domingo, 25 de julho de 2010

Limites e bom senso - uma reflexão na criação dos filhos



Educar integralmente o ser humano é uma tarefa ampla, complexa e muito desafiadora. Requer profundos investimentos em uma sólida formação que contemple não apenas a esfera acadêmica e intelectual, mas dedique especial cuidado ao desenvolvimento do caráter e da personalidade, aspectos que guiarão as ações e as escolhas do indivíduo ao longo da vida.
Um dos maiores desafios da educação de nossos dias é estabelecer limites de forma dialógica para crianças e adolescentes. Essa árdua tarefa enfrentada por pais e educadores deve ser concebida para além da mera enunciação de regras impostas irrefletidamente, necessitando ser concebida como uma construção baseada no diálogo que expressa o desejo de proteger, de oferecer segurança e um amor incondicional. Ela demanda para o adulto um grande esforço, uma postura de firmeza e de segurança em limites bem colocados, pois a todo momento eles serão testados com manobras que vão do franco desafio à sedução.
Ao contrário do que comumente se pensa, a criança não nasce dotada de discernimentos morais e limites. O início de sua vida é marcado pela impulsividade e agressividade, cabendo aos adultos, pouco a pouco, estimular o desenvolvimento da capacidade de controlar impulsos, resistir às tentações e internalizar limites. Para as crianças essas regras são percebidas como demonstrações de afeto e propiciam segurança para seu desenvolvimento. Ao estabelecer limites claros e coerentes, os pais estão dizendo à criança que a amam muito para permitir que ela se comporte de maneira incongruente.
O exercício de ensinar limites, longe de ser um aprendizado fácil e gratuito, depende de grande esforço, paciência, sabedoria e de uma descomunal persistência. Segundo Içami Tiba, a chave mestra de todo esse processo é a construção da autoestima, impulsionada por meio do carinho oferecido à criança por parte de pais, educadores e pessoas mais próximas que lhe dão a sensação de que é amada e cuidada. É necessário, dessa forma, criar uma atmosfera de confiança, de aceitação, de compreensão e respeito.
A partir de um bom nível de autoestima, a criança e o adolescente se tornarão capazes de desenvolver a autodisciplina e o comportamento responsável no enfrentamento das obrigações e dos desafios da vida. Recorrendo à sua autoestima e equilíbrio interno poderá lidar com as frustrações decorrentes da imposição de limites e do cerceamento dos desejos e impulsos.
Entretanto, há que se ressaltar que limite e diálogo são ações indissociáveis, não conciliáveis com castigos severos e opressivos. Os limites são “linhas demarcatórias” que situam o que é ou não permitido, conforme a situação social e os sujeitos. Ensinar limites é amar corajosamente a criança e o adolescente, comprometendo-se em oferecer-lhes subsídios para crescer com a visão de que o mundo tem seus próprios limites, e por isso, cada pessoa precisa saber se situar e viver segundo determinadas exigências para se dar bem na vida. Saber estabelecer limites é importantíssimo para a boa formação do caráter de uma criança e é um dos papéis mais importantes de pais e educadores. Seguramente, a convergência de esforços em prol da educação de nossas crianças contribuirá para a formação de cidadãos verdadeiramente humanizados.
Se a família, principal responsável pela educação das crianças, necessita de leis que a faça sentir-se mais ou menos segura, inocente ou culpada na criação de seus filhos, que sejam leis que estabeleçam compromissos de parceria com a escola, com a Igreja, compromissos com cuidados essenciais que os menores necessitam, ensinando ética, moral e princípios. Saber educar é, sem sombra de dúvida, ensinar com comportamentos, participação, ações, limites e muito envolvimento. A educação precisa de exemplos de todos nós, família, governantes, gestores e toda a sociedade.
Acreditamos que educar é transformar vidas. Não com violência, nem com palmadinhas, mas com carinho e dedicação integral. Sem limites de amar.


Márcia Pereira Carvalho escreve no DM.

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Um comentário:

  1. Realmente a educação sem agregação é possível, basta ter paciência, nem que para isso tenha que se pegar pelo braço e levá-la ao castigo, explicando as escolhas que trouxeram o castigo dando motivo para o acontecido, mas o melhor de tudo é prevenir antes que algo de errado seja cometido e o castigo seja executado! E demonstrar os limites com certeza é o correto, assim a criança não se sente enjaulada sem ter certeza do que é ou não permitido, deixando os limites claro até mesmo a criatividade dela se desenvolve melhor!


    Luz na mente e Paz no coração.

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