quarta-feira, 31 de março de 2010

O desperdício de água no Brasil



um tema que há tempo se discute no Brasil, mas poucas ações são realizadas com êxito. Refiro-me às atividades imediatas para o uso correto do mais importante recurso O assunto água é tratado todos os dias neste país, por isso, quero colocar em discussão mineral: ela, a “água”. A política de racionalização deve ser debatida sempre, especialmente em memória ao dia.
Com base nessa situação, nosso país amarga números desastrosos para a futura geração. Dados apontam que o Brasil detém o recorde mundial no quesito desperdício de água por habitante. Situação alarmante que deixa o restante do mundo nos observando. Grandes centros urbanos brasileiros consumem diariamente por habitante entre 250 a 400 litros de água. O volume é superior ao dobro do considerado pela Organização das Nações Unidas (ONU), fixada em 110 litros.
Fora dos parâmetros ideais, provocamos contraste com outros localidades ao redor do mundo. Países da África, como a Namíbia, chegam a gastar em média por dia menos de um litro de água por habitante. Ações de preservação devem ser tomadas com urgência para reverter a situação do alto nível de desperdício. Educação ambiental e conscientização da população são ações diretas e práticas que devem ser introduzidas não somente para os adultos, mas também nas instituições de ensino como uma nova postura diante do consumo racional de água.
Convém ressaltar que a população a cada dia cresce e a água potável encontra-se em um processo acentuado de escassez crônica, tornando mais difícil controlar a sua demanda. Dados da ONU revelam que quatro bilhões de pessoas terão problemas com escassez de água no ano de 2050. A falta do recurso mineral causa a morte de 4 milhões de crianças por ano em consequência de contrair doenças como a cólera e a malária.
O estudo destaca ainda que cerca de 17 países passarão por uma absoluta insuficiência de água. Locais que não terão água suficiente para manter o nível de produção agrícola e nem satisfazer suas necessidades industriais e domésticas. Diante da escassez, há mais riscos de disputas e conflitos entre as nações pelo controle das fontes mundiais de água do que do riquíssimo petróleo.
A água é um recurso vital. Por isso, a colaboração dos agricultores, do poder público, das empresas, das instituições e da própria sociedade são de suma importância.

Carlos Alberto Leréia.

se desejar comentar o texto, use o blog ou o dihitt.

terça-feira, 30 de março de 2010

O mito da caverna e o ambiente corporativo



Platão, célebre filósofo grego - contemporâneo e discípulo de Sócrates - escreveu O Mito da Caverna, peça na qual relata uma situação hipotética onde várias pessoas seriam criadas, desde pouca idade, em uma caverna e obrigadas a verem a realidade de acordo com imagens que eram projetadas nas paredes - sombras. Um dentre eles, por meio de coerção, élevado para fora daquele ambiente. Após adaptação o indivíduo passaria a ter oconhecimento da realidade como ela realmente é (aletheia). A verdade encoberta (pseudos) é desmascarada por hélio (sol) que livra o indivíduo da ignorância em que se encontrava.
Existem diferenças significativas entre os dois ambientes (o de liberdade onde prospera a luz – ambiente ou sistema aberto) e o de reclusão, onde as informações são liberadas de forma regrada, sem trocas significativas – ambiente ou sistema fechado. O sistema aberto é mais propenso ao desenvolvimento e o fechado à estagnação. Confrontando-se, comparando-se e imprimindo-se a tais ambientes uma análise, tendo por base o cotidiano das organizações, com certeza o entendimento a que se chega é de que na maioria das entidades o comportamento é divergente em relação ao aspecto mitológico (caverna). A empresa é o lado iluminado. Um lugar onde existe a possibilidade de crescimento do profissional seja ele “prata da casa” – com bastante tempo de contrato ou “sangue novo” um profissional com contrato de trabalho assinado recentemente pela empresa.
Na corporação de onde um de seus membros se retira e posteriormente retorna, trazendo consigo renovações de matéria e energia – novas experiências profissionais, cursos e em decorrência mudança de consciência - está sujeita à rotatividade de profissionais (turnover) que propiciam modificações da forma de se trabalhar na entidade e assim, também se modifica e se agregam novos saberes à empresa. Das pessoas que saem das instituições são poucas as que retornam para a retomada de suas atividades. O empregado que retorna é submetido a questionamentos e críticas, porém, o que foi visto e apreendido pelo mesmo em outra empresa passa a ser inserido à de origem de forma gradativa. O processo de comunicação é dinâmico e o que é trazido, mesmo existindo diferenças de conceitos, é agregado à outra de forma gradativa.
Fazer com que o ambiente corporativo tenha a “oxigenação” necessária não depende apenas dos novos entrantes (novos contratados) na empresa. A tarefa é partilhada pelos membros da entidade e pelo gestor de talentos, lotando o profissional certo no lugar onde realmente necessita de suas contribuições. A mudança de líderes (encarregados de áreas organizacionais) de onde se encontravam lotados por muitos anos para outras unidades proporciona uma movimentação de experiências acumuladas que serão compartilhadas com outros elementos - contribuindo para a reorganização da empresa.
A mudança, como em diversas circunstâncias do cotidiano, envolvendo situações tanto dentro do mundo corporativo como na vida do indivíduo, gera riscos que o gestor de talentos precisa estar atento para não complicar o quadro organizacional da empresa. Os profissionais que irão mudar de local de trabalho precisam ter “talentos” acumulados para poderem assumir outras posições dentro da unidade a que se destinam.
Então, para uma minoria das organizações que se comportam como se fosse a própria caverna de Platão – ambiente fechado e sem renovação – o caminho aberto é para a perda de competitividade e não só isso: o empreendedor pode não enxergar a perda de um patrimônio importantíssimo para a sua entidade, ou seja, o funcionário que contempla uma luz tênue, lá na frente, a mesma o levará para fora da empresa. Assim, é fundamental que o empresário – ou gestor de talentos - “espante as sombras”, se capacite, não permita que sua empresa abaixe as portas por não compreender o mercado ou as mudanças constantes que nele ocorrem.

Divino Lázaro de Souza Aguiar.

domingo, 28 de março de 2010

Solitário no caminho - Paulo Coelho



A vida é como uma grande corrida de bicicleta, cuja meta é cumprir a Lenda Pessoal – aquilo que, segundo os antigos alquimistas, é nossa verdadeira missão na Terra.
Na largada estamos juntos, cheios de camaradagem e entusiasmo. Mas, à medida que a corrida se desenvolve, a alegria inicial cede lugar aos verdadeiros desafios: o cansaço, a monotonia, as dúvidas sobre a própria capacidade. Reparamos que alguns amigos já desistiram, outros ainda estão correndo apenas por que não podem parar no meio de uma estrada. Este grupo vai ficando cada vez mais numeroso, com todos pedalando ao lado do carro de apoio – também chamado de Rotina – onde conversam entre si, cumprem suas obrigações, mas esquecem as belezas e desafios do caminho.
Terminamos por nos distanciar deles; e então somos obrigados a enfrentar a solidão, as surpresas com as curvas desconhecidas, os problemas com a bicicleta. Em um dado momento, depois de alguns tombos sem ninguém por perto para nos ajudar, terminamos por nos perguntar se vale a pena tanto esforço.
Sim, vale. O padre Alan Jones diz que, para que nossa alma tenha condições de superar estes obstáculos, precisamos de Quatro Forças Invisíveis: amor, morte, poder e tempo.
É necessário amar, porque somos amados por Deus.
É necessária a consciência da morte, para entender bem a vida.
É necessário lutar para crescer – mas não se deixar iludir pelo poder que chega junto com o crescimento.
Finalmente, é necessário aceitar que nossa alma – embora seja eterna – está neste momento presa na teia do tempo, com suas oportunidades e limitações; assim, em nossa solitária corrida de bicicleta, temos que agir como se o tempo existisse, fazer o possível para valorizar cada segundo, descansar quando necessário, mas continuar sempre em direção à luz Divina, sem deixar-se incomodar pelos momentos de angústia.
Na alma do homem está a alma do mundo, o silêncio da sabedoria. Enquanto pedalamos em direção à nossa meta, é bom perguntar: “O que há de bonito no dia de hoje?” O sol pode estar brilhando, mas se a chuva estiver caindo, é importante lembrar-se que isso também significa que as nuvens negras em breve terão se dissolvido. As nuvens se dissolvem, o sol permanece o mesmo, e não passa nunca – nos momentos de solidão, é importante lembrar-se disso
Uma linda prece do mestre sufi Dhu ‘l – Nun (egípcio, falecido em 861 AD) resume bem a atitude positiva necessária nestes momentos:
“Ó Deus, quando presto atenção nas vozes dos animais, no ruído das árvores, no murmúrio das águas, no gorjeio dos pássaros, no zunido do vento ou no estrondo do trovão, percebo neles um testemunho a Tua unidade; sinto que Tu és o supremo poder, a onisciência, a suprema sabedoria, a suprema justiça.
“Ó Deus, reconheço-Te nas provas que estou passando. Permite ò Deus, que Tua satisfação seja a minha satisfação. Que eu seja a Tua alegria, aquela alegria que um Pai sente por um filho. E que eu me lembre de Ti com tranqüilidade e determinação, mesmo quando fica difícil dizer que Te amo.”

Paulo Coelho.
Deseja comentar? Use o blog ou o dihitt.

