Você sabe com quem está falando?

É amigos, ainda não acabou! Preparem seus ouvidos e mentes para o segundo turno das eleições 2010. E quem não tem paciência alguma para esse momento civil já deve estar puxando os cabelos e pedindo a Deus para acabar logo, tipo quando se vai ao dentista desejando nunca ter tido dentes para que fossem arrancados. Mas fé, amigos. Vamos fazer nossa parte com empenho, pois o pior já passou. Como assim?
Quem não ficou louco com tantos elegíveis a deputado e senador sujando nossa cidade, fazendo barulho, e nos dando feliz aniversário em cartas automáticas "atenciosas"? Detalhe: eles não sabem a data do nosso aniversário. Isso sem falar da campanha na TV, verdadeiras comédias, o que é trágico, porque era pra ser algo sério. Mas um fenômeno em especial tem chamado a atenção do Brasil diante das eleições: a candidatura dos famosos, ou por assim dizer, artistas.
Poxa vida, Mulher Pêra para deputada; Homem Jiló para deputado; ex-BBB para deputado; palhaço para deputado. Palhaço para deputado? E, pasmem, foi eleito! E choquem, possível analfabeto! Sei que nessas horas se perdem o sentido e o tesão em acordar cedo no domingo, procurar sua zona eleitoral - nome perfeito por sinal, enfrentar fila para exercer nosso direito de escolha. Que escolhas!
Mas eu andei refletindo por outro prisma sobre esse fenômeno e sobre o caso do Tiririca em especial e me perguntei: será que o povo está realmente errado em eleger o Tiririca? Pois a marca de 1 milhão e 300 mil votos não é brincadeira, nem para um palhaço. Assim, vasculhei o motivo e inventei uma hipótese.
Existe um abismo tão grande entre o cidadão e os políticos de carreira que o povo não se sente representado por um cara de terno que ele sequer ouviu falar, que sequer conhece sua voz ou suas ideias, que aparece de tempos em tempos em seu bairro fazendo carreatas e agindo como se fosse seu amigo, sem verdade alguma naquela postura. Quando um cara que o povo se identifica, como o Tiririca, se candidata com o slogan "pior que tá, não fica", devo admitir que ele está certo! E ao menos trouxe um discurso mais honesto, dizendo: "Eu não sei o que faz um deputado, mas quando eu souber eu te digo." Reparem a que ponto chegamos, de uma sinceridade tão óbvia e patética ser mais forte do que um discurso articulado, meticuloso, mas sem sinceridade de um velhaco de campanha.
Não estou defendendo esse efeito Tiririca, mas criticando o muro que existe entre o eleitor e os políticos de carreira que teoricamente seriam os mais preparados para nos representar. Teoricamente, porque, quando eleitos, ainda se comportam como seres enigmáticos, iluminados de sangue azul, que não andam, mas deslizam no ar, e que usam assessores para enrolar os eleitores em seus gabinetes, carteirando o sistema. E, se são barrados na festa particular de aniversário do meu priminho Renato, soltam aquela engatilhada pergunta clássica da classe: “Você sabe com quem está falando?” É, você acertou em cheio, pinguim, eu não sei mesmo.

Dyskreto. (www.twitter.com/Dyskreto)

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