quinta-feira, 4 de novembro de 2010

O sinal vermelho é a vez dos outros



A gente ensina para as crianças que precisam esperar a vez para falar, que o outro tem direito de pensar diferente, que tem direito de expressar sua opinião, que na fila da escola não é para ficar empurrando o coleguinha e que dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar.
Apesar de toda nossa oratória, fazemos tudo diferente. Quarta-feira última chamou-me a atenção o número de carros que passavam no sinal vermelho. Não era nem dez da noite, o mundo não estava acabando e nem mesmo o jogo de futebol estava começando. Não era caminho de nenhum hospital e provavelmente nenhuma daquelas pessoas precisava acudir alguém em perigo.
Alguns reduziam a velocidade, outros nem isso. Dois carros que subiam a avenida em declarada competição passaram sem mesmo diminuir a velocidade, no mesmo cruzamento onde tivemos uma morte há menos de um ano.
Um motociclista de entregas fez um malabarismo para não cruzar o caminho dos apressados.
Muito provavelmente nenhum deles saberia responder por que a pressa, por que a urgência. É apenas o costume. Precisamos arrancar na frente, precisamos ser os mais rápidos, precisamos chegar antes, usando os automóveis como armaduras modernas.
Um dos carros, ao atravessar o sinal, estava com crianças.
Percebi que os motoristas que ficaram impassíveis esperando o semáforo tornar-se verde, sentem-se quase envergonhados, bobos que somos por seguir regras, não estar lá na frente, não aproveitar, levar vantagem em tudo, como o personagem do antigo comercial.
Como na lição do jardim de infância, o sinal vermelho é a vez do outro. E se não estamos ensinando isso para nossas crianças, um dia, duas delas podem se chocar numa dessas esquinas, imitando o comportamento tantas vezes observado em seus pais. Tomara que não sejam nossos filhos.


Estela Casagrande. ( estela.casagrande@jcruzeiro.com.br)

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Um comentário:

  1. Parabéns amigo, comportamentos deste tipo temos que ir Metendo o Bico, para refletir, para mudar.
    Genial o titulo que diz tudo "...é a vez do outro..." respeitemos aguardando a nossa vez.

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