Os bons não se omitem



“O que mais preocupa não é o grito dos violentos, dos corruptos, dos desonestos, dos sem-caráter, dos sem-ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons.”
(Martin Luther King)


A citação de Martin Luther King, assassinado na “maior democracia do mundo” por lutar pela igualdade e pela paz, pelo respeito ao próximo além das diferenças pela cor da pele, vem ganhando corpo na internet, mas, como sempre, de forma distorcida. É que o galo cantou, mas a esta altura há quem afirme que não, o que se ouviu foi um solo de clarineta.
Ouvi num debate na tevê: “Quando se discute muito sobre qualquer coisa, a verdade tende a desaparecer.” Não anotei, mas juro que tento reproduzir do modo mais fiel possível.
Voltando a Luther King, acredito que os bons de verdade não se silenciam.
Ultimamente, recebo um respeitável volume de mensagens alusivos ao momento político. Umas exaltam os feitos de Luiz Inácio e insinuam apoio à ministra Dilma Rousseff na corrida sucessória; outros, execram o governo e o presidente Lula, chamam Dilma de terrorista, assaltante e assassina e exaltam o governador José Serra.
Os veículos de notícias não têm espaço para divulgar tudo o que se colhe. Nós, jornalistas, ficamos sabendo de muita coisa, até mesmo do que não nos interessa nem deve interessar aos leitores. Mas temos, em geral, memória boa. Com o passar dos anos, fazemos interessantes analogias.
Os que defendem Serra não admitem lembrar, de modo algum, denúncias feitas e não esclarecidas. Ignoram o fato de ele, ao lado de outro ministro de sua época, tratar com desdém e mesmo com grosseria militares da FAB, tripulantes das aeronaves que os transportavam de Brasília a São Paulo todas as semanas. Fazem questão de não saber do modo truculento como trata funcionários em movimentos reivindicatórios (professores especialmente), com a polícia tratando-os como bandidos.
Os que defendem Lula e Dilma, posam hoje do mesmo modo como os que, há oito anos, eram seus alvos. Os pró-Serra, agora, agridem Lula por sua simpatia a Fidel, responsável maior pela cinquentenária ditadura cubana, agora tachada de cruel. Estranhamente, eles se compadecem dos cubanos exilados, mas silenciaram-se quando a “nossa” ditadura exilou, perseguiu, prendeu e arrebentou (literalmente). “Ah! Eram terroristas”, dizem. Mas os inimigos de Fidel são pessoas de bem. Tanto quanto “os bons” de cá que ficaram em silêncio.
O que os “do Serra” não perdoam é o fato de Lula ter mantido a economia sob controle, ter cumprido um programa social de inclusão e ter expandido o sistema de ensino. Alegam que ele continuou o que o antecessor começou. Ora, se as regras econômicas apontavam o rumo certo, o certo seria mesmo mantê-las. Mas “os bons” não querem lembrar que o presidente Fernando Henrique chegou a declarar que reduziria as universidade brasileiras a apenas três (nos Estados Unidos, contava uma matéria jornalística da época, havia cerca de cinco mil).
Os lulistas xingam a grande imprensa que, sem pejo, demonstra apoio ao governador Serra na sucessão de Lula. Imprensa boa é imprensa do nosso lado. Ou, como “define” Millor Fernandes, “democracia é quando eu mando em você; ditadura é quando você manda em mim”.
Esquecendo por instantes que é tempo de se trocar o presidente, e isso se fará pelo voto, indigna-me o fato de que dois partidos, apenas, decidem cada um sobre apenas um nome e polarizam a escolha. Dentro de ambos os partidos polos, reconheço nomes muito mais interessantes, na minha ótica, mas não poderei votar democraticamente em quem escolheria.
E agora? É democracia? Ou uma ditadura partidária oriunda das obscuras batalhas internas de cada sigla, hem?

Luiz de Aquino.

Comente aqui ou use o dihitt.

sábado, 27 de março de 2010

Jornal x internet - por José Sarney



A grande discussão hoje no mundo da comunicação é saber quando a internet matará de vez o jornal escrito em papel, na forma convencional que conhecemos. O professor de jornalismo Philip Meyer, citado por José Luís Barberia ('El País'), depois de examinar o fechamento de jornais, a diminuição de leitores, a migração de anúncios para a web, profetizou a data de outubro de 2044 para o desaparecimento do último leitor de jornal.
Eu, por meu lado, concordo com Elio Gaspari, que há alguns anos afirmou que o livro e o jornal jamais acabarão. Eles resistirão às novas tecnologias. Mas, acrescento, com algumas mudanças importantes. Bill Keller, do New York Times, talvez tenha sintetizado essas mudanças com o conceito de “união objetiva”: a sobrevivência do jornal está em ser sério, pensar na sociedade, alicerçar sua credibilidade na precisão da informação, deixando de lado velocidade e sensação, terreno em que não tem como competir com as outras mídias, principalmente a internet.
A vitória do jornal será o bom jornalismo, bem feito, com grandes jornalistas, sobre o mau jornalismo de profissionais medíocres e conteúdo duvidoso ou irresponsável. Esse será o embate, menos tecnológico e mais de recursos humanos. A diferenciação entre o internauta descompromissado e o jornalista sério. Entre o jornalismo de sensação e em tempo real e a análise da notícia, bem construída. Isso também pode se fazer na internet, mas, se o jornal não fizer melhor, se não morrer, será mídia marginal.
Fiquei espantado na semana passada quando vi uma pesquisa política e, pela primeira vez nas respostas, como as pessoas conhecem os fatos, aparece a web. No único Estado que tem uma população rural de 40%, o Maranhão, dá TV, imbatível, 80%, mas internet, 4,3%. Ora, se começa assim seu alcance, o que virá depois?
O problema da internet é que o volume de informação que ela nos oferece é tão grande que é impossível saber onde está a verdade. Mas, se “não foi a internet” que inventou a mentira, tornou-se difícil viver tendo que procurar onde está a verdade. Hoje os acessos a alguns sites e blogs, a algumas “comunidades” são muito maiores que a tiragem dos grandes jornais.
Chateaubriand dizia que os jornais não morrem de enfarte fulminante, mas de doenças que no mínimo levam dez anos. Uma delas é a política, outra, a idiossincrasia. Jornais políticos perdem leitores e a credibilidade; os que têm idiossincrasias com pessoas e escolhem inimigos para bajular também contraem o vírus da morte.
Finalmente, como o rádio e a TV não mataram o jornal, a internet não o matará. Só quem pode matá-lo é ele mesmo, querendo ser internet ou fazendo mau jornalismo.

José Sarney . e-mail : jose-sarney@uol.com.br
Deseja comentar? Manda ver aqui ou direto no dihitt.

sexta-feira, 26 de março de 2010

A casa do brasileiro



“São casas simples
Com cadeiras na calçada
E na fachada
Escrito em cima que é um lar”
(“Gente Humilde”, Chico, Vinicius e Garoto)

Um dado da maior importância por muito pouco não passou batido no noticiário recente: mais de 10 milhões de brasileiros deixaram de morar em favelas na última década. Os dados, que por si só são impressionantes, fazem parte de relatório da Organização das Nações Unidas, a ONU, e salientam que esse notável avanço social se deu, “principalmente após 2005”, com o programa “Minha Casa, Minha Vida”, do governo Lula, onde a população de mais baixa renda está realizando o tão acalentado sonho da casa própria.
Não é sensato se pensar em sociedade minimamente estruturada, com justiça social e distribuição de renda, se alguns de seus pilares básicos não estão solidamente firmados: saúde, educação, emprego e moradia. E o governo do presidente Lula tem sido impecável na atenção a todas essas áreas extremamente sensíveis do tecido social brasileiro. A tal ponto que a própria ONU reconhece essa profunda transformação no Brasil que todos estamos construindo com solidariedade humana e fé no futuro.
A continuidade do programa “Minha Casa, Minha Vida”, sem sombra de dúvidas, é de vital importância para que tiremos mais vários milhões de irmãos de condições precárias de habitação para casas confortáveis, bem construídas, bastante diferentes do padrão até pouco tempo existente em se tratando de espaço e área útil, além das facilidades de crédito da Caixa Econômica Federal e da imensa cadeia produtiva que se estabelece com o programa que se está implementando. Empresas de construção contratando milhares de trabalhadores em todos os Estados, gerando impostos, movimentando a indústria e o comércio, solidificando o ciclo virtuoso vivido pela economia brasileira na Era Lula, além da entrega a cada dia de milhares de unidades habitacionais nas mais longínquas cidades desse País-continente.
Só Deus sabe a tranquilidade de espírito de uma mãe e um pai de família que podem partir para o trabalho com a chave de sua casa no bolso, sabendo que oferecem à família uma habitação digna, com condições de conforto e de higiene que incidem diretamente na vida escolar, na capacidade cognitiva dos filhos, enfim, no futuro de nosso País.
Lembro-me do velho ditado lá no interior: “quem casa, quer casa”. E nos dias de hoje, grande parte dos atendidos pelo programa da Caixa Econômica Federal são jovens casais brasileiros com filhos menores, que já começam sua vida com a segurança de um lar próprio. E a experiência demonstra que todos os que tiveram acesso aos programas habitacionais, mais cedo ou mais tarde, dentro da modéstia de seus recursos, com as parcas economias da família, conseguiram aumentar a área habitável, construindo mais cômodos, dando mais conforto aos familiares, criando o brasileiríssimo “puxadinho”. Na humildade de nosso povo e com sua capacidade criativa, suas casas populares vão, ao longo do tempo, tomando as feições de vivendas de classe média, com a construção de mais um, dois, três quartos, ou uma lavanderia... Isso é o Brasil mais justo e fraterno pelo qual tanto lutamos!
Mas o programa habitacional desenvolvido pelo governo Lula, e desdenhado em parte ou relegado a plano inferior por administrações anteriores, é financiado por essa extraordinária poupança popular, vinda do esforço do próprio trabalhador, através do FGTS, cujos recursos bilionários movimentam a construção civil e o saneamento básico em nosso País.
Não existe um único caso de reparo ou fracasso no exitoso programa habitacional desenvolvido sem barulho e sem propaganda pelo governo Lula. Foi preciso que a ONU reconhecesse que 10 milhões de brasileiros deixaram as favelas e vivem em condições bastante melhores, exercendo sua cidadania em plenitude, para que a imprensa internacional noticiasse mais essa vitória de um governo que erradicou a fome, o desemprego e caminha a passos largos para fazer o mesmo com o analfabetismo em nosso Brasil. Isso é a mobilidade social e o nascimento de um novo País.
Existe uma tendência, defendida e executada inclusive nos países europeus, de que não pode “confinar” a população mais simples em bairros distantes, ou construir conjuntos habitacionais sem estruturas de vida comunitária próprias (recreação, comércio local, educação e saúde, transporte fácil, áreas de lazer). Pois o “Minha Casa, Minha Vida”, sem qualquer alarde, só aprovou projetos que contemplassem condições assim, de habitação humanizada, com um panorama estrutural exatamente como aquele que os bairros de classe média de países da Europa possuem. Ou a popularidade do presidente Lula e a altíssima aprovação de seu governo não são fruto de uma gestão correta e competente?
O Brasil sediará uma Copa do Mundo de Futebol e será sede das Olimpíadas e os olhos do mundo estarão fixados num País que sempre exportou talentos e beleza. Vamos mostrar aos que nos visitarem e aos que nos assistirem via satélite, um Brasil muito melhor, bastante mudado, onde ainda existem favelas, palafitas, mocambos e alagados. Mas já não é lá onde a maioria de nossos irmãos mais humildes vive com suas famílias. E até lá, com certeza, será muito menos ainda.
Porém, muito mais importante do que isso, é saber que a cada novo ano do governo de transformações sociais do presidente Lula, milhões de brasileiros têm um teto, uma casa própria, trabalham em paz, deixam seus filhos em segurança em boas escolas, se sentem mais cidadãos, amam mais o País em que nasceram e que está sendo menos injusto para com eles.

