segunda-feira, 17 de maio de 2010

A Copa dos goles







Um tradicional festival de jazz _música que só interessa a adultos, e, mesmo assim, a uma fração deles_ deixou de existir no Brasil há alguns anos porque não podia ser patrocinado por uma marca de cigarros. Já a seleção brasileira, que estará onipresente nos lares brasileiros dentro de três semanas, pode ser patrocinada por uma bebida alcoólica.
A dita bebida, uma cerveja, tomará o país em dimensões nunca vistas e por todas as mídias existentes, incluindo publicidade estática, indução subliminar e telepatia. Uma rima pobre _'brahmeiro', 'guerreiro'_, pespegada aos jogadores, será o mote de milhões de crianças enquanto durar a Copa do Mundo, enfatizando, inclusive para os pais, a 'naturalidade' do consumo de cerveja desde tenra idade.
Quinze por cento desses milhões desenvolverão alcoolismo dentro de dez anos. E, embora estejamos falando de futebol, isso não é um chute. É apenas a porcentagem de pessoas que desenvolvem a doença num universo humano com acesso livre a bebidas alcoólicas, o que sói ser o caso do Brasil. Não por acaso, esse é também o número estimado de alcoólatras no país: 28,5 milhões _15 % da população.
A ideia de que a cerveja não é uma bebida alcoólica _e, daí, apropriada a patrocinar atletas_ tem espantosa circulação entre nós. Não há força capaz de sequer enquadrar sua publicidade em certos horários, como conseguiram com o cigarro (este banido de todos os veículos) e com as outras bebidas.
O patriota Dunga _aliás, um dos 'brahmeiros' oficiais da campanha_ não faz questão de que gostem dele, mas de que 'gostem do Brasil'. Pois saiba Dunga que, seja ou não o seu time campeão, o legado histórico da Copa de 2010 para o nosso futuro será medido não em gols, mas em goles. Muito apropriado para uma Copa dos copos.

Ruy Castro.


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4 comentários:

  1. Excelente texto. Concordo em tudo o que disse, acho abominável um atleta ser patrocinado por bebidas alcoolicas, principalmente o futebol que as crianças tanto admiram.

    Beijocas

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  2. Gasta-se cifras inimagináveis para fazer uma tabelinha e incentivar o consumo de drogas (álcool) para depois gastar outras tantas no incentivo ao combate... e assim a banda toca e o povo dança.

    Willian... tomei a liberdade de linkar você... esse seu espaço é muito bom.

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  3. Bah, coragem e imparcialidade.
    Talverz muitos pensem igual, mas poucos admitem.

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  4. William,

    Parabéns pelo maravilhoso texto.

    É um grande absurdo isso, pois se não pode haver patrocínios de cigarros, também não devriam deixar que companhias de bebidas alcoólicas patrocinassem nenhum evento, quanto mais um evento esportivo.

    Adorei!

    Bjs.

    Rosana.

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