domingo, 3 de outubro de 2010

Quando a autoestima sombria aparece?



Uma brasileira desfila de biquíni na praia. Seminua, pouco chegada a roupa, mostra sua vida e cultura, o culto ao corpo, nossa herança indígena e mulata nas terras do calor tropical. Muito banho, roupa leve, corpo à mostra deve ser mais cuidado. Nossa cultura. Estilo de vida comum à realidade brasileira. Jornais e outras publicações europeias, em seu moralismo exótico, atacam às claras, durante o dia. À noite, nas camas, preferência, no turismo sexual, o que no desejo apreciam. As raízes do eurocentrismo ressoam em nossa cultura trazendo à tona valores arraigados de terras temperadas de clima frio, de muita roupa, muita bebida, nos quais a ideia de proprietários do universo ainda persiste, mesmo após mostras de ignorância cabais, como a inquisição e a primeira e segunda guerras mundiais. Somos um povo tupiniquim que se espelha em uma moral que ressoa no conteúdo de pensamento europeu. Pensamento difuso, sem regras claras, um ethos estranho, por vezes perverso, egocêntrico e sombrio.
Mas o que eles têm que nós não temos? Seu patriotismo, seu bairrismo acentuado é o que os diferencia. Assisti a isso viajando pela França, Portugal, Espanha, Inglaterra. Bairrismo, patriotismo, fanatismo, tudo que "é nosso sempre é melhor que o dos outros". Os europeus valorizam ao extremo seus hábitos, atributos, cultura, costumes, produção intelectual. Têm orgulho de sua história, mesmo com todas as manchas negras que carregam. O mesmo ocorre com os japoneses e com os norte-americanos. E nós, brasileiros, de que temos orgulho? Você já pensou sobre isso?

Normalmente, na falta de assunto, fugimos para as belezas naturais e para o velho chavão: futebol, praia, carnaval. E o resto? Nosso Brasil é um País de estrutura psíquica sombria que até hoje projeta-se na realização de terceiros, negando nossa identidade, história, cultura. Negamos o que somos, nossos valores, que em muito opõem-se às regras da falsa moralidade europeia ou norte-americana. Mas por que somos ainda uma pátria imatura, em crescimento? Somos o Brasil da corrupção, do voto de cabresto, que em muito joga a sujeira para debaixo do tapete ou a posterga para o amanhã (vide os escândalos – da Casa Civil, do governo do Tocantins, dos Correios...). Somos o Brasil que vende voto, que escolhe sempre o "menos pior" (rouba, mas faz) sem questionar. Somos o povo que eternamente reclama, que nega a própria responsabilidade frente ao destino, acomodado, apático, e que quando é lesado sorri, gracioso: mais um...

Por que não merecemos o honesto, o bom, o administrador competente, a melhor educação? Por que nossa consciência crítica é omissa, calada, apática? Por que nossa estrutura ideológica inexistente em demagogia ousa falar do que não é, e por que aceitamos? Somos ainda o Brasil que vive nas sombras esperando por um pouco de luz. Luz de consciência, velha irmã abafada, amordaçada por uma estratificação secular que, mesmo sem moral, ousa nos falar o que é o certo e o errado.

Jorge de Lima. www.olhosalma.com.br

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