Delúbio Soares .

Deseja comentar o texto? use o blog ou o dihitt.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Um olhar sobre a solidão



Segundo um estudo da Universidade de Chicago, o sentimento de solidão, ao longo do tempo, aumenta a pressão arterial em pessoas acima de 50 anos. Amparado pelo National Institute on Aging e a Fundação John Templeton, o estudo mostra, pela primeira vez, a relação direta entre solidão e aumento da pressão sanguínea. De acordo com a equipe, liderada por Louise Hawkley, participaram do estudo 229 pessoas com idades entre 50 a 68 anos, que faziam parte de um estudo de longo prazo sobre o envelhecimento.
De acordo com a pesquisa, durante o estudo de cinco anos foi verificada uma ligação nítida entre os sentimentos de solidão notificados no início do trabalho e o aumento da pressão arterial durante esse período. “O aumento associado com a solidão não era observável até dois anos no estudo, mas depois continuou a aumentar até quatro anos mais tarde”, disse Hawkley. A pesquisa mostrou que mesmo as pessoas com níveis moderados de solidão foram atingidas, e entre todas da amostra, as solitárias tiveram a pressão arterial superior que seus semelhantes socialmente mais realizados.
A apreensão das pessoas quanto ao sentimento de solidão pode ser a razão do aumento da pressão arterial. “A solidão é caracterizada por um impulso motivacional para conectar-se com os outros, porém com um medo de avaliação negativa, rejeição e decepção”, disse Hawkley. “Nós supomos que as ameaças aos sentimentos de proteção e segurança em relação aos outros são componentes tóxicos da solidão, e que a hipervigilância sobre essas ameaças pode contribuir para alterações no funcionamento fisiológico, incluindo a pressão arterial elevada.”
Os pesquisadores analisaram a possibilidade de que a depressão e o estresse pudessem ser fatores que justificassem a hipertensão, mas descobriram que eles não explicam completamente o aumento na pressão sanguínea entre pessoas solitárias acima de 50 anos.
Nos Estados Unidos, a pressão arterial elevada é a principal causa de cerca de 18% das mortes no país. Chamada de “ameaça silenciosa”, a hipertensão tem poucos sintomas, e como a solidão, às vezes não é fácil de detectar. Mesmo as pessoas que têm muitos amigos e uma ampla rede social podem se sentir solitárias se suas relações forem insatisfatórias, disse Hawkley.
No editorial da edição especial n° 22 da Revista Mente e Cérebro, a editora Gláucia Leal utilizou a metáfora dos porcos-espinhos, retirada do livro O mundo como vontade e representação de Arthur Shopenhauer, o que achei conveniente reproduzi-la aqui: “Um grupo de porcos-espinhos perambulava num dia frio de inverno. Para não congelar, os animais chegavam mais perto uns dos outros. Mas, no mesmo momento em que ficavam suficientemente próximos para se aquecer, começavam a se espetar com seus espinhos. Para fugir da dor, dispersavam-se, perdiam o benefício do convívio próximo e recomeçavam a tremer, o que os levava a buscar novamente a companhia uns dos outros – e o ciclo se repetia: a luta para encontrar uma distância confortável entre a dor e a proximidade.”
Não é difícil perceber que a maioria de nós age como porcos-espinhos. Um metro quadrado de área total de uma residência em condomínio horizontal, com mais conforto, garagem ampla, lazer privativo, maior segurança e amplo espaço, custa em média metade do valor do metro quadrado de um apartamento na mesma região, com menos privacidade, garagem estreita e acesso complicado, menos conforto, pouco espaço, lazer coletivo e menor segurança. Ao mesmo tempo em que essa estatística é uma comprovação de que estamos fugindo da solidão, percebemos também a presença do paradoxo de Shopenhauer. Nos silenciamos dentro e fora dos elevadores, nas garagens, nos corredores e nas áreas comuns das nossas moradias em prédios residenciais. Que desconforto é esse, que por mais benéficos que sejam os relacionamentos, nos atrapalhamos diante deles?

Renner Cândido Reis.
Quer comentar sobre o texto? Fique a vontade.

CONCORRÊNCIA PASCAL



Aproxima-se o final do convênio dos coelhos para animal símbolo da Páscoa. O Criador dá sinais de que pode não fazer outra renovação automática. Com tais rumores, os exemplares do Diário Oficial se esgotam rapidinho. E, de acordo com o Edital, para participar dessa concorrência animalesca é preciso cumprir uma exigência prévia: não estar em vias de extinção – sabe como é, os contratos com o Senhor são longos. Cumprida a premissa, basta à espécie encaminhar um envelope com breve arrazoado defendendo os motivos para ser, dali em diante, a nova alegoria de fertilidade. Tive acesso a algumas propostas. Revelo com exclusividade.

Ratos de Páscoa.

Nós, ratos, pleiteamos o cargo de animal símbolo da Páscoa por sermos tão ou mais férteis do que os coelhos. Além do mais, somos mais numerosos. Muitos de nós prestam relevantes serviços à ciência (ratos tão brancos quanto os tradicionais coelhinhos). Com adequado trabalho de marketing, revertemos fácil qualquer imagem negativa – vide os cases do Topo Gigio, Stuart Little, Ratatui e, claro, do Mickey. Periodicamente, podemos promover a integração Ocidente/Oriente via Ano do Rato do calendário chinês. Por fim, temos o apoio de grupos econômicos de peso (Disney) e somos mais onipresentes do que MacDonald's.

Galinhas de Páscoa.

Nós, galinhas, nos candidatamos ao cargo de animal símbolo da Páscoa por atender plenamente o critério da fertilidade. A proximidade com o homem e a continuidade da espécie são garantidas por larga criação em cativeiro. Além do mais, nosso macho, o galo, já participa ativamente da vida cristã, tendo uma importante missa batizada com seu nome. O primo peru, só para ficar nas motivações familiares, representa com dignidade a classe das penosas no Natal. A pomba, na celebração da paz. Porém, o maior diferencial de nossa oferta é a extinção do dilema dos pais em época pascal: explicar o porquê do coelho se ele não põe ovos.

Formigas de Páscoa.

Nós, formigas sindicalizadas, reivindicamos o direito de galgarmos o posto de verdadeiro e único animal símbolo da Páscoa (tema de Ação Trabalhista em curso). Afinal, desde o começo da tradição de se oferecer presentes de origem alimentícia, mui especialmente chocolate, já fazemos parte da festa de modo informal e clandestino. E somos vítimas de perseguição e morticínio nessa jornada. Denunciamos, também, que os coelhos ganham sem trabalhar: a criança chega no ninho e nunca, jamais encontra um só roedor. Mas, se vacilar, lá estaremos nós, as diligentes formigas. Centenas de nós. Milhares! Logo, sobre fertilidade, nem precisamos falar.

Bicho-Preguiça de Páscoa.

Sabemos que fertilidade não é o nosso forte. Tampouco botamos ovos. Somos encontrados somente em florestas tropicais. Não temos nenhum elo com o Cristianismo além do fato de sermos filhos de Deus (e até Ele duvida). Por nós, ficávamos aqui bem quietinhos, cuidando para não sumir do mapa junto com o as matas nativas. Mas existe um lobby de pais para que nos candidatemos ao cargo de animal símbolo da Páscoa. Motivo: quando a data se avizinha, as crianças surtam, o comércio enlouquece, a imprensa exagera, a Igreja diz que nada disso tem valor sem Cristo no coração e eles, os pais, são tomados por uma súbita, fértil e imorredoura preguiça...

Rubem Penz.

