sábado, 29 de maio de 2010

Cheguem juntos e entrem na festa



A imprensa nacional publicou esta semana reportagens apontando o avanço de pesquisas sobre o uso de alucinógenos para tratamento de enxaqueca, ansiedade e até mesmo alívio dos sintomas de câncer terminal. As sensações geradas pela Psilocibina, substância retirada de cogumelos, foram comparadas pelas cobaias como “equivalentes ao nascimento do primeiro filho ou à morte de um dos pais”. Essa não é a primeira tentativa de buscas da bênção acadêmicas para substâncias alucinógenas. Nos anos 1960, Timothy Leary promoveu uma experiência “transcendental” com toda uma turma de psicólogos de Harvard – o máximo que conseguiu foi parar na prisão e virar ídolo hippie.
O debate sobre o uso de alucinógenos em tratamentos terapêuticos se encerrou com a prisão de Leary, mas foi reaberto recentemente com ajuda de verba do governo dos Estados Unidos. A Universidade Johns Hopkins apresentou os primeiros resultados das pesquisas, realizadas com 36 participantes, há quatro anos. Na reportagem da NewScientist, datada de 11 de julho daquele ano, os voluntários relataram “experiências místicas completas” com o uso das drogas. De lá para cá, pouca coisa mudou. A não ser o crescimento vertiginoso dos adeptos do xamanismo. Em 2006, era de um terço dos voluntários, hoje o número é de 24. O responsável pelo estudo, Roland Griffiths, afirma que eles continuam a relatar mudanças positivas tanto nas atitudes como no comportamento. O relato do cientista, no entanto, não esclarece como sensações que remetem à “morte de um dos pais” podem ser positivas para acabar com a dor de cabeça.
O pesquisador Charles Grob, do Centro Médico Harbor-Ucla (Universidade da Califórnia), procura aplicações para os alucinógenos ainda mais úteis para a humanidade do que o colega da Johns Hopkins. Ele estuda os efeitos psicológicos e fisiológicos de componentes psicodélicos que mimetizam o neurotransmissor serotonina. A ideia é reduzir a ansiedade de pacientes diagnosticados com câncer terminal. Noutras palavras, Charles pretende chapar os pacientes a tal ponto que eles passem a achar a proximidade da morte uma “viagem” e passem a “curtir” a sensação. O problema, segundo o cientista, é que poucos grupos estão dispostos a financiar o tratamento alternativo.
Apesar de todos os benefícios relatados, eles chegaram à conclusão de que a Psilocibina pode desencadear esquizofrenia e outras doenças mentais em pessoas sensíveis. Griffiths admite ainda que 30% dos voluntários tiveram uma experiência significativa de medo, algumas delas acompanhadas de paranoia. No entanto, ele assegura que, em locais apropriados e com supervisão, as drogas psicodélicas demonstram ser eficientes para tratar sentimento de angústia e até mesmo recuperar usuários de outros tipos de entorpecentes. A proposta seria retirar o viciado da cocaína com doses de LSD. Com certeza, o maior avanço da medicina desde o advento da penicilina.
Para encerrar a conta, o homem de Hopkins afirma que o tratamento à base de alucinógenos obtém o mesmo sucesso de programas como os Alcoólicos Anônimos. Mesmo com mais qualidades do que muitas esponjas de aço, o governo norte-americano afirmou que não está disposto a levar os alucinógenos para as bancadas das farmácias – o que pode encerrar prematuramente a carreira de Griffiths e Grob. Os avanços dos novos gurus dos alucinógenos são, de certa forma, inegavelmente maiores dos que os da década de 1960. Infelizmente para eles, não conseguirão atingir o maior feito de Timothy Leary: figurar em músicas dos Beatles.

Diogo Luz.

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Um comentário:

  1. Controverso. Será que vai a frente?
    Não sei não.

    Forte abraço.
    Ótimo domingo para ti.

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