicional. Este mês ficaram mais frequentes as propagandas anunciando que algumas garrafas deste tipo já estão sendo comercializadas no Brasil, ressaltando os aspectos sociais e ambientais dessa iniciativa que, diga-se, foi voluntária.
Só que, assim como a garrafa antiga, a nova também é feita de PET, a sigla para o plástico poli(tereftalato de etileno). Se também é feita de PET, por quê a nova garrafa é melhor?
Para responder à pergunta é necessário entender como o PET é feito. A forma mais comum de se produzir PET é misturar num reator o ácido tereftálico e o etilenoglicol, provenientes do xileno e do etileno, respectivamente. Estes são originados a partir de uma série de processos feitos com a nafta, um dos produtos do petróleo, assim como a gasolina, diesel e querosene. Assim, a garrafa convencional é 100% derivada do petróleo, ou seja, uma fonte natural esgotável.
A nova garrafa é considerada ecológica pelo fato do etilenoglicol advir de uma fonte natural renovável, ou seja, de plantas. É mais ou menos como comparar o diesel de petróleo com o biodiesel e considerar o biodiesel, por advir de plantas, menos agressivo, apesar de ser química e energeticamente muito similar ao diesel de petróleo. Não tem nenhuma mentira nisso.
As plantas, enquanto estiverem em crescimento, consomem da natureza, através da fotossíntese, o gás carbônico, que é o principal gás de efeito estufa. O biodiesel e o etilenoglicol advindo de plantas garantem que, ao invés de virem de uma fonte esgotável vieram de fonte renovável e que há, por conta deles, um pouquinho menos de gás carbônico no planeta, diminuindo a velocidade do aquecimento global.
Segundo o portal internacional da Coca-Cola (www.thecocacolacompany.com/citzenship/plantbottle_sourcing.html), a matéria-prima para a obtenção do etilenoglicol usado para a fabricação do PET da garrafa ecológica é o melaço da cana-de-açúcar brasileira, mais especificamente a paulista. Segundo a empresa, os fornecedores do melaço são aqueles cuja cana foi colhida mecanicamente (o que evita as queimadas) e veio de plantação com irrigação natural (chuva) ou com biofertilizantes (fertirrigação com vinhoto, subproduto do beneficiamento da cana). Outro aspecto interessante da cana paulista, segundo a empresa, é que as plantações localizam-se mais de 2.000 km distantes da floresta amazônica.
A matéria-prima para a fabricação deste tipo de etilenoglicol advém da fabricação do açúcar em usinas. Nesses locais, a cana é esmagada e o caldo é fervido, o que cristaliza boa parte do açúcar presente e o melaço sobra para ser retrabalhado (nova fervura para tentar extrair mais açúcar) ou vendido a eventuais interessados.
O melaço paulista é direcionado para a Índia, onde é convertido em etanol (semelhante ao álcool combustível) e este é desidratado em etileno, quimicamente idêntico ao etileno proveniente da nafta do petróleo. O etilenoglicol fabricado a partir deste etileno é vendido para as fábricas de PET de vários países do mundo (inclusive do Brasil), que o misturam com o ácido tereftálico (ou com outro componente, o tereftalato de dimetila, ambos derivados do petróleo) e obtém-se o PET. Em termos de peso, o etilenoglicol responde por cerca de 30% das matérias-primas da fabricação do PET e é por isso que a empresa diz que a garrafa é feita até 30% à base de plantas.
Uma vez pronto, o PET é injetado e soprado na forma de garrafas, que são preenchidas com refrigerante. Aí você toma o refrigerante e tem a opção de jogar a garrafa vazia na rua, no rio ou no lixo, ou ainda encaminhá-la para a reciclagem, obviamente a única opção correta de todas. Porém, com o PET reciclado é feita uma série de produtos, menos novas garrafas de refrigerante, pois uma lei proíbe o uso de plástico reciclado em contato direto com alimentos. Isso porque, ao contrário dos vidros e dos metais, durante a reciclagem os plásticos são derretidos em temperaturas relativamente baixas, o que não garante que eventuais impurezas nocivas à saúde tenham sido destruídas.
Ou seja, quando você quiser tomar refrigerante de novo, vai precisar de nova garrafa, feita com, no mínimo, 70% de matérias-primas provenientes de fontes esgotáveis. Ou seja, a PlantBottle é apenas um passo a frente numa caminhada muito longa. E põe longa nisso.


por Sandro Donnini Mancini (mancini@sorocaba.unesp.br)

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2 comentários:

  1. Muito interessante, quando ouvi no comercial falarem sobre 30%, me vieram esses pensamentos, que aqui estão muito bem colocados.

    Espero que com pequenos passos cheguemos no tão almejado futuro ecológico.

    Parabéns pelo texto.

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  2. Que exemplos como este sirvam para outras empresas. Muito boa a matéria.

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