Comente o texto, participe!!!


quarta-feira, 24 de março de 2010

Jovens acorrentados



Não me causaram estranheza os dados apresentados em reportagens da mídia brasileira sobre o excessivo número de assassinatos de menores de idade nas regiões metropolitanas. Jovens que estão perdendo a vida nessas cidades cada vez mais violentas. E não estranhei porque percebo que boa parte dos nossos jovens – na Capital e no interior também – está sem perspectiva de futuro. Por absoluta falta de opção de estudo, lazer e trabalho, os jovens acabam perdendo a esperança num amanhã melhor e com isso escancaram as portas de suas vidas para as drogas, delitos e crimes. Sem falar, claro, no incentivo que a impunidade, a pobreza e a desagregação familiar geram nessa rapaziada. Percorrendo a periferia das grandes cidades e os municípios mais pobres do país, percebi a existência de duas situações preocupantes. Sem perspectiva de um futuro digno, as adolescentes engravidam e se tornam mães cedo demais ou partem para o mundo da prostituição. Já os rapazes se viciam em drogas e partem para a marginalidade com o objetivo de manter o vício. Essas duas situações acontecem com bastante frequência, e o mais grave é que, quando elas acontecem, pegar o caminho de volta é quase que impossível.
As famílias que tentam evitar que seus jovens destruam suas vidas não têm apoio algum no poder público. Há raríssimas exceções e um louvável trabalho de entidades filantrópicas que não conseguem atender a crescente demanda. Nesta semana mesmo, a TV mostrou uma avó que precisou acorrentar o neto dentro de um quarto para que ele não fosse para a rua em busca de drogas. O garoto – já viciado em crack – tem apenas 13 anos de idade. Acorrentar o neto foi a saída encontrada por essa avó, cansada de bater de porta em porta atrás de tratamento. Se tivesse dinheiro conseguiria ajudar o neto. Mas quem trabalha de dia para comer à noite não tem condições de pagar tratamento particular. Sem ajuda do poder público, a corrente e o cadeado colocados no tornozelo do garoto foi a solução que essa avó encontrou para impedir que o neto morra nas mãos dos traficantes. Como condenar essa senhora se ela também é uma vitima da ineficiência e omissão do poder público? Casos como esse são mais comuns do que a gente imagina e refletem o desespero que toma conta das famílias carentes cujos filhos e netos buscam nas drogas e no crime o futuro que a educação não lhes deu. É a falta de perspectiva de vida. A chance de tornar real o sonho. Chance que a sociedade nega a esses jovens que acabam se entregando aos vícios e à marginalidade. E mesmo quando acordam, uma segunda chance lhes é negada porque a instituição Estado não possui estrutura que ofereça tratamento digno a esses jovens cidadãos. Só restam a eles, então, duas alternativas: as correntes, que aquela avó colocou no neto, ou o fundo do poço e da vida. Precisamos quebrar essa corrente. Já passou da hora dos governos municipais, estaduais e federal encontrarem uma forma de dar “luz” e esperança aos nossos jovens ou, no mínimo, criar uma instituição que possa devolver aos que se perderam nas drogas e no crime, a dignidade para recomeçar. Sem isso, vamos ter de continuar assistindo avós desesperadas e abandonadas pelo poder público acorrentando os netos para que não se entreguem às drogas e à criminalidade.

Humberto Aidar.

Comente, participe!!!

terça-feira, 23 de março de 2010

A função dos impostos




Há uma disfunção no modo como a questão tributária tem sido tratada no Brasil que tem contribuído para tornar a estrutura de impostos cada vez mais complexa e também para a paralisia do processo de instituição de um novo modelo tributário para o País. Essa anormalidade refere-se à tendência dos tributos serem vistos como instrumento para o atendimento de inúmeros desejos da sociedade.


Visões românticas enxergam nos tributos a expressão do espírito cívico do cidadão. Humanitários passaram a acreditar que a única forma de distribuir renda e riqueza é através da tributação punitiva dos mais eficientes. Economistas e líderes políticos buscam nos impostos, ou na isenção deles, o caminho principal para estimular o desenvolvimento. Ecologistas e sanitaristas usam o sistema como forma de proteção ao meio ambiente e de punição aos infratores. Planejadores urbanos e regionais utilizam-no como mecanismo de indução para o controle espacial das atividades econômicas. Defensores da reforma agrária querem a tributação corretiva dos latifundiários. Os exportadores querem câmbio competitivo pela cobrança de tributos dos investidores externos e assim por diante.


Em suma, todos procuram no sistema tributário a solução para seus problemas. Em 2001, o então secretário da Receita Federal, Everardo Maciel, afirmou: “Isso serve apenas para demonstrar que o debate sobre matéria tributária pode tomar rumos imprevisíveis, ditados por razões fortuitas ou motivos insondáveis.”
No artigo “Impostos e paradoxos”, publicado na Folha de S.Paulo em 28/4/98, o professor da Universidade de Harvard, Mangabeira Unger, abrange a necessidade de se resgatar a função fiscal do sistema tributário, afirmando que a visão acadêmica desdobra-se em meio a “ilusões edificantes e tranqüilizadoras”, mas “o mundo é selvagem e obscuro”. O autor afirma que mesmo impostos indiretos, e porque não cumulativos, podem “gerar muito dinheiro com pouco desarranjo econômico” e que o essencial é gerar “dinheiro para o Estado investir no social”.
A ênfase na extra-fiscalidade dos tributos, ainda que legítima, vem se sobrepondo aos objetivos fiscais, tornando o sistema tributário brasileiro pouco funcional em sua função essencial que é a de arrecadar recursos para financiar o Estado. Além disso, enxergar nos impostos o meio de satisfazer metas que não sejam prioritariamente a geração de receita pública cria uma estrutura tributária de elevado custo, ineficiente, corrupta e indutora das mais variadas formas de evasão.
É necessário resgatar a função arrecadatória dos impostos. É um ponto de partida para a necessária simplificação do sistema e que poderia destravar o processo de reforma tributária no país. Os demais objetivos do Estado podem ser atingidos através de outros meios à disposição dos formuladores de política econômica, tais como subsídios, transferências diretas, punições pecuniárias, compras governamentais, regulação e até mesmo intervenções diretas.


Marcos Cintra é doutor em Economia pela Universidade Harvard (EUA), professor titular e vice-presidente da Fundação Getulio Vargas (www.marcoscintra.org).

Se quiser comentar, fique a vontade.

segunda-feira, 22 de março de 2010

O DESEJO



Se um homem for sincero, verdadeiro e puro, talvez, um dia, quem sabe?, confesse para a mulher o que sempre desejou dela. Não será tarefa fácil. Alguma coisa em nossa carga genética, na sabedoria (burrice?) ancestral, induz os homens a jamais declararem o mais recôndito desejo à companheira, o qual nem ousa lembrar. O desejo que, quando atendido, de tão magnífico, de tão significante, parecerá pedir demais. E, pela envergadura, transformar-se no último desejo.

Aliás, para quem critica a simplicidade dos machos, temos aqui um paradoxo masculino: como pode vir a ser o último, aquele desejo jamais confesso? Ele estaria, isto sim, mais adequadamente classificado como primeiro desejo. Por isso, quando o homem encontra a mulher de sua vida, aquela que aceita sua corte e, de permissão em permissão, torna-se sua esposa, projeta nela a pessoa capaz de, na hora certa, cumprir com seu maior desejo. O problema é: existe a hora certa? E, ela chegando, haverá coragem para a revelação?

Esta constante repressão faz muito mal ao homem. Ela é presença firme em sua vida. Toda vez que ele olha para a mulher no fundo dos olhos, mas no fundo mesmo, fundíssimo, e puxa o ar para enunciar seu desejo, algo lá no fundo diz: não peça! E o homem nunca sabe ao certo se a misteriosa voz veio do fundo dela, ou estava no fundo de si. De uma maneira ou outra, recua. Adia. Volta a conviver apenas com a promessa de talvez, um dia, quem sabe?, dizer o que verdadeiramente quer. É quando ficamos mudos diante delas – nem sorrindo, nem chorando, nem nada. Tipo, abobados.

A pior notícia ainda está por vir: homem que é homem desconfia de que a mulher sabe o que ele guarda trancado na garganta, mas jamais se antecipará ao seu pedido. Ela deixa, ardilosamente, ele a cozinhar em fogo brando. Faz tudo para manter a crença de que, pedindo, será atendido. Principalmente por saber o quão difícil será para o homem proceder com sua confissão mais reveladora. Age como quem blefa: pouco se importa com o jogo que tem nas mãos, ou se estará apta a atender, enfim, ao desejo. Sua aposta é a de que, na hora H, o homem corre da mesa. Ganha sem revelar-se.

Em uma reunião de amigos homens – na volta da churrasqueira, no vestiário do campo de futebol, na mesa de bar – pode haver quem proclame: minha mulher faz tudo aquilo que eu peço. Será festejado, sem dúvida. Elas não costumam ser assim tão generosas. Cada vez menos, diga-se de passagem. Dependendo do teor alcoólico, da intimidade ou da falta de vergonha, o falastrão poderá desfilar detalhes capazes de fazer corar uma freira. Ou se gabará por ter uma vida de Paxá: ao som de suas palmas, coisas incríveis acontecem. A alegria, na certa, terminaria se um gaiato fizesse a pergunta fatal: mas, nesse tudo, está tudo mesmo? Claro que ninguém questiona. Estragar a festa, para quê?

