sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Opinião e palpite tem diferença ?



Nos dias correntes, de superexposição, há quem esteja confundindo dois conceitos muito diversos: a opinião e o palpite. Opinião é (ou deveria ser) resultado de uma análise de conjuntura, um ponto de vista fundamentado. Ou, no mínimo, produto de uma consistente reflexão. Neste sentido, ninguém de bom senso opina sobre o que desconhece, nem que seja por autopreservação. Já o palpite é diferente: ele é uma espécie de aposta. Não por acaso, ao jogar na loteria ou nos cavalos, denominamos de palpite nossa fé no sucesso da aposta. Enfim, quem apenas acha é porque, na certa, desconhece.
Vira e mexe me pedem opiniões sobre temas variados. Acho que são os óculos que, carinhosamente, denomino de inteligência artificial. Outro palpite é o ar de bom moço, centrado, que me persegue ora para o bem, ora só para atrapalhar. Isso não vem de hoje e tem se agravado na medida em que os anos de crônica se empilham em minha biografia – nada mais opiniástico do que este gênero híbrido de jornalismo e literatura. Não me iludo ou envaideço. Afinal, pedem-me opiniões aqueles que, com bom aporte financeiro, compram pareceres, diagnósticos, projeções... Mas, cuidado: jamais acreditem em meus palpites. São todos furados.
Tenho lutado diuturnamente para fugir da tentação de achar coisas. Sou o pior palpiteiro do mundo. Para minha esposa, com quem divido a rotina, venho repetindo um mantra: não acho nada. Ainda mais que, lentinho como sou, demorei quase meia vida para me dar conta de que 80% das perguntas das mulheres são absolutamente retóricas. E o índice sobe para 100% quando se refere à aparência, principalmente ao despirem o quinto vestido. Mas, mesmo nas miudezas da vida, naquilo que pouco influenciará nossa história, erro a mão com uma constância desanimadora. E sofro com as consequências, culpando-me num eterno flagelo interno. Pior: quando, malandro, resolvo contrariar meu palpite, esqueço que ir contra o palpite também é um palpite. Falho igual.
Por exemplo, nessa semana. Vínhamos de um dia escaldante e passamos uma noite abafada. Escutei a previsão do tempo com seu alerta para a chegada de uma frente fria destinada a, primeiro, provocar vento e chuva para, depois, nos ofertar frio e geada. Vinha do Uruguai e da Argentina e mudaria o tempo no decorrer do período. Mas passava das nove da manhã e o sol ainda brilhava no firmamento. A patroa tinha um compromisso profissional e me perguntou se deveria levar um casaco. Indaguei a que horas eu a buscaria de volta. No máximo às duas da tarde, garantiu. Caí em tentação. Não escutei a voz da consciência e seu necessário mantra. Palpitei: acho que não...
Quando ligou para ir buscá-la, pediu para que não me esquecesse de pegar o casaco que eu dissera dispensável. Chovia para cima, para baixo e para os lados. A temperatura descera uns dez graus centígrados quase instantaneamente. O tal período da previsão decorrera correndo. Sua gripe piorara a ponto de ela estar afônica do outro lado da linha. Um desastre aquele meu palpite.
Agora, quer saber a minha opinião sobre o fato? Foi tudo culpa minha. Como contrição, devo escrever cinco laudas em corpo oito: não acho nada; não acho nada; não acho nada; não...


Rubem Penz

“Quem acha vive se perdendo”
Noel Rosa


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3 comentários:

  1. Adorei a crônica... Como "palpiteira" que sou, me senti na sua pele.
    Muito boa mesmo!

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  2. OI Willian. Tem outra diferença entre opinião e palpite. Opinião quase sempre é baseada na certeza, enquanto o palpite traz consigo uma aposta frente ao desconhecido, ao achismo. Tenho uma dúvida, será que podemos colocar a ambos na categoria conselho?

    Nenhuma grande descoberta foi feita jamais sem um palpite ousado.
    Isaac Newton

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  3. Concordo com a ótima e sábia colocação do nosso amigo Zango,
    um grande abraço a todos e tenha um sábado abençoado,
    Valeu William,
    seu amigo
    MARIVAN

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