sábado, 29 de maio de 2010

Análise psiquiátrica da procuradora que espancava a garotinha adotada




Nada que a imprensa não saiba: Vera Santana, 66 anos, se gabava por ser procuradora do Estado (“você sabe com quem está falando?”), ganhar R$ 23 mil por mês (“pra quem eu vou deixar uma fortuna dessas?”), estar acima do bem e do mal (já adotara duas crianças, mesmo tendo 15 [!!] passagens pela polícia e ser notoriamente desequilibrada entre os vizinhos). Era uma pessoa muito preocupada, sobretudo consigo mesma, com a própria estética (vários botox, plásticas, maquiagem carregadíssima, cabeleireira várias vezes por semana ) e com o próprio futuro ( jogava tarô com afinco de profissional). Sem nada para fazer e com R$ 23 mil por mês para gastar, dá-se uma bela “oficina do diabo”; e o diabo trabalhou – e como! Notoriamente era uma profissional da carteirada e da agressão (espancamentos da própria mãe). Pois bem, é uma pessoa dessas que passou, não uma, mas duas vezes, pelas famosas “avaliações psicossociais” tipo “nihil obstat” (nada contra) feitas pelos juizados da infância Brasil afora. O menor exame psiquiátrico forense – se isto existisse no Brasil, País onde psiquiatra só serve para ser carcereiro de pobre – teria detectado sérios problemas com distúrbios de personalidade. Não-entendidos do assunto (e o que são piores, os “sub-entendidos” {favor manter o hífen entre o “sub” e o “entendido”, pois é um neologismo}), como sempre, arriscam várias hipóteses, a chamam de “psicopata”, de “sádica”, de “louca”. Nem uma coisa nem outra. Com certeza, desequilibrada mental sim, mas louca não. Qual a diferença do “desequilíbrio psíquico” e da loucura? Nesta última, o paciente tem alterações qualitativas dos instintos e do intelecto – ou seja, tem elementos instintuais e intelectuais que não estão presentes nas pessoas normais. Já os desequilibrados têm alterações quantitativas, ou seja, têm as mesmas emoções e cognições que os normais, só que exaltadas ou diminuídas, descontroladas pelo excesso de impulsividade ou diminuição do controle. Vera não é uma “psicopata” (personalidade antissocial) porque este tipo de personalidade tem um desequilíbrio total em várias áreas da vida, furta, agride, quebra, foge, drogas, descontrole financeiro total, não se fixa em empregos, lugares, pessoas, mata. São pessoas com um controle cognitivo de sua vida o mais baixo possível, bem ao contrário da procuradora. Bipolar também não é, se o fosse já teria tentativas de suicídio variadas, episódios de exaltação patológica do humor, etc. Personalidade sádica também ela não preenche os critérios, pois, quando agredia as pessoas, não demonstrava prazer exclusivo, estava era com um mau humor danado por ter perdido o controle. Aqui chegamos na palavra-chave de seu transtorno de personalidade: o controle. Era disso que ela gostava, ter controle sobre tudo e sobre todos, mandar, ter na vida privada todo o poder que tinha como procuradora na vida pública. No entanto, não era uma “controladora pura”, uma pessoa que gosta do controle só pelo controle, ou seja, uma personalidade obsessiva. Ela gostava do controle que lhe auferisse prazeres puramente pessoais, ou seja, um controle voltado para a autossatisfação, um controle de pessoa narcísica. O obsessivo é um ansioso puro, gosta do controle só pelo controle – não é aquela pessoa que controla tudo para ser o “bonzão”, a “mandona”, o “degas”, o “bam-bam-bam”, a “rainha-da-cocada-preta”. Este último é o transtorno de personalidade narcísico. E para inflar o narcisismo da procuradora ajudaram tanto as leis do Brasil (que dá para determinada casta de funcionários públicos, sobretudo portadores de carreira no Direito, ou seja, judiciária, procuradores, promotores, policial, militar, políticos, etc, o status – e o salário – de semideuses) quanto a falta delas (todos estes acima têm o tal “foro privilegiado”, são indenes e imunes à lei, são os reis da carteirada, são os “acima-do-bem-e-do-mal”, os controlados só pelas tais “corregedorias”, que de correção só têm o nome). Ao narcisismo enquanto “transtorno de personalidade” juntou-se portanto o narcisismo enquanto “transtorno social” induzido pela burocracia estatal brasileira – e o resultado foi um fortalecendo o outro, produzindo mais um monstro como os que vemos por aí todos os dias. O narcísico patológico está acostumado a ter todos seus desejos satisfeitos – voluntarismo exacerbado – , a ter controle sobre tudo a partir de sua “alta hierarquia” e quando é contrariado pode assumir ares de déspota agressivo. A agressividade é fruto tanto do ego inflado, pouco tolerante à frustração, quanto da falta de controle que a sociedade lhe faculta (“ela pode tudo, ela é procuradora”). Causas do narcisismo patológico podem ser tanto psicológicas (p.ex., falta de limites impostos por pai e mãe, pais permissivos demais, pais que exaltam os filhos como estando acima de tudo e de todos, etc.) quanto biológicas: há doenças psiquiátricas que predispõem à exacerbação do narcisismo, tais como a hiperatividade, bipolaridade, alguns tipos de lesões cerebrais, demências vasculares, determinadas infecções cerebrais – p. ex., neurolues–, etc.

Marcelo Caixeta é médico psiquiatra

E você? o que achou dessa análise? comente aqui ou no dihitt.

7 comentários:

  1. Olá!

    Esse mulher deve ser punida exemplarmente, principalmente por ser conhecedora do direto. Independente de qualquer distúbio, ela deve ser severamente punida.

    Abraços

    Francisco Castro

    ResponderExcluir
  2. Faço minhas as palavras do Francisco Castro, se ele me der a licença.

    Beijocas

    ResponderExcluir
  3. Em meu blog onde escrevo sobre a ética do comportamento, além de defender o uso da psicologia como um serviço social, também defendo a obrigatoriedade periódoca e democrática de avaliação psicológica nos profissionais, de onde não escaparia nem o presidente, já que todo o mundo está sujeito a transtornos de personalidade.

    ResponderExcluir
  4. Parabéns pela análise do perfil psicologico dessa "bruxa".
    Abraços,
    Janeisa

    ResponderExcluir
  5. Acho a anlise do doutor boa.Mas vejo ter mais um tanto ai para ser estudado, e usado para mante-la onde ela nao sera mais perigo.Perigo, claro, ela sempre sera ate para outras detentas,cabendo a administracao do presidio ter o cuidado para ela nao apodrecer as outras presas.Ela eh um perigo real!

    ResponderExcluir
  6. Amigo William, essa pessoa é um exemplo de arrogância, e se ela possui algum distúrbio psíquico, que vá se tratar primeiro. Uma vergonha lermos uma matéria com esse contéudo asqueroso. Parabéns pela postagem. Abraços. Roniel.

    ResponderExcluir
  7. Exatamente, eu ate parei de falar dela, porque de fato, os atos e o escandalo falam por si, mas tive o desprazer de ter contato com ela pelas vias de tarot, e na epoca ja se notava essa persona Rainha de espadas dela, onde tudo que falava tinha que ser aplaudido, senao cortem a cabeça.E como muitos tarologos da comunidade orkutiana que ela mantinha, briguei, fui expulso, e sabia que ela tava gerando uma energia pesada em torno dela,dava pra sentir.
    Ai veio a tona esse fato, que confirmou tudo isso que li aqui.Lastimavel, mas pelo menos agora, ela ta tendo a chance de repensar!Abraços!

    ResponderExcluir