quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Vocação Médica: Será que seu filho tem?



A questão da vocação médica é milenar. Hipócrates, por exemplo, o Pai da Medicina, há 2.400 anos já citava os atributos necessários para aqueles que pretendiam abraçar a profissão médica na época. Muitos desses atributos são válidos até hoje. Tomemos como exemplo uma assertiva de Hipócrates: "O tratamento das enfermidades implica dois pontos fundamentais: ser útil e não causar nenhum dano. Nossa arte engloba três aspectos: a enfermidade, o enfermo e o médico; o médico é um servidor da arte e o enfermo deve lutar contra a enfermidade junto com o médico".
Talvez o conceito de vocação médica seja tão abstrato que não possa ser expresso em palavras, ou seja, estaria incluído na categoria dos conceitos inefáveis (indescritível), assim como acontece com os sentimentos, que todos sabem o seu significado, mas ninguém é capaz de defini-los, contentando-se apenas em descrever as situações em que se tornaram presentes.
Ginzberg (1969) procura demonstrar que, para ser atingida a identidade vocacional, o indivíduo passa por três fases, a saber:
Fase da fantasia: a criança pensa na profissão em termos de um sonho, sem nada compreender a respeito da sua fantasia. Neste período é que o menino da classe média deseja ser jogador de futebol, artista, bombeiro, ou seja, aquilo que no momento ele admira.
Fase da escolha: baseada nos valores pessoais, passa a pensar numa profissão em termos de realização como pessoa humana.
Fase realista: já na altura da adolescência para a fase adulta começa a explorar as possibilidades concretas de sua opção profissional.
Ao falar da vocação médica não podemos deixar de considerar a existência de motivações conscientes e inconscientes para a escolha da profissão.
Para descobrirmos a nossa vocação precisamos responder a perguntas como: Do que eu gosto? Quais são as minhas aptidões naturais? O que fala mais alto em mim quando penso em uma vocação? Responder essas perguntas é o primeiro passo para a descoberta de nossa vocação.
A grande dificuldade que candidatos enfrentam para serem aprovados no vestibular demonstra, a princípio, a existência de uma forte determinação para estudar Medicina. Evidentemente, tal determinação não garante que todos sejam possuidores de vocação médica, embora, a princípio, a maioria procurou obter informações sobre o curso médico antes do vestibular.
Em geral, o médico identificou-se com alguém para a escolha da profissão. Quanto às motivações conscientes para a escolha da profissão, destacam-se o altruísmo, a curiosidade intelectual, o interesse pela relação humana e o perfil da profissão.
O bom médico deve ser altruísta em primeiro lugar. Além de humano, esforçado, perseverante, responsável, humilde, calmo e honesto, também deve ser habilitado tecnicamente, ter boa relação com o paciente e gostar da profissão.
Quando o indivíduo substitui a pergunta sobre sua vocação profissional por outras perguntas que o desviam de si, de sua natureza humana. Ao invés de indagar sobre a profissão que deve estudar para atender à sua vocação, ele inverte a pergunta para que profissão ele deve estudar para realizar sua vocação. Mas por que isto? - Porque ele está subordinando sua autonomia reflexiva à lógica do mercado, do capital. Abdica de si, para dedicar-se à ideologia do sucesso socioeconômico.
Os atributos necessários para o exercício da Medicina podem ser deduzidos dos pensamentos de Hipócrates, escritos há mais de 2.400 anos (Brunini, 1998):
O médico deve ter uma boa capacidade de observação, sem qualquer tipo de preconceito.
O médico deve ter uma conduta honesta, altruísta, idealista e pouco intervencionista.
O médico deve ser humilde: "o sábio é aquele que procura aprender; quem acredita que a tudo conhece é ignorante".
O médico não deve seduzir seus pacientes.
Antes de tudo, o médico deve evitar causar algum dano a seu paciente, confiando sempre na força curativa da natureza.

Conclusão
A questão da vocação médica continua sendo um dos grandes mistérios da psicologia humana, trazendo hipóteses e sugestões para que futuros pesquisadores possam dar novos passos na elucidação desse tema.
Parafraseando Sêneca, "o Amor não se define; sente-se", digo: "Vocação não se define; sente-se". De Mário Quintana: "O amor só é lindo quando encontramos alguém que nos transforme no melhor que podemos ser", digo: "O exercício da Medicina só é lindo quando encontramos nela algo que nos transforme no melhor que podemos ser".
Talvez sejam esses os significados de vocação e profissão.


Por José Emílio Mendes Lima em ONacional.

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3 comentários:

  1. Ola Willian estava devendo esta visita, excelente texto de José Emilio valeu...fuiiiiiiiiii

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  2. Na minha opinião, a questão da escolha da medicina como profissão, está altamente ligada ao status, poder e poder aquisitivo.
    Óbviamente, sabemos que houve uma desvalorização em termos de salário, não só na medicina, mas também em outras profissões.
    A medicina, sempre foi a profissão mais respeitada (históricamente falando)e a primeira profissão pensada para um filho, independente de vocação. Já com outras profissões (artes, educação física e etc) acontece o oposto. Nada mais do que o resultado de um regime capitalista, minuciosamente pensado.
    No vestibular, a primeira faculdade escolhida é a medicina, depois o direito e assim por diante.
    Então se for por vocação, podemos concluir que nascem muito mais pessoas com vocação para a medicina do que para outras profissões? Óbviamente que não, e por isso que temos tantos médicos infelizes, estressados e alguns até incompetentes.

    Escrevi alguns textos em meu blog, que falam um pouco sobre essa questão...

    Texto - "Você não estimula a criatividade de seus filhos, alunos e muito menos a sua" Parte 1 e 2.
    Texto - "As onze dicas de Bill Gates e as minhas"

    Abraços,

    Balaio Variado

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  3. nem sempre tem a ver com poder, eu escolhi de maneira incosciente, não tive contato com médicos.. na familia nção existe nenhum! e eu amo a profissão com toda a força! valorizem os profissionais. é um dom divino.

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