domingo, 6 de junho de 2010

Posso conviver com uma doente mental?




Esta semana recebi uma carta de um rapaz que questionava: “Faz tempo que venho estudando sobre a bipolaridade, pois conheci uma moça maravilhosa pela qual estou apaixonado de verdade. Ela foi diagnosticada há dois anos, e o prognóstico dela, segundo o psiquiatra, é muito positivo. Sendo assim, eu acredito que o caso dela é brando. Às vezes, fico inseguro, pois nos conhecemos há poucos meses, mas ela é amável, estuda, trabalha e tem um estado emocional equilibrado. Se não tivesse me contado que é bipolar, eu nem desconfiaria. Gostaria de saber se uma pessoa bipolar (que se cuida e adere ao tratamento corretamente) pode ter uma vida plena e feliz a longo prazo (ter uma carreira bem-sucedida, casamento, filhos etc.), assim como qualquer pessoa.”
Conheço e acompanho vários casos de pessoas que vivem bem com transtorno bipolar. Será totalmente diferente um paciente – por exemplo – com depressão que adere a um tratamento e outro que não se cuida. O prognóstico muda completamente. O mesmo valendo para tratamentos incompletos. No caso do transtorno bipolar e da esquizofrenia, isso é ainda mais acentuado, visto que ambas são doenças crônicas, e o indivíduo terá de fazer terapia e usar medicação por toda a vida. Somada à doença física, existe uma estrutura de personalidade. Um paciente mimado, criado sem limites, preguiçoso, superprotegido e com outros problemas de personalidade terá seus lados negativos potencializados pela patologia. Então, para nós, o que manda é o caráter, a estrutura da personalidade, que vai influenciar no prognóstico, no como um indivíduo viverá em crise.
Se ela é amável, se aguenta as crises dos altos e baixos, superando-as (sem se desequilibrar demasiadamente), se não é agressiva, fica tranquilo. O interessante em seu caso é namorar, com calma, sem pressa por pelo menos dois anos para a conhecer, percebendo claramente que é humana, real, que terá altos e baixos, bons e maus momentos e que se ela se cuidar, viverá bem e plenamente, sem grandes mudanças.
O convívio com pacientes psiquiátricos pode ser natural se existir respeito às diferenças e aos limites. Conheço pessoas ditas “normais” que, quando em desequilíbrio – o que para elas é normal –, têm crises muito piores do que muitos pacientes psiquiátricos. Nossas delegacias de polícia comprovam isso. Pessoas ditas “normais” que vivem como se estivessem em um estábulo, achando-se no direito ao coice, o que nos remete a falta de educação e de berço.
Por fim, rapaz, vença seus preconceitos e pergunte ao seu coração o que vai ser maior: as conveniências sociais ou o amor que você tem no peito. No fundo, se você for observar, pessoas “normais” são um verdadeiro saco! Particularmente não gosto de pessoas certinhas. Todos os meus ídolos, as pessoas que admiro, da religião, filosofia e artes, nenhuma era normal, pelo contrário. Se sua escolha for por amor, siga em frente. Dê uma chance a você mesmo e a ela para serem felizes. Olhe sua companheira além de sinapses ou neurotransmissores, veja-a como um ser humano. Ela poderia ter uma cardiopatia, diabetes, ser deficiente física ou padecer de outra coisa. De todo jeito, com outra doença crônica, ela teria de tomar comprimidos e se cuidar. Ajude-a a administrar a realidade. Pacientes com algum tipo de psicose, às vezes, deliram, fantasiando demais, o que não é bom. Maridos, namorados, ou quem convive nessas horas podem ajudar muito, com calma, auxiliando o paciente a reorganizar os pensamentos, com carinho e amor. Boa sorte para o amor de vocês! Que Deus os abençoe!

Jorge de Lima.

E aí, será que isso dará certo? Comente aqui ou no dihitt.

2 comentários:

  1. Isso realmente é envolvente, conheci uma pessoa com esse trantorno, é relamente uma vida de altos e baixos, mas as pessoas podem conviver em harmonia sim.
    Espero que essa pessoa seja feliz com essa diferença.

    Um abraço

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