Porém, embriagado por uma aflição inexplicável, desde que comecei a escrever, o fiz disposto a abrir o coração. Dar uma de Jesus Cristo e me imolar por todos nós, homens. Morrer (atenção que é metáfora, se acontecer algo comigo não usem esse texto como carta de adeus) para libertar a todos de seus pecados. Ou, no caso, sonhos. Jogar a dádiva no ventilador! Ainda agora, nas últimas linhas do derradeiro parágrafo, brilham as teclas capazes de revelar o secreto desejo dos homens. Vou ao sacrifício na esperança de que a amada me atenda, constrangida pelo testemunho dos leitores? Ou me calo outra vez? Força: desde a primeira hora do dia, estive com a impressão de que era agora ou...

Rubem Penz.

Deseja comentar? Use o blog ou o dihitt.

Vergonha nacional



A cada telejornal apresentado, notícias de nosso cenário político nos causa repulsa, principalmente no tocante às imagens que insistem em colocar em loco a verdadeira face de determinados homens públicos escolhidos por nós.


Foi em quatro paredes como percebemos nas imagens, as nobres e justificáveis atitudes do governador, de alguns parlamentares e assessores do Distrito Federal pegando consideráveis quantias em dinheiro e guardando em várias partes do corpo. Até parece a retrospectiva do mensalão do PT, mas agora o PT agora assiste de camarote o DEM se explicar diante de várias acusações, ou melhor, o DEM não, o excelentíssimo governador do DF.
Sentado no sofá assistindo um telejornal, lendo uma manchete do jornal ou até nas rodas de conversas de amigos o assunto de corrupção no meio político sempre é presente, e quase sempre as opiniões são unânimes, onde uma pergunta sempre reverbera: estão presos os políticos por arrancarem deforma covarde o dinheiro que todos nós pagamos em forma de impostos? Podemos dizer que o Arruda seria um bom exemplo, lembrando que sua prisão só foi decretado por ele tentar subornar com dinheiro um jornalista, pois se ele não tivesse tomado tal atitude talvez estivesse amargando dias e dias de protesto a favor de seu afastamento.
“As imagens não falam por si”, assim proferiu o nosso querido e “popular” presidente Lula, numa luta incessante de tentar ser neutro mesmo diante de uma vergonha nacional, mas estamos acostumados às metáforas que sempre insiste em ser neutras . “A Polícia Federal vai investigar e Justiça condenar”, finalizando o presidente em sua declaração. Será mesmo que com tanto privilégio dentro da lei (foro privilegiado), esse nobres políticos irão mesmo ficar detrás das grades por muito tempo. A prisão de Arruda veio tarde, ainda bem que a justiça resolveu agir.


Nós temos uma grande parcela de culpa, quando escândalos envolvendo políticos criam notoriedade na imprensa, porque somos nós que os colocamos no poder, então temos que nos policiar quando utilizar nosso instrumento de democracia (o voto). Não podemos esquecer picaretagens feitas por nossos representantes, pois só lembramos de asfalto feito, de casas doadas e assim segue.
Tem um político muito conhecido pela célebre frase “rouba, mas faz” e que suas administrações foram marcadas por denúncias de lavagem de dinheiro, superfaturação de obras públicas, segue relação, ou melhor, segue denúncias. Que por ironia do destino ficara preso por pouco tempo, mas depois veio a público dizer que todas as denúncias contra ele foram caluniosas. É o conhecidíssimo “dr.” Paulo Maluf, de tão conhecido se tornou até verbo, “malufar”. Ainda bem que nossa língua portuguesa é viva e sempre cabe um neologismo para “eufemisar” os ladrões que usam paletó e gravata. Claro que não estou falando do Maluf, pois nada foi comprovado ainda perante a “Justiça”.


Infelizmente atitudes de desonestidade não estão restritas ao DF, todos os Estados tem políticos bandidos, mas também temos bons políticos que cumprem realmente seu papel nos representando e nos defendendo. Quando vemos pessoas excluídas da sociedade passando por dificuldades, passando fome, com carência de saúde, educação e social, pode ter certeza se somasse todo dinheiro desviado, vários problemas estariam solucionados ou pelo menos quase solucionados. Muito do que se arrecada se perde em ações corruptas de gestores não compromissados com o povo.
Temos que acreditar sempre, “porque somos brasileiros e não desistimos nunca”, que bons políticos possam sempre estar nos representando, e que os maus fossem sempre lembrados por nós eleitores, pois 2010 está chegando e mais um pleito está por vir. Por isso nosso voto tem uma força tremenda, e na hora de escolher nossos representantes, que ponhamos na balança o passado de cada um e depois confirmar com o verde, verde para tudo siga de forma transparente e honesta.


Esperaremos a punição desses inesquecíveis políticos que brincam de esconde-esconde com o meu, o seu, o nosso dinheiro. Tomara que a carreira política de Arruda finde com essas inúmeras denúncias, e que não tenha volta triunfante como teve o Collor e Maluf. O tempo passa, só espero que leve junto a memória dos caros eleitores.

Eduardo Castro da Silva.

Comente, participe!!!

domingo, 21 de março de 2010

Loucos no hospício



Ao ler o que um bando de loucos anda aprontando contra os cidadãos me questiono, como advogada, acerca da impunidade e da não responsabilidade de seus responsáveis. Hoje em dia, se eu for proprietária de um cachorro e o mesmo atacar uma pessoa, passo a ser punida pelos atos dele.
Assim, se tiver um filho que não pague pensão alimentícia aos seus dependentes eu, como avó, tenho de arcar com este ônus. Agora, se tiver um filho louco, como aquele que agrediu o designer Henrique de Carvalho Pereira, de 22 anos, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, ou ainda, como esse celerado e drogado que acabou de matar o cartunista Glauco e seu filho e que em fuga baleou um guarda rodoviário, qual a responsabilidade dos seus pais no caso?
No meu entender, é a mesma como no exemplo do cachorro ou da pensão alimentícia. Alguém tem de ser responsável pelo insano, bem como arcar com os seus atos, pois se o maluco já tinha algum antecedente e se o drogado já havia aprontado alguma coisa, ambos deveriam ter sido tirados do convívio da sociedade há muito tempo e internados num hospício público ou privado. Esses doentes deveriam ser denunciados às autoridades e o Estado deveria ser obrigado a mantê-los em alguma instituição para preservar os cidadãos.
Sei que quem estiver lendo este artigo irá pensar que eu é que estou louca por assumir publicamente minha opinião, além de julgar que não sou humanitária e que não estou nem ai com os direitos humanos. Ledo engano! Sou sim muito humana quanto aos direitos humanos, defendo sim os direitos dos cidadãos normais, que trabalham, têm família e que estão no gozo pleno das suas faculdades mentais.
Para os loucos assassinos e para os drogados insanos, sou a favor do hospício, da banida lobotomia, da prisão ou mesmo, em último caso, da pena de morte, pois acredito que para alguns, infelizmente, esta é a única solução, já que existem seres que jamais terão conserto e a morte seria um grande alívio para eles mesmos, para a sociedade e até para seus familiares e responsáveis, que permitem que esses insanos causem tanta dor e sofrimento a outras famílias ao não assumirem o ônus de ter filhos doentes e que precisam de tratamento, pois senão terão mesmo de pagar pela sua omissão.

Sylvia Romano.

Opine, participe!!!

O líder político ideal




O líder político ideal deve reunir algumas características que o distingam verdadeiramente como homem político em posição de poder.
Em primeiro lugar, deverá exercer liderança. Ou seja, que tenha a capacidade de liderar, que tenha em essência o espírito de chefia.
Essa liderança não se aprende nos livros, mas deve ser conquistada ao longo de anos, a partir de uma trajetória de realizações, marcada pela retidão moral, coisa que a cultura política acostumou-se a chamar de ética.
Além da capacidade para exercer liderança, o líder precisa conhecer um mínimo de administração, ainda que tenha colhido bons resultados como síndico do prédio em que mora ou da pequena empresa que dirige e que, pela capacidade de administrar conflitos e driblar dificuldades, resiste a um bom número de anos.
A liderança pode ser algo que obteve durante bom período de tempo ao lado de pessoas que comandou e das quais conquistou popularidade, confiança e respeito pelo bom exemplo que sempre deu. Coisas como garra no trabalho, lealdade, espírito de equipe, o constante desejo de crescer, a partir de metas para obter resultados cada vez mais positivos.
O líder não precisa ser culto, mas deverá ser sábio e mirar-se sempre em exemplos de homens vencedores.
Deve ser popular, sem se deixar cair para o populismo, que é a vistosa máscara da demagogia.
Para isso, deverá não se deixar trair pela vaidade excessiva nem acreditar em tudo o que ouve, principalmente quando parte dos bajuladores que costumam estar à volta, como a mosca azul que insiste em rondar o banquete para tirar vantagem da porção que apodreceu.
O líder, se não puder calçar os chinelos simples da humildade, que pelo menos faça do comedimento uma regra de viver.
Que paute suas palavras sempre pelo que considera como verdade, mas que não se esqueça que cada um tem a verdade que sua janela apresenta. Que se lembre sempre de que o público que o elegeu líder, por mais simples, não é bobo e dificilmente se deixará enganar mais de uma vez.
Que jamais fale em público aquilo que poderá trazer-lhe desconforto na intimidade.
Que busque ter gosto pela cultura, por um ambiente sadio que, por extensão, possa ser o espírito que poderá nortear ações que resultem no bem estar da comunidade.
Esse desejo equivale a renunciar a considerável porção do egoísmo que em geral mina o espírito humano e conduz à insanidade do proveito pessoal sobre o bem público.
O líder deve ser um leitor crítico do mundo, a partir da realidade que o rodeia.
Deverá ser um perspicaz observador, daqueles que capta desde as coisas simples do cotidiano aos detalhes e pontos obscuros dos grandes empreendimentos.
Precisa criar o hábito de ler bons livros, pois eles sempre contêm algo que lhe poderá ser útil na carreira de homem público e na vida como um todo.
Esse homem talhado para liderar deve desconhecer o medo. Somente assim será capaz de ousar, pois é a ousadia o principal impulso que leva a realizações.
E são as realizações que marcarão a passagem e moldarão o nome e a imagem de líder.
Por isso, o líder, em vez de escolher as obras físicas grandiosas, superficiais e ocas de significado prático, deverá dar preferência por aquelas que lhe moldem a lembrança por séculos, se for preciso, pelo alcance dos benefícios que elas causem ao maior número possível de pessoas.
O líder deve ser o homem político em pleno sentido. Que isso signifique, na vida prática, ter serenidade sempre, por maior a tormenta, jamais renunciar ao equilíbrio, medir-se pela sensatez, pela justiça e retidão.
O homem de liderança deve levar uma vida tão natural que jamais tenha do que reclamar ou arrepender-se se for colhido por alguma câmera escondida ou a chamada “câmera indiscreta”.
Significa pensar que a elevação de caráter deve ser algo intrínseco, inegociável, da qual jamais se esconde ou foge.
Claro que o líder, como gente de carne e osso, tem o direito de ser humano e, quando for o caso, indignar-se, esbravejar, protestar, questionar, sem jamais esquecer a medida da sensatez e do equilíbrio.
O líder tem sim o direito de errar, mas que na sua contabilidade de vida, esses pequenos borrões sejam cobertos pelo amplo espectro da obra que realizou.
Pena que essa figura esteja desaparecendo cada vez mais da arena real para um velho quadro, escondido atrás de um armário de um cômodo que abriga coisas esquecidas.

