quarta-feira, 28 de abril de 2010

Aparências...



Contaram no jornal a história da solidão de Lucas. Zebra macho do zoológico de Pomerode (SC), para não entrar em depressão, ganhou a companhia de uma jumenta branca pintada com listras pretas.Os veterinários disseram que a reação de Lucas foi imediata. A zebra, antes entristecida, inquieta e sem alimentar-se, rapidamente mudou seu comportamento. Mesmo em currais separados, os animais, diferentes, mas parecidos, curtem um a companhia do outro. Parecem irmãos, mas não são. Até a próxima chuva.
Na mesma semana, os jornais noticiaram um caso raro na genética. A inglesa Kerry Richardson deu à luz gêmeos diversos: um loiro como o pai e outro moreno como a mãe. "Logo que eles nasceram, conta a mãe, ninguém percebia nada de diferente, eles eram praticamente da mesma cor. Mas nos últimos meses, Layton ficou ainda mais claro e loiro, Kaydon ficou mais escuro como eu". Layton e Kaydon não parecem irmãos, mas o são.
Sociólogos, antropólogos e psicólogos já se esforçaram muito para entender as afinidades humanas. Sob quais características se embasam identidade e diferença, por qual razão escolhemos nossos amigos e amores, quais os motivos da repulsa ou atração. A sabedoria popular já cunhou aprendizagens: "diga com quem andas e te direi quem és", "o essencial é invisível aos olhos", "quem vê cara não vê coração", "as aparências enganam". Na política ou no amor, as metáforas zebra/jumenta e Layton/Kaydon produzem ensinamentos essenciais. O que parece igual pode não ser, o que parece diferente também não.
A metáfora da zebra e da jumenta talvez seja mais aplicável à esfera política. Inclusive tomada cada parte individualmente. Pintar-se com a cor do eleitor é o desejo mais profundo de qualquer político. Durante o mandato, vem a chuva e a tinta se apaga. Mas aí, como já houve aquele enamoramento, a gente acaba gostando da jumenta, embora as listras sejam falsas. No amor, então, a metáfora ganha nova claridade. No início, para seduzir e encantar, cada amante se pinta com o colorido do outro. Mentem gostos, gestos, ideais. Quando a sedução consumou-se, é hora da chuva. As listras desbotam, mas o vínculo já está consolidado.
Layton e Kaydon exigem perspicácia dos olhares. Na política, por exemplo, diferenças aparentes podem não ser tão antagônicas. Quem tem olhar mais agudo, percebe equivalências sob as aparências. A lição dos gêmeos ingleses, aplicada ao amor, leva a relacionamentos mais duradouros. Quantos casais tão diferentes zanzam por aí estáveis e felizes. Transpor o superficial aprofunda o conhecimento do outro nas matérias mais íntimas. Layton e Kaydon parecem filhos de pais diferentes. Mas se fizermos um teste de DNA, descobriremos que o pré-conceito nos engabelou.
A etimologia da palavra inteligência - que tenho conhecimento - significa "ler o interior", desvelar o cerne além da casca. Já que nos orgulhamos tanto entre os seres por nosso desenvolvimento cerebral, jamais poderíamos adotar juízos superficiais nem na política nem no amor. Da primeira depende a dignidade de nossa vida, do segundo a felicidade. Viver dignamente e feliz, há algo mais essencial?

Marcelo Doro


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3 comentários:

  1. Oi Willian,

    Esse texto me fez pensar primeiro na minha coelha, que vive sozinha na área de serviço aqui de casa. Eu a encontrei abandonada na rua. Sinto que ela não gosta de ficar só, mas ao mesmo tempo não sei o que fazer. Se arrumo um coelho, já viu... vou ter dezenas, talvez centenas de coelhinhos. Se arrumo uma outra coelha, mesmo sexo, já sei que brigam de quebrar costela. Se a deixo seguir livre em alguma floresta ou mata, sei que poderá ser caçada.

    Com relação aos gêmeos tenho aqui em casa prova disso. Minha mãe morena, meu pai louro. Eu nasci com os cabelos claros e minha irmã é bem morena. Desde sempre houve mais afinidade entre minha mãe e minha irmã, como também entre eu e meu pai.

    Em relação aos casais e pessoas em geral, existe sim essa coisa da ilusão dos primeiros meses de uma relação. As pessoas começam a se achar tão parecidas, com gostos tão idênticos que criam até a sensação de que encontraram finalmente a "alma gêmea"...mas depois descobrem que são bem diferentes.

    Mas tem um jeito de evitar confusão. Geralmente as semelhanças se encontram pelo que cada um diz. São as palavras que criam a sensação de semelhança. Então precisamos apenas observar as ações. Se as ações são semelhantes também então tudo certo, mas nem sempre é isso que acontece. Apesar de dizer uma coisa a atitude diz outra. A verdade está nas atitudes e é para isso que temos de prestar atenção.

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  2. Paz, Willian.

    Parabéns, pelo seu trabalho neste blog. Que Deus em Cristo Jesus continue lhe abençoando poderosamente.

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    Fica com Deus.
    Um abraço, Alexandre Pitante.

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  3. Realmente uma situação a se refletir, sob aspecto afetivo,ja diz o ditado que para o amor nao tem receita de bolo, so vivendo mesmo.porque pra uns ser diferente e que ajuda e pra outros e o que atrapalha quando a chuva bate.Eita mundo complexo, bjs!

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