terça-feira, 31 de agosto de 2010

A riqueza dos políticos brasileiros



Meses atrás, comia um pastel no mercado da minha cidade natal, eis que João Curvinha, morador de fazenda, meu amigo, se aproximou. Quando vinha à cidade, embriagava-se por dois dias. Carente de interlocutor e aproveitando-se de minha paciência, puxou o assunto da política. Perguntava daqui, argumentava dali e eu me limitava a responder com monossílabos, ciente de que a conversa não prometia. De repente ele indagou do paradeiro de um ex-candidato que havia morado em nossa cidade. Respondi dizendo que tal pessoa se mudara da cidade e, deixando a política, dedicava-se à vida de líder religioso. Meu amigo, com incomum vivacidade emendou de primeira: “outro ramo que dá dinheiro!”.
João Curvinha não foi nada original. Limitou-se a chancelar o que é de domínio público. Devemos à imprensa o conhecimento dos podres da política, atividade cada vez mais abandonada pelos honrados e assediada pelos inescrupulosos, ambiciosos, mafiosos, devedores contumazes, fraudadores – enfim, uma récua de raposas ávidas por vigiar o galinheiro.
Há pouco, uma revista de circulação nacional publicou matéria versando sobre o enriquecimento dos políticos. João Curvinha tinha razão: é um ramo que dá dinheiro, se não a todos, com certeza a uma boa proporção deles. Muitos dos homens públicos brasileiros, não fosse a desfaçatez com que tratam a coisa pública, poderiam proferir palestras aos mais espertos investidores de Wall Setreet, pois são capazes de multiplicar seus patrimônios com velocidade supersônica.
A questão é que a engrenagem da economia nacional gira conectada ao Estado, através de uma profusão de normas. Nosso cartorialismo eleva o cacife dos representantes públicos, no legislar e no abrir de portas dos gabinete do Executivo, já que reina uma relação incestuosa entre os dois poderes. São decisões que valem fortunas, invisíveis à massa eleitora míope. Sempre vale repetir que, neste país o Estado foi feito para alguns ganharem dinheiro.
As eleições são milionárias dada a necessidade de persuadir o eleitor que não lê, que não se informa no cotidiano. O verbo persuadir, aqui, se vê ampliado em seus recurso semânticos, pois implica também em cooptar, seduzir, comprar. Eleitor dessa espécie deveria ser dispensado de votar, porque seu sufrágio legitima como representantes essa espécie de gente ávida por dinheiro e poder. A frenética sucessão de eleições, em vez de educar as pessoas, tem servindo para que o processo democrático se veja gradativamente adulterado e corrompido.
Precisamos pensar mais a respeito. Não é possível tolerar com covarde passividade esse estado de coisas. Urge uma reforma política, quando não uma verdadeira reengenharia de Estado.

Idelmar de Paiva. (idelmarpaiva@gmail.com)

Dá dinheiro ou não dá? Se desejar, deixe seu comentário.

Um comentário:

  1. Meu caro amigo William, boa noite!!!
    Precisamos sim, uma urgente reforma política... nosso sistema está falido a muito tempo. O dinheiro não pode se transformar em plano de governo, não podemos votar por brindes, temos que votar pela competência, honestidade e vontade de trabalhar por um país melhor.
    Hoje político virou cofre...
    Parabéns pela excelente postagem!
    Abraços e muita paz!!!

    ResponderExcluir