Antônio Lisboa.


deseja comentar? use o blog ou o dihitt.

sábado, 20 de março de 2010

Embriaguez criminosa



Todo dia vemos imagens e estatísticas sobre acidentes de trânsito que não mentem. Imagens de pessoas saindo dos bares embriagadas, cambaleantes, mal conseguem abrir a porta dos seus próprios veículos e saem desnorteadas, atropelam, matam e sequer prestam socorro às vítimas. Outras mostram homem totalmente embriagado trafegando na contramão, matando casal, enquanto outro atropela e mata pai e filho. São indivíduos irresponsáveis e imprudentes que trafegam a cento e tantos quilômetros por hora sem nenhum respeito à vida humana. O retrovisor, para eles, parece ser apenas um brinquedo, um diminuto aparelho em desuso e, sem noção de tempo e espaço, nem sentem que poucos metros atrás abalroaram veículos deixando pessoas mutiladas no meio das ferragens. Noutro canal a TV mostra o corpo de um pedestre estirado na calçada, fora atropelado e não teve a mínima chance de sobreviver. Esses criminosos do asfalto são presos, mas, pagam fiança e ficam livres para cometer mais atrocidades. Alcoolizados, com o cérebro excitado, sem autocontrole, em profundo blecaute mental, seguem velozes pelas ruas e avenidas e nem tem tempo de olhar o mundo que vai ficando para trás e ou mesmo verificar as marcas de seus crimes deixadas nas calçadas e no asfalto negro da morte.
Percebendo a irresponsabilidade da pessoa humana no que tange à direção perigosa em relação à embriaguez assim como a impropriedade do Art. 165 que regulava sobre acidente de trânsito, o legislador editou a Lei 11.275, de 7 fevereiro de 2006, e, ao definir a infração administrativa, a fim de evitar o erro na tipificação dos fatos, omitiu o elemento normativo extrapenal referente ao limite da taxa de alcoolemia, não constando mais a exigência de mais de 6 decigramas de substância etílica por litro de sangue. Assim sendo, de acordo com a nova lei, para a existência de infração meramente administrativa não é mais necessário que o motorista apresente mais de 6 decigramas de substância etílica ou de efeito semelhante por litro de sangue, bastando que dirija veículo automotor “sob influência do álcool ou de qualquer substância entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica”. Há de se ressaltar, entretanto, que em face dos inúmeros acidentes que vêm ocorrendo diariamente no Brasil, essa alteração da legislação não alcançou o seu principal objetivo que era proibir, terminantemente, embriaguez no volante.
Modificou-se a lei, mas, não alterou os resultados, os crimes de trânsito por embriaguez continuam ocorrendo, pois, além de outros mostrados diariamente através da imprensa, semana atrás em plena madrugada, na Avenida 85, uma jovem com a visão libertadora de uma embriaguez, atravessar o canteiro central, invadir a outra pista na contramão e abalroar o seu veículo contra uma banca de revista, destruindo-a. Cambaleante, saiu do carro, chamou o guincho e desapareceu na escuridão da noite sem ao menos dar satisfação ao humilde dono da banca. Então, com tanta imprudência e irresponsabilidade, resta-me deixar aqui um alerta: se a Lei Seca não for aplicada com mais rigor, essa substância etílica continuará embriagando o homem, tornando-o dependente e refém dessa substância maldita.

Vanderlan Domingos de Souza.

Deseja comentar o texto? Faça aqui ou use o dihitt.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Tantas infusões...



Assume contornos de ato reflexo. Tanto quanto lavar o rosto, fazer o café já se tornou uma prática adotada pela coletividade. Hoje, parece Surpreendo-me distraído, preparando o café da manhã. Uma ação que, de tão rotineira, acontecer em cada metro quadrado do planeta. Porém, a banalidade esconde a natureza mágica e ritualística de preparar e sorver infusões. Pior: a pressa sonega dos sentidos toda e qualquer ambição transcendental que, um dia, encantou o homem diante do vapor aromático e do paladar excêntrico.

Há registros que datam a preparação sistematizada de chás no Oriente à época da dinastia Tang. Parênteses: a coincidência com determinado suco em pó pode tanto ser algo a enaltecer em termos de marketing, como a lamentar pelo sabor adocicado da bebida industrializada. Sem incidir em excessos, arrisco-me a elevar o ato de mergulhar ervas, flores, folhas ou raízes em água quente a uma escala global e tempos imemoriais. Afinal, também nossos antepassados africanos, americanos e europeus, de modo mais ou menos organizado, experimentaram suas próprias imersões e usufruíram seus resultados.

O café como nós conhecemos, arábico, nascido da observação de pastores às reações das cabras que comiam a fruta, talvez seja a infusão mais relevante da história. No passado, denominou ciclos econômicos e, hoje, elevado a status de commodity, chega a rivalizar com o petróleo em termos de representatividade no mercado mundial. Nada mal para um líquido escuro incapaz de mover qualquer máquina. No entanto, o que ele proporciona vai muito além da combustão ou da petroquímica: deleite! Além do perfume imbatível e do sabor inigualável, o café ainda oferece como subproduto uma maior disposição – há quem seja movido pela cafeína. Aposto que essa droga lícita até nos deixa mais inteligentes.

No Cone Sul (Brasil, Argentina, Uruguai...), temos outra infusão digna de registro: o chimarrão. Há poucos dias estava, justamente, ensinando meu filho a cevar o mate. Ensinando modo de dizer: ele mesmo afirmou que, na teoria, por observação, já era capaz de montar o chimarrão sozinho. Logo, o que fiz foi apenas lhe dar a oportunidade de preparar a bebida que seria compartilhada por nós. Mesmo aquém do café em termos de perfume e intensidade gustativa, o chimarrão é, para nós gaúchos, a síntese da congregação. Enquanto a cuia roda, os homens são iguais, adquirem um caráter de pertencimento e cultivam a fraternidade. Valores dignos de serem passados para aqueles que estão, justamente, entrando na juventude.

Por falar em legado, jamais podemos deixar de mencionar o valor medicinal dos chás. Quantas dores de barriga foram amenizadas pelo delicioso remédio familiar? Outras vezes, é no amargor da infusão que repousa a solução de nossos males. E, mesmo quando a química contida na água quente em nada contribui para a cura, o carinho de quem oferta um chá pode vir a ser o placebo mais eficaz do mundo – principalmente para os reflexos da dor em nossa alma.

Como estava dizendo, surpreendi-me, distraído, preparando o café pela manhã. Mas – que dádiva! – seu perfume acabou por me libertar das grades da banalidade. Talvez esteja aí a grande importância dos pequenos rituais: nos induzir para além dos movimentos peristálticos ou condicionados. E, no beijo quente da xícara, pelo método mais saboroso: o do prazer.
Rubem Penz.

A cigarra e os brasileiros



Conto da Cigarra e da Formiguinha é antigo, foi escrita pelo grego Escopo, há mais de 2 mil anos, porém muitos ainda teimam em repetir o erro da cigarra.

A situação pelo qual muitos brasileiros passam hoje nos Estados Unidos vai deixar, na melhor das hipóteses, uma lição para o futuro. Economizar em tempos de fartura para aguentar o das vacas magras.

Entre 2000 e 2006 a economia norte-americana possibilitou a muitas pessoas uma vida de luxo, gastança e fartura desenfreada. Tudo era em excesso e não havia limites para nada.

Não havia motivo para pensar em economizar. Carros de luxo, casas enormes, joias, barcos, viagens e tudo que o dinheiro podia comprar era a palavra de ordem.

Até que a crise chegou para acabar com a festa, pegando muitas pessoas despreparadas para enfrentar um período de dificuldades financeiras.

Hoje muitos agradecem por ter um emprego, por estar conseguindo pagar as prestações da casa e colocar comida na mesa. Outros nem isso. As reuniões que acontecem para ajudar famílias em necessidade, escondem uma verdade que poucos gostam de admitir. Não houve controle e não se pensou no amanhã. O dinheiro saía com a mesma rapidez com que entrava.

