quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Indicações literárias nas escolas e a ignorância dos pais



Existe grande polêmica no que se refere ao método utilizado por comissões das secretarias de Educação quanto à indicação de livros literários a serem adotados nas escolas. Muitos pais se preocupam com a suposta falta de critério ou até mesmo ausência de zelo ao indicar livros com conteúdo violento, de baixo calão, erótico ou sem qualidade textual.
Toda indicação é subjetiva e perpassa critérios de sentimentos pessoais. Muitas vezes o compadrio, o conchavo, privilégios culturais e vantagens econômicas fazem com que livros sejam inseridos em listas de adoções em escolas, vestibulares etc.
Muita gente criticou a adoção do livro de histórias em quadrinho Dez na área, um na banheira e ninguém no gol, quando a Secretaria Estadual da Educação de São Paulo distribuiu essa obra nas escolas. Segundo críticos, leitores e pais, o livro tem conotações sexuais, palavrões, e jargões jocosos inadequados para alunos da terceira série do ensino fundamental (crianças de 9 anos). Mais de 1.000 exemplares tiveram que ser recolhidos. Esses livros seriam material de apoio para a alfabetização dos estudantes e incentivo à leitura. O próprio autor declarou que "quem escolheu não leu o livro".
Pouco antes um jornal denunciou que inúmeros alunos da sexta série receberam um livro de geografia em que o Paraguai aparecia duas vezes no mapa, uma delas no lugar da Venezuela. Um livro de Português repleto de erros de grafia com palavras escritas de "maneira absurda" também foi questionado pelos pais e educadores.
Um professor de Literatura foi demitido no Rio de Janeiro por ter adotado o romance A jogadora de Go, da chinesa Shan Sa, para alunos do 8º ano do ensino fundamental. A mãe de um aluno achou a obra imprópria pelo conteúdo sexual, e a escola decidiu suspender o uso do livro.
A célebre escritora Ana Maria Machado organizou uma seleção de contos em um livro, onde o conto O cobrador, de Rubem Fonseca (outro ícone da literatura brasileira, principalmente no gênero "policial"), foi muito criticado por pais de alunos do 9º ano pelo fato de o autor descrever uma "cena de estupro com palavrões e palavras de conotação sexual, além de trechos altamente violentos".
Pais de alunos da 6ª série também repudiaram a indicação do exímio poeta pantaneiro Manoel de Barros, pelas poesias de conotação erótica no livro Memórias Inventadas. Até Edgar Allan Poe, mestre da literatura policial e de mistério, do século XIX, já foi repudiado por pais de alunos.
O livro Poesia do Dia - Poetas de Hoje para Leitores de Agora também foi alvo de críticas por frases como "Nunca ame ninguém. Estupre" ... "Odeie. Assim, por esporte", que integram o poema “Manual de Autoajuda para Supervilões”, indicado para crianças da 3ª série do Ensino Fundamental.
O livro Sem açúcar, com afeto, da autora Telma Guimarães Castro Andrade, que está sendo adotado em algumas escolas de Goiânia, também é alvo de críticas pela visão separatista numa aceitação da ruptura familiar. Alguns pais que conhecem os outros inúmeros livros da autora, além das adaptações, acreditam que eles poderiam ter escolhido qualquer outra obra dela.
A maioria das escolas não conta com um programa de escolha eficiente de obras literárias, nem se preocupa com a cultura local, com o incentivo de adoção de obras locais das escolas. Antes, valem-se de inúmeros critérios, menos o literário. Geralmente indicam autores considerados ruins e obras que emplacam o modismo estrangeiro, por crer que as coisas de fora são melhores do que as nossas.
O Brasil tem potencial para entrar em listas sérias de qualquer lugar do mundo. Devemos valorizar o que é nosso e consagrar coisas boas longe das indicações por amizade. Mas isso dá trabalho, e trabalho mesmo é o que muitos trabalhadores não querem!


Leonardo Teixeira. (escritorleo@gmail.com)

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5 comentários:

  1. Concordo plenamente pois tudo tem que se imitar o estrangeiro ou as famosas licitações( ou indicação por amizade) com esquema todo armado.Lamentável....

    Com carinho
    Isa

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  2. Amigo William,
    casa de ferreiro,
    espeto de madeira...
    Excelente post,
    abraços,
    Vitor.

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  3. Ola William,

    recentemente li um artigo que nas escolas americanas é ensinado que o Brasil é uma colonia dos Estados Unidos, infelizmente as pessoas valorizam muito "produtos" internacionais.

    Parabéns pelo Artigo.
    Idemar Bueno.

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  4. Willian, parabéns pelo artigo. Eu como mãe procuro sempre saber quais livros serão trabalhados com meu filho, que está no terceiro anos do fundamental....
    Não repúdio nenhum tipo de obra, mesmo quando não concordo com ela, no entanto, para o desenvolvimento infantil tudo tem seu tempo...e é isto que procuro exigir.
    Beijo no coração

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  5. Por essas e outras que somos um País em eterno desenvolvimento, mas nunca chegamos lá, enquantro em outros paises a leitura é de mais de 40 livros anos, aqui no Brasil é menos de 5. Ainda mais com esta qualidade que quer colocar no inicio dos estudos. É um assombro.

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