segunda-feira, 24 de maio de 2010

O êxito do “sistema” e o fracasso da educação brasileira



O sistema educacional brasileiro foi planejado para não dar certo. O empenho docente pretendendo o êxito da sua profissão através da aprendizagem formal da sua clientela é uma armadilha sistêmica perpetuando o sucesso do atual modelo. Vivemos numa sociedade construída sob os signos da futilidade e do volátil assim não é difícil perceber claramente o desinteresse generalizado pela cultura erudita. É comum o discente não ter em casa qualquer estímulo pelo saber histórico, portanto nenhum conhecimento clássico, tampouco fascínio pela lógica, menos ainda encantamento pelo raciocínio matemático além da ausência de interesse pelas ciências naturais em suas variações bem como as ciências da saúde. A estrutura física das escolas encontra-se geralmente em estado lastimável além da ultrapassada capacidade dos seus recursos humanos frutos de uma herança colonial predatória da exploração do trabalho pelo trabalho. Os Profissionais da Educação que deveriam ser instrumentos do progresso e re-significação do conhecimento são os primeiros a sofrer com todas essas enfermidades tornando-se vítimas de uma atmosfera inóspita ao propósito original da sua formação, cargo, função, de suas convicções e utopias, e por fim da falida instituição, sucumbindo-se ao caos reinante nos interiores desses estabelecimentos destinados, à priori, ao desenvolvimento de mentes criativas que na prática se transformou em laboratório de alienados. Fundamentalmente a culpa por esses sinistros resultados está nos órgãos estatais mantenedores dessa (de)composição que por sua vez a transferem à mal-dita Lei de Responsabilidade Fiscal este dolo. Romper estes paradigmas é afrontar-se com o sistema, atitude que não recomendo, afinal como me ensinou o prestimoso amigo Jota, lá da cidade de Mineiros: “... manda quem pode, obedece quem tem juízo...”.
Aprofundando tais mazelas considero que participar de acontecimentos relacionados aos desafios da educação no séc. XXI, nesta década tornou-se seguramente um bacanal pedagógico na hierarquização do desencanto pessoal mediatizado por uma cartase gestáltica para além da sapiência e explicação do velho e bom senso comum. Para que gastar tempo e dinheiro com inscrições em congressos e eventos alhures que não passa de bela mentira manipuladora de toda patuléia e fonte acumuladora do precioso vil metal a palestrantes forjados nos discursos fenomenológicos da realidade sugerindo rupturas impossíveis com a estrutura cartesiana. “Pobre Afonso! Oh! Pobre Afonsos!”. Inúmeros recorrem à literatura de autoajuda com suas colocações piegas, em geral os palestrantes são senhores protocolares e senhoras proprietárias de curriculum invejáveis favorecidos por veludosa retórica e utilizando slogans sugestionáveis apresentam eloqüentes teorias, inusitadas ações ou mega experiências requentadas e vendidas como alternativas pontuais quase sempre impossíveis de aplicação imediata aos males da nossa real tragédia educacional. Fico pensando quantos são os netinhos que perdem seus avós para estas rebuscadas degenerações conceituais quando na verdade lá no cantinho de nossa alma temos a certeza de antemão que não há solução. Potencializando nosso drama ainda há o fatalismo ambiental e contra os fatos não há argumentos.
Abaixo da linha do Equador o clima tropical é causa definitiva dos baixos rendimentos intelectivos de nossa juventude envolvida em seus dilemas neo-existenciais intrínsecos as suas próprias condições familiares, psicológicas, climáticos e sociais. Tudo aquilo que não seja prazer instantâneo, sensação de devotamento ao etéreo é desviado com veemência pelas tribos adeptas do lema: “não faça hoje aquilo que você pode fazer amanhã.” Assim se concretizam os pseudos bons investimentos no setor através dos gastos públicos na manutenção de uma estrutura ineficaz abaixo dos 40º Celsius do hemisfério Sul. Djavan cantando reforça a tese da incompatibilidade entre tropicalidade versus aprendizagem: “... Dia frio, um bom lugar p`ra ler um livro e o pensamento...” . Meu caro amigo leitor não perca seu tempo rememorando duvidosas estatísticas isoladas de sucesso de aprendizagem. Lamentável é o todo da chusma submergida no oceano de despreparo estrutural sem acesso as ilhas de excelência e em ambos a crença no pulsante determinismo religioso da cristandade tupiniquim.