Aqueles que tiveram a sabedoria de viver uma vida mais contida e guardaram parte do que ganharam, estão enfrentando melhor a atual situação econômica, podendo até mesmo retornar para o Brasil com a garantia de uma excelente renda.

Como toda crise, ela é cíclica e um dia irá passar. Tempos de fartura virão. Mas será que iremos aprender a lição da cigarra?
Será que aprenderemos que não é o tamanho da conta bancária que determina a nossa felicidade?

Uma notícia dada esta semana na ABC News, mostra o exemplo de uma família que vendeu a casa onde morava para comprar outra com a metade do tamanho. O dinheiro que sobrou foi doado para um fundo de assistência às vítimas do terremoto no Haiti. O casal declarou mais tarde que eles não precisavam de uma casa daquele tamanho, e que muitas pessoas poderiam ter comida e remédios com o dinheiro doado.


Um abraço.
Breno da Mata

quarta-feira, 17 de março de 2010

Vão-se os dedos, ficam os anéis!



Vendi minha biblioteca. “Passei nos cobres”, como diria vovó, minha nada robusta coleção de livros, que ao longo de mais de 40 anos foi sendo constituída. Em algumas centenas de volumes, estavam as palavras e as imagens que, junto com o sacolejar da vida cotidiana e as lições dos meus pais e mestres, me fizeram o que eu sou.
O fato, que visto de longe e com a isenção dos indiferentes, poderia ser banal se não fosse chato, me abalou bastante. E em meu socorro vieram vários amigos. Uns com aquelas consolações ineficazes de que em tempos de internet, e-books e downloads, os livros são quase desnecessários. Outros mais eficientes, como Neilton Gomes, um baixinho cuja estatura moral supera a de muitos gigantes que figuravam em minhas estantes, me deram outros livros, como quem dá flores ao enfermo que teve a perna amputada.
Ao contrário de um colega de trabalho, não acredito que as idéias é que movem o mundo. As idéias são como as lâmpadas que iluminam caminhos. Ineficazes sem que alguém as torne concretas. As idéias e os projetos, sem quem os executem, são flatulências intelectuais.
Delas e das boas intenções estão cheios o inferno, o purgatório e o planeta Terra. Até mesmo a divindade, se restrita a uma idéia, se torna um ídolo se tornado ação e concretude se revela Deus. A idéia, sem quem as execute, são como os ventos em alto mar: inúteis, destrutivos até quando não há velas e, principalmente, velejadores para fazer do vento velocidade, viagem, comunicação.
Respeito os ideólogos, mas apenas enquanto ideólogos. Que seria do projeto magnífico de Niemeyer sem os candangos para torná-lo pronto? Quem olha e vê apenas a beleza da obra sem reconhecer a fundamental participação do obreiro, finge se encantar quando está apenas abobado diante do grande. Idéia sem cabeças, braços e corações que as realizem são arrotos de uma mente intestinal abarrotada de imaginação e paranóia, como o estômago dos néscios nas tardes de sábados.
Por isso amava minha biblioteca. Porque os gênios que nela figuravam, mesmo tidos por muitos apenas como mentes férteis de idéias, celeiros de inventividade, eram mestres que ensinavam, como Cristo, que a fé sem a obra concreta é superstição, que a palavra sem o exemplo é blasfêmia e que o discurso sem uma atitude coerente é bazófia, pura e simples. Com meus livros, foram para os sebos a raiz, o caule e as folhas, mas ficaram os frutos e sementes que vivo tentando degustar e fazer germinar.

por Ton Alves.


Deseja comentar? use o blog ou o diHitt.

ALGO DE ESTRANHO NO AR



Não sei ao certo, mas estou com um ligeiro pressentimento de que algo de errado está prestes a acontecer na vida dos brasileiros por causa de toda essa dissimulação política de homens que se elegeram para o Senado e a Câmara dos Deputados. A cada dia a situação fica mais embrulhada e confusa e a gente não tem como esconder o temor de que um tipo raro de ditadura está sendo articulado nos bastidores do poder. É só acompanhar o noticiário dos últimos dias, na televisão, no rádio e nos jornais. Então, é preciso que a sociedade fique atenta e se mobilize para não permitir que mais uma vez roubem os nossos sonhos e calem a nossa voz.
Os trabalhadores não têm mais como esconder a sua indignação e revolta diante de fatos e situações perigosas ameaçando os seus ideais de honra e de cidadania. O presidente Lula, que diz estar na melhor fase de seus governos, parece não ter observado que os altos índices de aprovação não estão realmente assim e que a maioria do povo continua prisioneira das incertezas em razão das intimidações emergindo cada dia mais ferozes e radicais vindas de todos os cantos do País, inclusive lá do Congresso Nacional. É fácil perceber que os abutres de plantão estão sobrevoando os céus do Planalto à espera de uma catástrofe na terra que pretendem arrasada. Num dia ele diz que não sabia que o “apagão aéreo” iria acontecer e, no outro, afirma que sabia de tudo desde o ano de 2002. E aconteceu o que todos já sabem.
Estamos, na verdade, com sérios problemas nas áreas de saúde, educação, de economia e na de segurança pública que nem o tal do PAC será capaz de resolver. Na segurança, a situação é quase de calamidade pública, com o governo atordoado diante da falência de seu aparelho policial e o estabelecimento de um Estado paralelo e marginal desafiando a Justiça e as leis. E até a Força Nacional de Segurança no Rio de Janeiro. O Congresso continua apático e opaco e não se tem notícias de que alguma coisa tenha sido feita para implantar bases seguras e eficientes para evitar que os corruptos continuem corruptos e que a roubalheira assuma proporções imensuráveis. Ninguém será punido e quem estiver na berlinda de uma blindagem política e partidária perdulária continuará no exercício de mandatos que deveriam ser cassados sumariamente. Mas, infelizmente, até o STF parece estar do lado de todos eles.
É justificável a revolta dos trabalhadores e dos poucos homens sérios que ainda resistem às tentações do dinheiro fácil para vender, comprar e subsidiar despesas na aquisição de emissoras de rádio e de televisão, de fábricas de cerveja e de frigoríficos para pagar milionárias pensões à filha e à mãe-amante. É justificável a revolta dos trabalhadores e dos poucos homens sérios que ainda resistem às agressões dos aproveitadores, principalmente quando vem à memória a lamentação inscrita no diário de D. Pedro II, que considerava a noção do dever uma obrigação e não admitia ser louvado por isso. Limitava-se a exigir dos outros a honestidade. “A falta de zelo, a falta de cumprimento do dever é o nosso primeiro defeito moral. Muitas coisas me desgastam, mas não posso remediá-las, e isso me aflige profundamente. Se ao menos eu pudesse fazer constar geralmente como penso! Mas, para que, se tão poucos acreditariam nos embaraços que encontro para fazer o que julgo acertado? Há muita falta de zelo e, para a maioria, o amor à Pátria é uma só palavra. Ver onde está o bem, e não poder concorrer para ele senão lentamente, é um verdadeiro tormento para o soberano que tem consciência”. É, realmente, existe algo de estranho no ar.

WALTER JUNQUEIRA

terça-feira, 16 de março de 2010

Privatização da Vale – Um dos maiores crimes da história.



A privatização da Companhia Vale do Rio Doce constituiu-se como um crime contra a nação e o povo brasileiro. Em 1997, ano da privatização, alguns renomados juristas impetraram uma ação popular para tentar impedir o leilão da Vale. Assinaram esta ação Celso Antônio Bandeira de Mello, Goffredo Carlos da Silva Telles, Dalmo Dallari, Fabio Konder Comparato e Eros Grau, dentre outros. Na ação, pediam a suspensão do leilão para que se evitasse “... o ato ilícito, gravoso ao patrimônio público, atentatório à moralidade administrativa e antipatriótico”.

Cito esta Ação Popular para deixar claro que a privatização da Vale não foi só um ato imoral, executado pelo governo neoliberal de Fernando Henrique Cardoso, mas também um ato ilegal.

A CVRD foi vendida por 3,3 bilhões de reais, sendo que, somente no segundo trimestre deste 2007, ela teve um lucro líquido de 5,8 bilhões de reais. Entre 1998 e 2006, os lucros da Vale superaram os 40 bilhões de reais, sem considerar a inflação. Hoje, o patrimônio da Vale está estimado em 129 bilhões de reais.

A Vale detém concessões de lavra e autorizações de pesquisa em diversas áreas do País, sendo boa parte na Amazônia, perfazendo um total de 16 milhões de hectares (quatro vezes o Estado do Rio de Janeiro).

Na época da privatização, suas reservas incluíam 41 bilhões de toneladas de ferro (suficiente para exploração durante 400 anos), 994 milhões de toneladas de níquel, 67 milhões de toneladas de caulim, nove milhões de toneladas de zinco, 1,8 milhão de toneladas de urânio, um milhão de toneladas de titânio, 510 mil toneladas de tungstênio, 60 mil toneladas de nióbio e 563 toneladas de ouro (dados extraídos do próprio edital do leilão).

O presidente Lula, durante as eleições de 2006, afirmou que foi um erro a privatização da CVRD, atribuindo a responsabilidade ao governo do PSDB. Passadas as eleições, o presidente não mais se manifestou sobre o assunto. Ora, se foi um ato ilegal, imoral, lesivo ao patrimônio público, já passou da hora de Lula (quase cinco anos de mandato) tomar uma atitude e recuperar esse patrimônio, que é do povo e estratégico para o País. E cabe ao Judiciário jogar na cadeia os responsáveis por esse crime, a começar por FHC.

