sexta-feira, 14 de maio de 2010

Do que são feitos os caminhos






“E se o tijolo dissesse ao pedreiro que é só um tijolo e que sozinho não construiria uma parede?”
A latência da realidade vem pulsando forte quando penso, e me lembro, com muita saudade, dos idos tempos em que construíamos bases sólidas de inigualável prumo. Substancialmente, as cantilenas de antigamente estão cedendo espaço a novos conteúdos que solfejam como pássaros de temporada cruzando o céu, num relampejo que salta aos olhos, mas, não obstante, evidenciam a força inabalável do caminho estruturado pedra sobre pedra.
É bem verdade que o presente saúda o longínquo entardecer onde assoviavam andorinhas, e se retém nas horas do trabalho profícuo de traçar metas pautadas no ideal da partilha, da paz e da solidariedade, e cumpri-las. Assim, não há outra projeção para o futuro senão galgar com esperança sincera de ter resgatado o alicerce da obra que transforma o mundo, particular ou universal, e acreditar que as escolhas selam esse destino.
Seria improvável o aprimoramento do ser humano com erros persistentes, sob pena de exaurir-se o bom senso e aceitarem-se intransigências que ponham termo ao sonho. Permitir-se realizar é empreender esforço naquele caminho que traduz os valores permanentes, não circunstanciais, da existência humana, assim como o reflexo do espelho que nada mostra além do que vejo.
A firmeza dos propósitos é como a intenção de quem planta sementes. Inegavelmente aguarda pelos frutos bons, saudáveis e prontos a germinar, pois ressuscitar do chão é um milagre cotidiano que requer paciência e determinação. Regar e adubar são pressupostos para a concretização da flor e do fruto.
Os caminhos são feitos de pedra, de terra, de sol e poeira, de tempestades e lama, de pastos áridos e corredores de arbustos floridos. Os caminhos são alardeados de batalhas, mansos como os regatos, pesados como fardos, leves como plumas. São caminhos, simplesmente, expostos a todas as vaidades, a todas as censuras e os achaques, a todas as brisas que o transcendem.
Um mais um somam dois, e a realidade nada mais é do que a soma exata das labutas diárias. Por isso, recostado na soleira da porta, olho o horizonte, suspiro profundamente e ainda consigo ver um bando de pássaros migrando.

Frederico Jayme Filho.

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4 comentários:

  1. William,

    Parabéns pela escolha de tão brilhante texto.

    Os caminhos são muitos, mas tudo depende do trajeto que vamos traçar para trilhar esses caminhos.

    É cediço que não podemos construir uma casa com um único tijolinho, mas, se nos esforçarmos, poderemos conseguir muitos outros tijolinhos, e um a um, levantaremos as paredes mais sólidas para a nossa vida...

    É assim que penso; nossas vidas está em eterna construção, e todos os dias temos que batalhar para conseguir mais um tijolinho...

    Adorei!

    Bjs.

    Rosana.

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  2. Sem sombra de dúvidas, os caminhos são feitos de sonhos. E isso está em nosso âmago desde que descemos das árvores e começamos a caminhar sobre as patas traseiras.

    Sem o sonho, não falaríamos Português. Sem o sonho, não teríamos descobertas científicas. Sem o sonho, não teríamos aquele fogo que arde sem se ver.

    Abraços.

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  3. Willian,
    Bastante reflexivo. A vida é uma construção contínua do caminho da evolução espiritual.
    Abraços

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  4. belo texto, a vida e um caminhar olhando sempre o objetivo, mesmo que o momento atual passe uma ideia de incapacidade.Faz parte do trajeto, bom findi!

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