quarta-feira, 23 de junho de 2010

Sucesso financeiro está ligado à infância



As apostas em casas lotéricas fazem milhões de pessoas abandonarem seus afazeres e se colocarem em fileiras na tentativa de alcançar a tão sonhada independência financeira. As novas igrejas estão se especializando em promover o sucesso financeiro dos fiéis e para isso adotam estratégias cada vez mais ousadas e modernas com o objetivo de fazer promissor aquele ser humano que se encontra estagnado financeiramente. É comum a gente ouvir frases ditas com tanta convicção que fica até difícil de não acreditar: “Deus vai abrir as portas para você e a sua vida financeira prosperará”.
De um lado, cobrando um percentual tentador, o governo se coloca à disposição do povo brasileiro, regulamentando e administrando essa brincadeira financeira. Do outro, também em busca de um percentual invejável, a “nova igreja” consegue convencer seus fiéis de que o insucesso financeiro está atrelado a algo transcendental e que somente o poder divino consegue desatrelar. Enquanto não conseguimos desvendar o mistério da infelicidade econômica ficamos a mercê desses dois e de mais tantos aproveitadores dessa deficiência.
O infortúnio financeiro da grande maioria do povo brasileiro passou a ser benéfico e tentador. Se prestarmos atenção vamos verificar que a desigualdade econômica e social é um termômetro que consegue denunciar com certa precisão o nível de injustiça que se comete nesse País. Sem esperar muito das instituições citadas anteriormente e assumindo uma postura diante dessa realidade podemos fazer mais para que nossos filhos não sejam protagonistas desse cenário nada otimista.
Uma nova pesquisa liderada por James P. Smith, principal autor do estudo e presidente das empresas de economia da Rand, uma organização de pesquisa sem fins lucrativos, revela que os problemas psicológicos da infância predizem o insucesso financeiro na idade adulta. De acordo com resultados publicados online pela revista Social Science & Medicine, pessoas que sofrem de doenças na infância, tais como a depressão e o abuso de substâncias, são menos propensas a se casar, atingem menor escolaridade e os seus rendimentos são reduzidos em cerca de 20 por cento. Foi constatado também que as pessoas com problemas psicológicos durante a infância tiveram em média U$ 10.400 a menos em sua renda anual, quando comparado com os irmãos que não tiveram problemas semelhantes.
Os pesquisadores, Smith e co-autor Gillian, da Washington University School of Medicine de Saint Louis, examinaram as informações de um grande estudo que acompanhou as famílias americanas por mais de 40 anos e encontrou evidências de que os problemas psicológicos significativos na infância têm impacto duradouro na vida financeira do indivíduo. “Nem todas as pessoas que têm problemas psicológicos durante a infância vai levar estes problemas até a idade adulta”, disse Smith. “Mas eles são de 10 a 20 vezes mais prováveis do que outro para ter esses problemas na vida adulta. Há claramente grandes custos econômicos durante a vida adulta causados por condições psicológicas na infância”.
A minha experiência clínica acompanhada de outros estudos abonam a afirmação dos investigadores onde diz que a principal causa da carência econômica durante a vida adulta parece ser decorrente da estrutura psicológica formada na infância. O que constatamos é que o adulto já formado pouco faz ou pode fazer para alterar a sua trajetória financeira, parece algo preestabelecido, é algo duradouro e isso comprova a força vinda da formação infantil. E justamente por isso a nossa preocupação com o cuidado na formação dos nossos filhos. Resumindo, temos o poder de predizer o futuro financeiro dos nossos filhos e não temos o hábito dessa consciência.
É muito comum pais afastarem os filhos do enfrentamento de situações que os estimulem e os proporcione o exercício da garra, da determinação e da persistência, fatores básicos nas conquistas em um mundo competitivo. Na tentativa de fazê-los comportar melhor e não perder o poder de disciplinador, muitos pais têm atitudes que desencorajam os filhos nas ações que exercitem o espírito de descobertas e o uso da criatividade. Sem falar naqueles que morrem de medo do fracasso dos filhos e assim aterrorizam suas cabeças objetivando a sua passividade.
Quando damos demais ou de menos aos nossos filhos estamos ao mesmo tempo ensinando a viver sua vida financeira. Para os que recebem demais a probabilidade é diminuir sua energia na busca de suas conquistas, para os que recebem de menos o provável é que possa se sentir um não merecedor. O meio termo parece até aqui, ser o mais sensato também nas lidas financeiras com nossos filhos. Poderíamos trazer outras condutas que interferem com o futuro deles, mas não é esse o propósito desse artigo.
Sabemos bem que a maioria das atitudes que temos para com nossos filhos tem em sua base a sua proteção e o desejo de que sejam felizes, mas infelizmente não somos tão abastados em consciência crítica para podermos analisar em maior profundidade o que estamos realmente fazendo com eles. Quanto mais eu penso que sei percebo que preciso saber mais, principalmente sobre o real efeito das nossas atitudes sobre os desígnios dos nossos filhos.

Renner Cândido Reis

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3 comentários:

  1. Se fosse pela garra, os valores passados pelo meu pai, eu teria uma situação economica melhor.Pode ser que crianças que tiveram problemas psicologicos venham a sofrer mais com isso financeiramente no futuro. Só que eu adoraria ter lido, por exemplo, quando mais jovem: "Pai Rico, Pai Pobre" - provalvemente teria me ajudado bastante. Bjs

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  2. Olá Willian!
    Seu texto é muito bom e como trabalho em escola publica posso afirmar que é a mais triste realidade, primeiro temos os problemas de saude, depois a perda dos pais, ou a prisão ou a droga ou alcool que os afastam.
    Depois temos a familia formada por uma mãe com 5 filhos cada um de um pai vivenso com um novo paeceiro e gravida, e o que é pior stão desempregados.
    Meu carinho

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  3. Excelente texto, acho que todo insucesso nao somente financeiro advem desses fatores, porque o individuo cresce com sentimentos,pensamentos que se formam na infancia, e sem que ele percebam, so cresce e depois nao muda mesmo.Eu vejo isso na superproteção.Abs!

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