Na primeira semana de setembro, será realizado um plebiscito popular nacional, em que o povo vai opinar sobre a reestatização da Vale do Rio Doce. Este ato faz parte da campanha “A Vale é Nossa”, organizada por mais de 60 entidades (CUT, Conlutas, MST, etc.).

É necessário que reestatizem a Vale e responsabilizem, criminalmente, aqueles que, contaminados pela visão neoliberal, vendem o País.

Elias Vaz .

Comente, participe!!!

segunda-feira, 15 de março de 2010

A violência e a educação



A mobilização nacional contra a violência é um imperativo do turbulento momento que estamos vivendo. O Senado e a Câmara Federal têm se esforçado no sentido de amenizar o problema da violência no Brasil e aprovaram diversas propostas que aumentam o rigor no combate à criminalidade. É do senador Demóstenes Torres a sugestão de dar aos Estados da Federação autonomia para legislar sobre segurança pública. Relator de vários projetos que prevêem a redução da maioridade penal, hoje de 18 anos, o parlamentar goiano propõe limite de 16 anos, considerando que a violência no País deve ser tratada com medidas rigorosas em vários setores. Sua idéia é também a de se promover a educação de qualidade em tempo integral, que pode contribuir para evitar que as nossas crianças ingressem no mundo do crime.


Muita razão assiste ao senador Cristovam Buarque ao defender uma revolução que começa pelo próprio conceito de revolução, por ele classificada como “revolução doce”, em que não se modifiquem regimes econômicos e procure-se obter um capital sintonizado no futuro através da educação. “Tem alguma coisa errada neste País – acrescenta. Esperava que, no século 21, tenha passado uma hora discutindo projetos para não dar incentivos a quem explora o trabalho escravo. A gente precisa de uma revolução e não de medidas paliativas que não levam a nada.”


A Ordem dos Advogados do Brasil, guardiã da lei e da ordem democrática, manifestou-se contrária à proposta de tratamento diferenciado de jovens a partir dos 16 anos que cometerem homicídios ou crimes hediondos. A Comissão de Direitos Humanos da respeitável instituição critica a atuação dos órgãos responsáveis pela detenção de jovens infratores e por não agirem como determina o Estatuto da Criança e do Adolescente, ou seja, atuando na profissionalização dos internos, propiciando-lhes alternativas ou qualquer tipo de amparo.
Muitos no Congresso Nacional preconizam uma política diferenciada dentro do sistema socioeducativo, embora não acreditem que o nosso sistema penal tenha condições de construir uma atenção particularizada. O senador Cristovam Buarque assinala que há no Brasil uma “sociedade de castas”, formada por incluídos e excluídos, eis que as pessoas não se tratam como semelhantes e o País vive um “apartheid” implícito. Na sua opinião, só a educação é a única forma de se enfrentar a situação, mas como essa mudança seria a longo prazo, ele sugeriu que, em alguns casos, os adolescentes mais violentos sejam tratados de maneira diferenciada. Também ele estranha que no Brasil se comemora o fato de 95% das crianças estarem matriculadas no ensino básico, quando deveria lamentar que 5% não estejam.


O fato é que precisamos com urgência solucionar esse problema. A violência avança por todo o território nacional e a insegurança da população está cada vez mais a exigir providências enérgicas e imediatas do governo. É dramática a situação nacional no que diz respeito à formação moral de nossas crianças, que estão freqüentando agora o ensino básico. Mais grave ainda é a da saúde, pois os médicos reclamam melhores salários compatíveis com o seu exercício profissional e o governo diz que não há como atendê-los. Há necessidade de mudanças na legislação da Segurança Pública, medidas que protejam o Estado Democrático de Direito e, em conseqüência, a vida e dignidade das pessoas. Uma agenda preventiva à violência poderia ser adotada pelo governo e, sem tardança, investir mais na educação e na saúde dos brasileiros, sobretudo aqueles carentes que imploram uma salvaguarda para o seu futuro.

José Luiz Bittencourt

domingo, 14 de março de 2010

Toda infidelidade é burra



Pesquisadores ingleses colocaram mais um tijolinho na muralha que divide os homens entre fiéis e infiéis. Agora, de acordo com os números apurados, os comportadinhos tendem a ter um QI mais elevado do que os peraltas. Em outras palavras, a inteligência seria um traço mais frequente nos rapazes monogâmicos. Ou, sem perder a graça, fica revogada aquela máxima que diz: duas cabeças pensam melhor do que uma. Pela nova lógica, a sabedoria repousa em não dar ouvidos aos argumentos sempre muito urgentes da cabeça pélvica, má conselheira contumaz. Parênteses: estranhamente, tal relação não apareceu entre as mulheres pesquisadas.

De modo tão instantâneo quanto o nascimento da exceção quando proposta a regra, surgiram piadas assim que anunciaram o resultado da curiosa pesquisa. As primeiras que ouvi: burrice é trair e ser flagrado; homem inteligente jamais admite que trai (nem mesmo em pesquisas); tudo não passa de uma conspiração dos chifrudos para desqualificar os amantes da esposa. Outra foi indagar a legitimidade dos ingleses e norte-americanos para servirem de parâmetro quando o tema é sexo, o que faz muito sentido... E a melhor de todas: homem inteligente não trai a esposa porque é solteiro! A enorme repercussão da pesquisa prova, sem dúvida, o sucesso que é debater nossa sexualidade.

Nessas todas fiquei com algumas dúvidas: estaria a fidelidade tão desprestigiada nos dias de hoje a ponto de precisar outra virtude associada para enaltecê-la? Ou, ainda pior, um homem casado assumiria a fidelidade não por ser o correto em termos éticos, e sim para contemplar a opção mais racional? Valeria mais escapar de um divórcio oneroso do que corresponder verdadeiramente a um juramento de lealdade? Quando a (re)pressão sexual se distende, o senso comum aponta justamente para o caminho contrário, ou seja, anormal é aquele que fica de fora da festa, da orgia. Periga ter safado se comportando melhor por pura malandragem!

Eu, muito particularmente, continuo fiel a minha teoria que divide os homens e as mulheres nos grupos com e sem vergonha. De acordo com ela, os com vergonha são fiéis por natureza e total incompetência para agirem de outra forma. Se pularem a cerca, ou serão flagrados, ou terminarão confessando para aplacarem a torturante culpa. Já os sem vergonha ‒ que fazer? ‒ não traem por maldade: apenas respondem a uma verdade pessoal. Para eles, para elas, casos extraconjugais não representam necessariamente uma traição. Sexo e compromisso estão em gavetas separadas. Enfim, contrariando a pesquisa, a fidelidade estaria muito mais ligada aos traços de personalidade, anteriores ao casamento ou namoro, do que aos níveis de QI.

Porém, correndo sérios riscos de parecer moralista, quando um pacto de confiança existe, assinado ou não, considero toda infidelidade burra. Afinal, desobedecer regras ‒ romper compromissos ‒, sempre implica sanções. Por mais que existam justificativas (e elas sempre existem), quem trai perde a causa. Para escapar dessa armadilha, a única saída é o diálogo. No momento em que ambos refazem os pactos, casos extraconjugais deixam de ser deslealdades. Antes disso, ou quando isso não é possível, o traidor estará sempre constrangendo, ferindo e humilhando a pessoa amada.

Opa! Agora a vaca foi para o brejo: inventei de falar de amor no final da crônica. Logo dele, que tem o poder de tornar irrelevante o embate entre o instinto e a razão...

Rubem Penz.

Deseja comentar, então deixe sua opinião sobre o assunto.

O unobtainium é nosso



O crítico de cinema da revista The New Yorker David Denby flagrou duas das ironias de Avatar. O filme é, ao mesmo tempo, contra a tecnologia – máquinas de guerra supersofisticadas são derrotadas por arcos e flechas com a ajuda espiritual da Natureza – e o mais empolgante exemplo de tecnologia avançada que já se viu no cinema. E é um filme abertamente, panfletariamente anti-imperialista que está batendo recordes de renda onde quer que o império do cinema americano alcançou, em muitos casos tendo liquidado culturas locais. Como disse o diretor James Cameron aos seus pares quando recebeu o Globo de Ouro por Avatar: “Gente, nosso trabalho não é o melhor trabalho do mundo?” É um trabalho à prova de contradições.

Cameron confia tanto no poder embasbacador do seu filme que não se dá o trabalho de entrar em detalhes. Nunca se fica sabendo o que os habitantes de Pandora e os avatares respiram através daqueles narizes achatados, já que oxigênio não é. E nunca fica claro por que o tal mineral “unobtainium” é tão importante para os invasores terrenos, a ponto de justificar o massacre dos nativos. Como o mineral não é identificado, fica-se autorizado a substituir “unobtainium” por “petróleo” para reforçar a analogia anti-imperialista. E para não haver dúvidas, no filme há uma rápida referência a outra invasão americana quando alguém comparara a tática que será usada contra a resistência nativa ao choque e espanto, “shock and awe”, nome dado as primeiras operações no Iraque. Os vilões do filme não são exatamente as forças armadas americanas, são mercenários pagos por empresários predadores para fazer seu trabalho sujo. Os vilões são a estupidez de uns e a ganância dos outros. Vilões conhecidos. Fora a tecnologia sofisticada, diz o filme, o século 23 repete o século 20. Pensando bem, repete todos os séculos de conquistas imperiais desde o 16º.

Jake Sully, o avatar que adere à resistência nativa e acaba liderando-a, é um herói também à antiga. Não falta, na sua exortação ao seu novo povo, o punho levantado e a frase desafiadora: “Esta terra é nossa”. Só faltou, mesmo, dizer: “O unobtainium é nosso!”

O que eu achei do filme? Achei sensacional.

Luis Fernando Verissimo.