Pacificados e coniventes com a dimensão dogmática da onipresença teológica o Povo Brasileiro ainda está longe de formar uma pátria, para tanto a metafísica em sua vertente mais perigosa tem nas raízes profundas da religiosidade nacional a fonte de perigosas convicções induzindo o indivíduo a crer que bem aventurado aquele que aqui sofre, afinal será dele o reino dos céus. Muitos líderes religiosos de diversas denominações glorificam o Senhor ao mesmo tempo em que realizam a expiação monetária da assembléia de fieis, e estes por sua vez crêem que terão bônus post mortem e seguem confiantes que aqueles ritos, liturgias e palavras “divinas” os redimirão da culpa do desinteresse pelos saberes mais sofisticado. Acabam ambos esquecendo que o céu é só uma promessa, entretanto o mal pior é a maniqueísmo tosco existente no interior das comunidades com direcionamento religioso promotora do proposital distanciamento dualista entre a fé e a razão como se ambas não se complementassem rumo à compreensão da complexidade do que é o ser humano em todas as suas carências e perspectivas. Procurando dar roupagem pseudocientífica frente a inevitável evolução do século XXI apareceram com o tal design inteligente, entretanto o mesmo não é consenso na comunidade científica. Tais deformidades limitam as possibilidades de construir, no Brasil, uma sociedade sedimentada no saber científico da igualdade pela oportunidade. Afinal, estes deveriam ser os objetivos do ensino cuja responsabilidade é inerente à condição sine qua non de ser da escola laica, pública, gratuita e de qualidade. Historicizando os fatos deparamos com as evidencias do continuísmo pedagógico.
Seria fundamental beber o eléboro ofertado por Gargântua a Pantagruel, mas como isso não é possível segue o setor público financiando a organização escolar que por sua vez insiste vorazmente em existir com o mesmo prognóstico de 200 anos atrás. Perverso equívoco uma vez que a moderna sociedade clama por novos modelos viáveis de gestão eficiente e, por conseguinte eficiência nas relações ensino-aprendizagem. Por isso o muito bem avaliado sistema “S” produz bons resultados além de algumas raríssimas instituições privadas e incomuns unidades públicas de ensino que comprovadamente Planejam, Executam e Avaliam seus planejamentos pedagógicos e projetos institucionais focados nos indicadores de necessidade do mercado, além é claro da excelência dos serviços prestados diretamente aos seus clientes. São ações dessa magnitude que precisam ser universalizadas agregando competência e concorrência no atendimento àquilo que é dinâmico ao mercado, ou seja, qualidade da existência humana, produção eficaz e o consumo qualitativo destinado a toda a população. Nesse cenário o Estado serviria como instrumento indutor da competitividade e agente das condições da ação empreendedora dos indivíduos.
Certamente uma extraordinária, provocante e sedutora engenharia pedagógica produziriam uma distribuição de renda e geração de riqueza nunca antes visto na história desse país, mas este é tema de uma futura análise. Alea jactae Est !


Nilton César Guimarães Rezende.

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Um comentário:

  1. Como vai, William?
    Muito interessante sua matéria. A situação da educação no Brasil, vista por todos os ângulos, é uma tragédia. Dos alunos aos professores, todos, penso, são vitimados nesse e por esse sistema que está caminhando para fundo do poço, se é que lá já não está. Mas há, sem dúvida, quem "lucre" (!) com essa situação.

    Forte abraço.
    Ótima semana.

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