domingo, 10 de outubro de 2010

Além do ego...




Desde a Grécia antiga o ser humano discute a questão da felicidade. Filósofos, poetas, pensadores se dedicaram a descrevê-la através dos tempos. Vicente de Carvalho (1866-1924), jornalista e poeta parnasiano diz:


“Só a leve esperança, em toda a vida,
Disfarça a pena de viver, mais nada:
Nem é mais a existência, resumida,
Que uma grande esperança malograda.

O eterno sonho da alma desterrada,
Sonho que a traz ansiosa e embevecida,
É uma hora feliz, sempre adiada
E que não chega nunca em toda a vida.

Essa felicidade que supomos,
Árvore milagrosa, que sonhamos
Toda arreada de dourados pomos,

Existe, sim : mas nós não a alcançamos
Porque está sempre apenas onde a pomos
E nunca a pomos onde nós estamos.”

A ciência considera a felicidade como um bem necessário à saúde do homem e da sociedade. Basta que o homem se julgue feliz para tornar-se mais sociável. À sociedade interessa ser produtiva e isto acontece quando seus componentes se sentem felizes.
Como pode uma conquista interior ser vista objetivamente quando se trata de algo tão subjetivo? A felicidade pode ser considerada estado de contentamento experienciado em três gradações. No primeiro estágio falsa felicidade. É fugaz e fascinante como bola de sabão. Traz satisfação momentânea, como um elogio que insufla o ego. Um presente, um convite, uma viagem, uma promoção... fogos de artifício. Pode até dar pra trás, mas ilumina de relance. Atrelada à lei do prazer acompanhada de desencanto e medo. Medo de acabar, de não ser verdade. Temor do gosto amargo que fica quando pinta a desilusão. É mesmo felicidade irreal.
Numa segunda abordagem, temos a felicidade autêntica. O sentimento de plenitude pelo bem que se pratica. Consequência natural da troca de emoções positivas. Ocorre em relação à coletividade, à família, aos amigos, àqueles que estão na órbita de nosso coração. Alegria que se manifesta pelo gosto de servir. Acontece com aqueles que buscam a autorrealização através da doação de seus dons e talentos a favor de todos e de si mesmo. Processo contínuo de produção, multiplicação e vivência de benesses.
Martin Seligman, expoente da moderna Psicologia Positiva defende uma visão mais aberta e apreciativa dos potenciais, das motivações e das capacidades humanas. O cultivo das emoções positivas, das virtudes que fortalecem a geração de um mundo pessoal e coletivo melhor. Neste campo há pouca correlação entre riqueza, poder e felicidade. A satisfação se faz através da alegria duradoura como um sentido de vida. O fato de vivenciar emoções positivas não significa desconsiderar a existência das emoções negativas. Elas existem, fazem parte da vida. O foco porém é diferente. As carências podem ser transformadas em motivos para a sedimentação de projetos e estratégias para conquistas de sucesso, de novos ideais. O melhor de nós pode florescer e ser cultivado a partir de pequenas realizações que tragam leveza e desprendimento. Atos simples como dançar, conversar, doar, jogar aliviam o estresse, renovam a confiança e o otimismo. É como se nos dispuséssemos a adotar o jogo do contente. Achar em tudo um motivo para agradecer e tocar em frente. Até mesmo nos dissabores temos o desafio de encontrar uma mensagem que desperte o entusiasmo para viver melhor e ser feliz. Nesta ótica é golpe de mestre entender que feliz é quem se julga. A felicidade tem a dimensão de nossa percepção do mundo e da vida.
Num terceiro nível, temos a felicidade transcendente, ou incomum que se relaciona às experiências espirituais. São momentos na vida do indivíduo de maior ampliação da consciência. Momentos de êxtase, de experiências além do ego.


Elzi Nascimento e Elzita Melo Quinta. (iopta@iopta.com.br)

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