domingo, 14 de março de 2010

Toda infidelidade é burra



Pesquisadores ingleses colocaram mais um tijolinho na muralha que divide os homens entre fiéis e infiéis. Agora, de acordo com os números apurados, os comportadinhos tendem a ter um QI mais elevado do que os peraltas. Em outras palavras, a inteligência seria um traço mais frequente nos rapazes monogâmicos. Ou, sem perder a graça, fica revogada aquela máxima que diz: duas cabeças pensam melhor do que uma. Pela nova lógica, a sabedoria repousa em não dar ouvidos aos argumentos sempre muito urgentes da cabeça pélvica, má conselheira contumaz. Parênteses: estranhamente, tal relação não apareceu entre as mulheres pesquisadas.

De modo tão instantâneo quanto o nascimento da exceção quando proposta a regra, surgiram piadas assim que anunciaram o resultado da curiosa pesquisa. As primeiras que ouvi: burrice é trair e ser flagrado; homem inteligente jamais admite que trai (nem mesmo em pesquisas); tudo não passa de uma conspiração dos chifrudos para desqualificar os amantes da esposa. Outra foi indagar a legitimidade dos ingleses e norte-americanos para servirem de parâmetro quando o tema é sexo, o que faz muito sentido... E a melhor de todas: homem inteligente não trai a esposa porque é solteiro! A enorme repercussão da pesquisa prova, sem dúvida, o sucesso que é debater nossa sexualidade.

Nessas todas fiquei com algumas dúvidas: estaria a fidelidade tão desprestigiada nos dias de hoje a ponto de precisar outra virtude associada para enaltecê-la? Ou, ainda pior, um homem casado assumiria a fidelidade não por ser o correto em termos éticos, e sim para contemplar a opção mais racional? Valeria mais escapar de um divórcio oneroso do que corresponder verdadeiramente a um juramento de lealdade? Quando a (re)pressão sexual se distende, o senso comum aponta justamente para o caminho contrário, ou seja, anormal é aquele que fica de fora da festa, da orgia. Periga ter safado se comportando melhor por pura malandragem!

Eu, muito particularmente, continuo fiel a minha teoria que divide os homens e as mulheres nos grupos com e sem vergonha. De acordo com ela, os com vergonha são fiéis por natureza e total incompetência para agirem de outra forma. Se pularem a cerca, ou serão flagrados, ou terminarão confessando para aplacarem a torturante culpa. Já os sem vergonha ‒ que fazer? ‒ não traem por maldade: apenas respondem a uma verdade pessoal. Para eles, para elas, casos extraconjugais não representam necessariamente uma traição. Sexo e compromisso estão em gavetas separadas. Enfim, contrariando a pesquisa, a fidelidade estaria muito mais ligada aos traços de personalidade, anteriores ao casamento ou namoro, do que aos níveis de QI.

Porém, correndo sérios riscos de parecer moralista, quando um pacto de confiança existe, assinado ou não, considero toda infidelidade burra. Afinal, desobedecer regras ‒ romper compromissos ‒, sempre implica sanções. Por mais que existam justificativas (e elas sempre existem), quem trai perde a causa. Para escapar dessa armadilha, a única saída é o diálogo. No momento em que ambos refazem os pactos, casos extraconjugais deixam de ser deslealdades. Antes disso, ou quando isso não é possível, o traidor estará sempre constrangendo, ferindo e humilhando a pessoa amada.

Opa! Agora a vaca foi para o brejo: inventei de falar de amor no final da crônica. Logo dele, que tem o poder de tornar irrelevante o embate entre o instinto e a razão...

Rubem Penz.

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