terça-feira, 20 de julho de 2010

“Curtura” não chega ao meio rural



Grande parte da sociedade costuma torcer o nariz para o homem do campo pelo seu jeito simplório, sua maneira de falar, com seus eventuais erros de português, gosto musical ou no vestuário. Este homem costuma ter o jeitão rude, mas de natureza íntegra e que recebe a todos de braços abertos, comportamento difícil hoje na cidade de porte médio para grande.
Este segmento, antes de adotar uma atitude preconceituosa, deveria abrir frentes de luta junto às autoridades governamentais para que o ensino e a cultura cheguem até eles.
O apelido de caipira, capiau e outros o depreciam sem razão de ser e ferem a própria Constituição do Brasil para não dizer a própria cidadania e o respeito que deveria vir de berço.
Ninguém discute e esta é a minha visão. O ensino ministrado nos centros urbanos deixa a desejar, imagine no campo, onde falta praticamente de tudo. O governo autorizou a abertura de escolas a três por dois nas cidades grandes, mas se esqueceu do meio rural.
Hoje, só não alcança uma faculdade nas grandes cidades, por exemplo, quem não pode pagar a mensalidade. Na verdade, o ensino gratuito universitário recai para os ricos ou apadrinhados.
No meio rural, o filho de produtor rural tem que andar quilômetros a pé, de bicicleta ou de ônibus sempre caindo aos pedaços para chegar à escola do ensino fundamental.
E o governo ainda se gaba disso e daquilo, como um grande mentiroso e inescrupuloso.
O pouco que se oferece nas escolas fundamentais rurais, segundo Polan Lacki, um extensionista do Paraná e que atuou na FAO em Santiago do Chile e em Roma por quase uma vida, foge das reais necessidades e são irrelevantes.
Com a sua visão de quem se aperfeiçoou na escola do mundo, em particular da América Latina, Polan Lacki está convencido de que o ensino ministrado no meio rural está fora dos parâmetros das necessidades de quem trabalha a terra.
História dos faraós ou das pirâmides do Egito pouco acrescenta à vida desse estudante, segundo ele. São seus questionamentos que também assino em baixo.
O que as famílias rurais poderiam fazer para obter uma produção agropecuária mais abundante, mais diversificada, mais eficiente e rentável; quais medidas de higiene, profilaxia e alimentação elas deveriam adotar para evitar as enfermidades que ocorrem com maior frequência no meio rural; o que deveriam fazer para prevenir as intoxicações com pesticidas e os acidentes rurais e como aplicar os primeiros socorros, quando eles não puderem ser evitados; como produzir e utilizar hortaliças, frutas e plantas medicinais; como organizar a comunidade para solucionar, em conjunto, aqueles problemas que não podem ou não deve ser resolvido individualmente, como, por exemplo, a comercialização e os investimentos de alto custo e baixa freqüência de uso, etc?
Outros ensinamentos também são plenamente válidos, entre eles, princípios, atitudes e os comportamentos necessários para melhorar o seu desempenho na vida familiar e comunitária. Espírito empreendedor, prática da honestidade, solidariedade, responsabilidade, ambição sadia, eficiência no trabalho. Desenvolver, finalmente, o seu potencial às novas perspectivas e protagonizar o autodesenvolvimento pessoal, familiar e comunitário.
A proposta do Polan resume em dar conteúdos mais pragmáticos à vida e ao trabalho rural.
Sem esses instrumentos de educação, o meio rural responde a crescentes recordes de safras, de exportação do excedente, do abastecimento interno, do pagamento da carga tributária elevada, das dificuldades no escoamento da produção. Imagine, adequando a família desse produtor aos conhecimentos acadêmicos e práticos!
A Coréia do Sul, pequeno país encravado na Ásia, concorre com o Brasil na condição de emergente. Graças seus investimentos marcantes na educação.
Israel, do tamanho de Sergipe, leva os catedráticos de suas universidades de Jerusalém e Tel Aviv aos kibutzim e moshaves. Empresários que sobressaem ministram palestras sobre êxitos de suas iniciativas aos estudantes.
Já pensou um Antônio Ermírio de Moraes proferindo palestras a alunos de diferentes regiões interioranas brasileiras?
No Brasil, o êxodo rural decorre por quê? Pela falta de atenção ao campo, sobretudo na área da educação e saúde. O homem do meio rural vai fazer o quê nas grandes cidades? O subemprego. O inchaço das cidades está nisso. Só o governo parece não ver.
Essa ordem de valores precisa ser invertida ao lado controle de natalidade. Caso contrário, as cidades continuarão se transformando em grandes favelas.

Wandell Seixas. (wandell@terra.com.br) www.beefpoint.com.br

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2 comentários:

  1. Olá,

    Interessante seu ponto de vista. Particularmente costumo brincar com algumas falas regionais, principalmente de mineiros e gaúchos. Não como forma de preconceito, tampouco para ridicularizá-los mas, é que acho interessante o vocabulário e sotaque existente em várias regiões do país.
    Sou paulista mas, algumas palavras saem com sonoridade acaipirada não sei se é reflexo da miscigenação (em um único bairro você encontra japoneses, italianos, cearenses, cariocas, enfim...) ou problema de dicção mesmo.
    A cara do Brasil é isso. Uma mistura cultural, complexa e bonita!
    Em relação a falta de investimentos para quem vive no campo...isso realmente é um problema. Eles se deslocam para as gdes cidades em busca de melhores condições de vida e essa falsa ilusão nem sempre atende tantas expectativas.
    Fernanda
    pautajornalistica.blogspot.com

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  2. Olá Willian
    Obrigada por partilhares este texto.
    Concordo com o que o autor diz sobre a existência de um currículo alternativo/diferenciado para as diferentes culturas.
    Em Portugal existe, em teoria, uma tentativa de criar currículos mediante a massa estudantil. No entanto só funciona no papel, pois o mais comum, quando se aplica, é cortar nos conteúdos obrigatórios e facilitar a passagem ao aluno que se apresenta desmotivado com o ensino.
    Esperemos que algum dia a teoria passe à boa prática.

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