quarta-feira, 21 de abril de 2010

Você foi um aluno-problema?



Um caso: o suplício de vários professores. O aluno, desatento, pouco presta atenção às aulas. Divaga, viaja, apresenta enormes dificuldades de concentração. Seria um caso de transtorno de hiperatividade com deficit de atenção? Com isso acaba ficando disperso, sem acompanhar o ritmo de seus colegas, e passa então a influenciá-los. Ganha uma, duas, três suspensões.


Um de seus professores, autoritário, dá o veredicto: “Esse garoto não vai ser nada na vida, eu garanto!”
Desde cedo ele apresentava dificuldades em aprender, iniciando sua fala somente aos 3 anos. Era fora do ritmo convencionado pelos educadores. Apresentava certa rebeldia e, aos 5 anos, começou a ter aulas particulares que em muito lhe aborreciam. Nessa idade, cansado, jogou uma cadeira em sua professora particular, que acabou desistindo do pequeno "capeta" sem modos.


As dificuldades com o processo de ensino e aprendizagem fizeram parte de toda sua vida escolar, do ensino básico ao superior. Um indivíduo nada dogmático, com dificuldades em se ajustar ao modelo de ensino por decorar.

Era um aluno lento na
resolução de problemas, tímido, quieto, com dificuldades de convívio, considerado por muitos como um "retardado", um "moleque bobo".
Estigmatizado, foi inúmeras vezes colocado como incapaz para boa parte das atividades convencionais do sistema educacional. Reprovou em matemática, gerando forte preocupação em seus pais.
Tentou entrar numa universidade, foi reprovado no vestibular, e só conseguiu passar na segunda vez. Da mesma forma que em seu ensino básico e médio, na universidade é um aluno mediano, cujos professores questionam sua capacidade. Ele se mostrou disperso, muito aquém dos resultados obtidos por seus colegas.
O retrato de nosso personagem poderia ser o de milhares de alunos atualmente diagnosticados como portadores de hiperatividade e deficit de atenção. São alunos-problema para professores treinados em domesticar pessoas nesse modelo educacional especializado em tolher a criatividade, o pensamento crítico ou qualquer coisa que fuja do convencional. Especialmente no ensino ao estilo "decore e seja feliz", que infesta escolas, cursinhos, universidades, concursos públicos. Nosso aluno-problema, fora do convencional, tem nome: Albert Einstein, renomado físico, ganhador do prêmio Nobel de Física, criador da Teoria da Relatividade. Hoje, suas teorias representam mais de 30% do PIB mundial, nas áreas de energia, telecomunicações, informática etc. Einstein é mais um incompreendido na massificação social e um dos poucos gênios da humanidade a receber, em vida, o reconhecimento por seus feitos.


A biografia de Einstein e suas dificuldades de aprendizagem fazem-nos questionar o quanto tem sido banalizado o diagnóstico de hiperatividade e deficit de atenção no meio educacional. Quantos gênios como Einstein nos dias de hoje não são tolhidos em sua criatividade e/ou incompreendidos quando não se ajustam ao modelo massificado de "decorar para sobressair", vigente em nosso sistema educacional? Quantos gênios não vão ter sua infância tolhida à custa de tranquilizantes para evitar a dispersão de suas ideias? Seria possível - com o atual modelo de ensino - ao gênio criar a Teoria da Relatividade sem suas divagações ou sua intensa capacidade de abstração?
Nosso sistema educacional, nossa ciência, nossa área de saúde mental tornam-se algozes de indivíduos que fogem ao senso comum, rotulando, tolhendo, retirando sua expressão criativa, seu potencial de genialidade. Vale a pena refletir nisso.


Jorge de Lima.

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6 comentários:

  1. Olá Willian, possuo um aluno assim como você relatou com hiperatividade e deficit de atenção,ele é muito esperto e dinâmico dentro da sala de aula, claro que o mesmo inserido em um sistema de ensino "tradicional" aparesentará com certeza grande dificuldade de convivência e interação entre os demais, como aconteceu com Einstein,já que no tradicionalismo a forma de ensino era a famosa decoreba, ou como dizemos "educação bancaria" onde o professor era o senhor supremo da sala e o que "sabia de tudo", ou que pelo menos achava que sabia, sendo único detentor do poder e saber.
    Hoje já temos o famoso construtivismo, tão "idealizado", por Jean Piaget, Emilia Ferrero e outros tantos estudiosos, o que ocorre é que muitas escolas ainda tem dificuldades de implantar este novo sistema de ensino, hoje o aluno não é apenas mais um ser sentado em uma cadeira, aguardando que informações lhe sejam passadas, mas sim como um agente e gerador da aprendizagem através de uma troca constante entre professor e aluno onde todos aprendem em conjunto, interagindo com os demais, onde suas ideias são respeitadas buscando a meta principal que é a aprendizagem.
    Grande abraço e parabéns pela postagem.

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  2. Muito interessante este seu artigo, pois condiz com a realidade de muitos, inclusive a minha.

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  3. Olá, William!

    Infelizmente, existem muitas pessoas que não cuidam bem de seus filhos ou não lhes acompanha de forma adquada o que, em muitas vezes, acaba levando a ser um aluno-problema nas escolas. A dificuldade para lidar com esse tipo de aluno é muito grande.


    Abraços

    Francisco Castro

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  4. Muito bom o seu texto, hoje em dia se aplica a muitos alunos...
    Seu blog está de parabéns... Ja estou te seguindo...

    Um abraço...

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. Muito bom o texto William como sempre.
    Abraços forte

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